Multicultural, a maior democracia do planeta, com mais de um bilhão de habitantes, pode servir de inspiração para a solução de problemas relacionados à inserção de grupos de migrantes nos países da União Europeia, por exemplo. A Índia abriga cerca de 140 milhões de muçulmanos (pouco mais de 12% da população) e, salvo período de fundamentalismo hindu, vive situação de tolerância religiosa. O tema tem sido estudado pela mestranda em Sociologia Daniela Sampaio, que fará apresentação nesta quarta-feira (30 de junho), durante a Jornada de Estudos Indianos: Aspectos Socioculturais, que será realizada na Faculdade de Letras (Fale) da UFMG. A promoção é do Centro de Estudos sobre a Índia (CEI). Segundo a pesquisadora, a ausência de manifestações de fundamentalismo islâmico por muçulmanos indianos é um dos sintomas da boa convivência. Outro sinal importante é o fato de muitos muçulmanos terem permanecido na Índia na época das separações que deram origem ao Paquistão e a Bangladesh, na década de 1940. Daniela Sampaio credita a tolerância que reina entre os grupos religiosos na Índia sobretudo a determinadas características do hinduísmo. “Apesar da separação das castas que marca a sociedade hindu, ela alimenta uma autoimagem de tolerância, o que ajuda a orientar sua ação coletiva e talvez explique a derrota dos partidos fundamentalistas hindus nas últimas eleições nacionais. Além disso, é uma religião que não trabalha com a noção de conversão, eles acreditam que se nasce hindu e aceitam verdades diferentes quando se trata de fé”, afirma Daniela, que viveu quatro meses na Índia e pretende explorar o tema em sua pesquisa de doutorado – o mestrado tem foco na presença de muçulmanos na França. Peso político A pesquisadora acredita que o estudo das relações de convivência religiosa e social num país como a Índia pode ajudar a entender as razões de problemas como os que têm acontecido em países europeus e até questões que permeiam a vida em sociedades tidas como tolerantes, como a brasileira. “Assim como a Índia, acho que talvez o Brasil possa ser usado como referência, tomando-se como ponto de partida aspectos como o sincretismo religioso”, diz Daniela Sampaio. Ela lembra que os muçulmanos governavam a Índia antes da colonização pelos ingleses, e que na França, por exemplo, eles começaram a chegar em meados do século passado. “Isso talvez explique as dificuldades de assimilação pela sociedade francesa, em que não pode haver vínculo mais forte que aquele do indivíduo com o Estado”, acrescenta a mestranda da Fafich. "Na Índia, o individualismo é suplantado pela vinculação comunitária."
Os muçulmanos são proporcionalmente mais pobres que hindus e cristãos – 43% deles vivem abaixo da linha de pobreza –, mas têm influência política significativa, já que o voto das minorias tem peso para a formação de coalisões. “Os direitos políticos são exemplo do tratamento que os grupos minoritários desfrutam na Índia, onde ações afirmativas beneficiam os grupos vulneráveis, como os dalits (intocáveis) e as populações tribais”, comenta Daniela Sampaio.