Vegetação com ocorrência em biomas diversos – da mata atlântica ao cerrado e à caatinga – e de valor econômico significativo para as comunidades de seu entorno, as matas secas têm característica peculiar: grande parte das árvores perde toda a folhagem no período de seca, o que confere à paisagem aspectos muito distintos dependendo da época do ano. As matas secas são alvo de pesquisas que já duram quatro anos e envolvem universidades brasileiras, entre elas a UFMG, e estrangeiras, como a Universidade de Alberta, no Canadá. E estão no centro de uma grande polêmica. Contra argumentos de cientistas e ambientalistas, a Assembleia Legislativa de Minas aprovou recentemente lei que, em linhas gerais, permite a derrubada de grandes porções das matas secas no Norte do estado, em favor da exploração de atividades como a agropecuária. Efeitos do clima “Buscamos padrões comuns entre essas áreas e outras de ocorrência das matas secas nas Américas, como no México, Costa Rica, Cuba e Venezuela”, revela o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Financiado pela americana National Science Foundation e pela Fapemig, o projeto tem participação, entre outras, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Nacional Autônoma do México. Ele revela que os estudos e a defesa das matas secas no Norte de Minas têm incomodado grupos interessados na flexibilização da legislação, e já houve ameaças de morte a pesquisadores do projeto. Geraldo Wilson Fernandes manifesta também a convicção de que a entrada em vigor da lei como foi aprovada na Assembleia de Minas terá repercussão internacional negativa. “Há consenso no mundo todo sobre a importância das matas secas para a preservação da biodiversidade”, ele justifica, acrescentando que “não serão os mais pobres os beneficiados por uma lei mais permissiva e pela destruição das matas secas do Norte mineiro”. A região em que ocorrem as matas secas, uma das mais pobres do estado, tem cerca de 120 mil quilômetros quadrados e 1,5 milhão de habitantes.
Segundo o pesquisador Geraldo Wilson Fernandes (foto), coordenador do Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade da UFMG, determinados critérios permitem afirmar que as matas secas representam cerca de 47% das florestas tropicais. “No Norte de Minas, elas estiveram protegidas por muitos anos porque eram consideradas parte da mata atlântica, e esta definição está para ser alterada”, explica Fernandes. “Mas é uma vegetação com grande biodiversidade e que abriga muitas espécies vegetais e animais endêmicas. Do ponto de vista ecológico, há justificativas suficientes para inclusão dessas florestas no bioma mata atlântica.”
Geraldo Wilson Fernandes é um dos coordenadores do projeto Florestas Secas Tropicais, que envolve mais de 200 pesquisadores em sítios na Paraíba, no Norte de Minas (Parque Estadual da Mata Seca, em Itacarambi) e na Serra do Cipó. O objetivo central é analisar efeitos das mudanças climáticas, sob aspectos como biodiversidade, solos, segurança alimentar e formas de utilização do sistema pelas comunidades.
Uma das vertentes do projeto Florestas Secas Tropicais é o desenvolvimento de sensores de monitoramento ambiental. Estações sem fio colhem dados climáticos e indicam comportamentos como aqueles ligados à absorção de gás carbônico. “O impacto das mudanças globais já pode ser sentido empiricamente: os períodos de seca estão mais longos, e a diminuição das chuvas provoca estresse das plantas e torna o sistema mais sujeito ao fogo”, explica Geraldo Fernandes.