Universidade Federal de Minas Gerais

Ensino médio não está adaptado para receber jovens de classes populares, conclui dissertação de mestrado

terça-feira, 6 de julho de 2010, às 8h01

Até a década de 1990, cursar o ensino médio era praticamente um privilégio das classes média e alta no Brasil. Apenas a partir daquele período, quando se iniciou um processo de expansão de matrículas, as salas de aula do ensino médio começaram a ser ocupadas também por alunos das classes mais baixas. Quase 20 anos depois, no entanto, as escolas ainda não se adaptaram ao perfil desses novos estudantes.

Essa é uma das conclusões da dissertação de mestrado de Fernanda Cristina Soares Silvino, defendida na Faculdade de Educação (FaE) da UFMG. Durante seis meses, ela acompanhou de perto a rotina de uma turma do segundo ano noturno de uma escola pública de Belo Horizonte, a fim de tentar entender a relação entre alunos e professores.

Fernanda Silvino conta que, apesar de o turno da noite ser historicamente voltado para alunos adultos, desde o começo sua intenção era buscar uma turma de jovens, com idades entre 15 e 25 anos. “A faixa etária definida como ideal para o ensino médio é de 14 a 17 anos. Então se você pensar em alunos dessa idade, teoricamente eles deveriam estar no diurno”, comenta.

A ideia surgiu quando ela participou do programa Observatório da Juventude, da FaE, e teve que mediar uma relação tensa entre alunos e professores em uma escola do Alto Vera Cruz. “Era uma turma de ensino fudamental, mas ali o noturno estava ficando cada vez mais jovem, e os professores, por sua vez, acostumados a dar aulas para adultos”, lembra.

Para realizar a pesquisa, Fernanda, no entanto, não queria partir de uma situação de conflito, por isso selecionou uma das escolas públicas de Belo Horizonte com melhor nota no Enem. De junho a novembro de 2008, ela assistiu às aulas todos os dias e realizou entrevistas com 25 alunos, além de questionários socioeconômicos e socioculturais com os estudantes. O objetivo da pesquisadora era identificar as classificações dos professores realizadas pelos alunos. “Queria saber quem era o professor ‘bom’, o ‘ruim’, o ‘legal’”, explica. Mas Fernanda descobriu que a tarefa não seria tão simples. “Hoje, o professor é bom, amanhã ele não é. O aluno tem muita dificuldade de falar: esse é bom e esse é ruim”, justifica.

Além da opinião dos alunos, a pesquisadora analisou variáveis como número de alunos em sala durante cada aula, participação dos estudantes e conversas paralelas. Ao fim, Fernanda conseguiu dividir os docentes em três classificações: “bons”, “ruins” e “legais”. “Os legais eram aqueles que não reprovavam no final do ano”, resume. Segundo a pesquisadora, essa conceituação é fruto de uma visão instrumental que os estudantes têm da escola, ou seja, eles não se interessam tanto pelo conhecimento em si, mas pelo diploma, que representa uma perspectiva de futuro melhor.

Enquanto isso, os professores “ruins” eram rígidos e assumiam posição de enfrentamento com a turma. Já os “bons”, na visão dos alunos, eram aqueles que inovavam: levavam recursos diferentes para a sala de aula e propunham trabalhos diversificados. Entretanto, pondera Fernanda, ser um bom professor não significa ter sucesso na sala de aula. “Os alunos reconheciam o esforço desses professores, mas não retribuíam com o próprio esforço”, diz.

Eles querem ser vistos
No início da pesquisa, a professora de matemática era uma das menos estimadas pelos estudantes. Tida como ‘brava’, era ríspida com os alunos. “Mas houve um bimestre em que ninguém ficou com média e ela resolveu dar uma segunda chance”, conta. A atitude fez com que os alunos passassem a gostar da docente, mesmo que ela não tenha mudado seu jeito de ser. “Eles começaram a falar: olha, ela é brava, chata, mas se importa com a gente; ela nos ajudou”, recorda.

Para Fernanda, isso mostra que o principal anseio do estudante é ser visto. “Ele quer que o professor saiba seu nome. Isso foi muito forte e pesou nas classificações”, avalia. Essa constatação, na opinião da pesquisadora, revela que o ensino médio ainda não se ajustou às demandas desse novo público.

O problema se agrava no período noturno. “Estamos assistindo a uma invasão dos alunos jovens no noturno e eles chegam a uma escola que não está preparada para recebê-los”, afirma. Um fator percebido por Fernanda foi que, apesar de a maioria dos estudantes da turma serem trabalhadores, eles precisavam daquele dinheiro não para sustentar a casa, mas para manter sua condição juvenil: comprar roupas, ir ao cinema e frequentar festas, por exemplo.

“O ensino médio foi estruturado para estudantes de classe alta, diferentes de alunos que moram na periferia e trabalham”, pontua, lembrando que estes último, em geral, não têm acesso a professores particulares, a cursos extraclasse ou a recursos como banda larga e livros. “A escola não quer saber da vida do aluno fora de seus muros; ela espera que esse novo público corresponda ao aluno de antigamente, aquele dedicado apenas ao estudo”, conclui.

(Boletim UFMG, edição 1702)

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