A dinâmica entre a linguagem, que constrói sentidos e imagens, e os sujeitos que a utilizam em suas interações constitui-se como objeto específico para o campo da comunicação social. Ao longo de 15 anos, é esta a abordagem que orienta as atividades do Grupo de Pesquisas em Imagem e Sociabilidade (Gris), vinculado ao Departamento de Comunicação Social da UFMG. Os achados metodológicos e os conceitos desenvolvidos durante esse período serão apresentados em um curso de metodologia de pesquisa em comunicação, oferecido pelo Gris nesta semana para professores e pesquisadores da área. Em entrevista ao Portal UFMG , a professora Vera França, coordenadora do grupo, fala sobre os métodos de pesquisa na área da comunicação. A pesquisa em comunicação se vale de uma grande diversidade metodológica. Em algum aspecto, isso pode ser prejudicial para os estudos nesse campo? Pelo contrário. Eu acho que essa diversidade metodológica é um fator de enriquecimento. Para ser bem fiel à questão, não existem métodos específicos da comunicação: nós trabalhamos com métodos oferecidos pela sociologia, pela história e pelas diversas ciências da linguagem. O que existe é uma construção metodológica em função de uma abordagem comunicativa. É claro que é um desafio trabalhar com esses diferentes procedimentos, pois essa diversidade às vezes implica formações diferenciadas e outras dificuldades, mas eu vejo isso mais como uma possibilidade de maior complexidade da leitura. Por que a discussão sobre metodologia está sendo levantada atualmente no Gris? A discussão sobre metodologia no Gris é permanente. Já desenvolvemos sete projetos integrados, inúmeras monografias, dissertações, teses, e essa reflexão está sempre presente. Você diz que os achados do Gris não constituem uma revolução metodológica. Que avanços então você apontaria? O Gris, como é apresentado no próprio nome, é um grupo que estuda imagem e sociabilidade. Portanto, o que realizamos é essa conjugação entre a dimensão da linguagem, das representações e das imagens, e a questão das relações, da presença dos sujeitos interlocutores. Acho que o nosso avanço é no sentido de uma construção metodológica mais complexa, em um esforço para cruzar esses dois aspectos. O Gris estuda objetos de diferentes naturezas, como internet, impressos, televisão. O que é aproveitado dessa pluralidade? A gente de fato trabalha com objetos muito diferenciados. A diferença não é só entre os três subgrupos [PontoGris, que trabalha com interações telemáticas; GrisPress, que pesquisa mídia impressa, e GrisPop, com maior ênfase em televisão e produtos midiáticos de cunho popular], mas até dentro desses subgrupos os objetos são os mais diversos, vão da televisão às conversas no centro da cidade.
A novidade agora foi a ideia de oferecer um curso para fora do Gris, para a comunidade. Isso é o resultado dos nossos 15 anos de história. Nós avaliamos que já temos um saldo acumulado nesse período, alcançamos uma certa maturidade, e achamos que seria quase um uma obrigação disponibilizar um pouco do que essa experiência nos proporcionou.
Não significa dizer que promovemos uma revolução metodológica, mas a nossa experiência é rica e achamos que isso pode ajudar a um público externo. Pensamos especialmente em professores de outras universidades e faculdades, que orientam trabalhos de conclusão de curso, monografias e iniciações científicas, para compartilhar com eles os achados que conseguimos ao longo desses anos.
Essa diversidade é unificada pela abordagem comunicacional, que busca a dinâmica relacional da comunicação. Além disso, acho que o nosso avanço ao longo dos anos vem se dando na construção de alguns conceitos que nos alicerçam. Os conceitos de representações, de narrativas, de sujeitos da comunicação são partilhados no grupo e trabalhados em pesquisas com os objetos mais diversos.