Universidade Federal de Minas Gerais

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Izabel Passos: visão inclusiva

Pesquisa analisa a relação de moradores de rua de Barbacena e Prados com a loucura e os loucos

quarta-feira, 16 de junho de 2010, às 7h47

Tarola, morador de rua, era figura ilustre em Prados, município mineiro localizado na região do Campo das Vertentes. Presença garantida nas rodas de conversa na praça, foi uma das poucas pessoas não vinculadas à igreja a serem veladas na matriz. O fato de Tarola ser portador de transtorno mental era um detalhe que não atrapalhava seu convívio com os demais moradores da cidade.

A história, contada pela professora e pesquisadora Izabel Friche Passos, chefe do Departamento de Psicologia da UFMG, integra o livro Loucura e sociedade: Discursos, práticas e significações sociais (Editora Autêntica), que reúne pesquisas realizadas em Prados e na vizinha Barbacena. Izabel Passos coordenou os dois estudos, que tinham, segundo ela, o objetivo de “identificar a maneira como os moradores das duas cidades se relacionam com a loucura e com os loucos”.

A opção por Barbacena chega a ser óbvia, pois a cidade é bastante conhecida pelo grande número de instituições psiquiátricas. “A história que a cidade foi vivendo com essa cultura da internação levou a população a desenvolver uma relação de certo receio com a loucura”, explica Izabel. A outra escolha foi feita pela razão oposta: “Prados, por outro lado, é uma cidade conhecida por não internar seus loucos. Existem muitas histórias de loucura nas famílias, até mesmo de um padre e de um professor”, relata a pesquisadora.

As pesquisas e entrevistas com moradores das duas cidades revelaram valores e práticas que permeiam o cotidiano dos portadores de transtorno mental e dos que estão à sua volta. “Em Barbacena, existe um tabu muito grande, com associação muito forte à ideia de doença, que leva até à desqualificação do louco”, conta Izabel.

Em Prados, ela identificou uma visão mais inclusiva. “Acho que lá aparecem mais as idiossincrasias dos indivíduos. Não é qualquer pessoa, é aquela pessoa que está ali ao seu lado. Isso passa evidentemente pela solidariedade coletiva, até ligada à religiosidade, a uma cultura de que você tem que proteger o próximo”, afirma.

Para Izabel Passos, o que foi percebido em Prados é decorrente de uma convivência típica de cidades do interior, onde ainda existe um valor de responsabilidade pelo outro. “Na maioria das cidades, as grandes principalmente, isso está se perdendo. As pessoas estão ficando mais individualistas e acham que qualquer problema do outro deve ser resolvido pelo governo ou por profissionais”, avalia.

Evolução na abordagem
Desde que se começou a fazer uma discriminação diagnóstica da doença mental, com Philippe Pinel, no final do século 18, os portadores desse tipo de transtorno passaram a ser tratados em hospitais específicos. Isolamento e medidas punitivas eram pilares da terapia, já questionados na época. “Constata-se desde o início que os hospitais psiquiátricos mais provocam a doença do que a cura. No começo do século 19, já encontramos documentos de psiquiatras questionando a própria instituição do manicômio”, aponta Izabel Passos.

Em um contexto de desenvolvimento dos direitos humanos, no período pós-guerra, movimentos em prol de uma psiquiatria mais humanitária ganharam força. Correntes surgidas na França e na Itália tiveram, segundo Izabel Passos, grande influência no Brasil, o que despertou o interesse da pesquisadora para tomá-las como objeto de estudo em seu doutorado. O resultado de sua tese foi publicado no livro Reforma psiquiátrica: as experiências francesa e italiana, pela Editora Fiocruz.

Fortemente pautada pela psicanálise, a corrente francesa aprofunda o debate sobre a “atenção psicossocial”, conceito associado a uma perspectiva mais humanística de tratamento. “Eles enxergam que o papel do médico deve ser o de ajudar o doente a se recuperar do sofrimento que o atinge. A compreensão do que o paciente sente e pensa toma importância”, relata Izabel. Outro avanço da experiência francesa foi o fato de a reforma psiquiátrica ter sido planejada e implantada nacionalmente.

O movimento pela “psiquiatria democrática” na Itália teve como maior representante o psiquiatra Franco Basaglia, que propunha um modelo radical, com o fechamento dos hospitais psiquiátricos. “Ele considerava perversas essas instituições, por arrancarem a subjetividade dos pacientes, tirando deles possibilidades de trabalho, criação, lazer, diversão. Basaglia via ali um esvaziamento da vida dessas pessoas”, afirma Izabel. Em Trieste, na década de 70, Basaglia conseguiu concretizar sua proposta, com a substituição dos hospitais psiquiátricos por centros de saúde mental espalhados pela cidade, voltados principalmente para a reabilitação e a inserção social.

Os conceitos e experiências desenvolvidos nos dois países foram inspiradores em vários aspectos para a reforma psiquiátrica no Brasil. A legislação atual já indica, por exemplo, a substituição dos hospitais por Centros de Atenção Psicossocial, assumindo postura mais humanitária e inclusiva no tratamento psiquiátrico.

(Edição 1699 do Boletim UFMG)

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