No ano de 2007, um dado chamou a atenção do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais: foi registrado crescimento de 131,81% no número de acidentes com veículos da corporação. Diante dessa situação, o Comando Operacional pediu ao seu setor de psicologia que desenvolvesse estudo que analisasse as razões desse aumento repentino. Os resultados dessa pesquisa estão disponíveis na dissertação Quando os bombeiros não chegam: algumas contribuições da psicologia do trabalho para o entendimento dos acidentes com veículos operacionais de bombeiros na Região Metropolitana de Belo Horizonte, defendida pela capitã Andréia Geraldo Batista, que atua como oficial psicóloga do Centro de Ensino de Bombeiros (Cebom). Orientada pela professora Maria Elizabeth Antunes Lima, do Departamento de Psicologia da Fafich da UFMG, a dissertação foi baseada em análise do trabalho dos motoristas bombeiros e no estudo de casos a partir de relatos de acidentes e quase acidentes. “Observamos que há muitos fatores envolvidos na causa dos acidentes, mas não há uma regra geral que determine antecipadamente como eles se combinarão”, diz Andréia. Sobrecarga de trabalho, acúmulo de funções inconciliáveis, longa jornada e pouco tempo de descanso são alguns dos elementos citados pela psicóloga como capazes de influenciar negativamente a atuação dos motoristas, levando ao aumento no risco de acidentes. Causas No caso de Rodrigo, por exemplo, era um dia chuvoso e os pneus da viatura estavam “carecas”. Além disso, o militar foi acionado em uma situação emergencial extrema, que embora comum na rotina do Corpo de Bombeiros, pode comprometer o desempenho do motorista. Para Andréia Batista, o estudo mostra que as condições de trabalho desses militares podem ser melhoradas e a organização do trabalho repensada, favorecendo assim o desempenho da corporação como um todo. Entre as sugestões que ela oferece na dissertação, estão a ampliação do efetivo operacional e a implantação de novas rotinas de trabalho para esses profissionais. “Algumas medidas já foram adotadas e os dados registraram uma queda no número de acidentes de 2007 para cá”, afirma a oficial. “Isso mostra que a valorização do conhecimento científico pode ajudar o Corpo de Bombeiros a melhorar os serviços que presta a comunidade”, conclui.
Um dos casos analisados durante as pesquisas foi o do motorista Rodrigo (nome fictício), que sofreu acidente enquanto dirigia um caminhão da corporação. Na ocasião, Rodrigo, ainda um novato, foi convocado a assumir a condução de uma viatura que não estava habituado a dirigir, devido a um chamado urgente de salvamento. No caminho, perdeu o controle do veículo em uma curva e aquaplanou até bater no meio-fio e capotar.
Para realizar a análise desse acidente, Andréia ouviu toda a história do motorista, de sua infância difícil até a entrada para a corporação, além do relato sobre o acidente. Segundo a psicóloga, isso foi importante para entender como a rotina de trabalho, suas condições e organização, assim como para conhecer as características do envolvido que podem ou não ter influenciado no ocorrido. “O próprio comando do Corpo de Bombeiros costuma relacionar diretamente os acidentes ao comportamento dos motoristas, mas, na verdade, há vários outros fatores envolvidos”, comenta Andréia.