Ficar de cama no hospital é algo que ninguém gosta. Mas o tédio é o menor dos problemas nessa situação. “A partir do terceiro dia em o que o paciente fica acamado, os riscos de trombose já são considerados altos”, afirma Marcos de Bastos, médico hematologista e pesquisador da Faculdade de Medicina da UFMG. Para fazer frene ao problema, ele desenvolveu um modelo que reduz de 60 para oito as variáveis que classificam pessoas com risco ou não de ter trombose e embolia. A trombose é o entupimento das veias por coágulos de sangue. Sua forma mais comum é denominada trombose venosa profunda, ou TVP. Estatísticas internacionais comprovam que a TVP é responsável pela morte de pelo menos um milhão de pessoas, todos os anos, no mundo - sendo cerca de 300 mil nos Estados Unidos e 544 mil na Europa. Estima-se que, a cada ano, uma em cada mil pessoas desenvolva essa forma de trombose ou suas consequências. O entupimento, na grande maioria dos casos, não é letal. O problema se complica quando pedaços de coágulos migram para o pulmão através das veias, causando a embolia. Trombo Os indivíduos com maior risco devem ser cuidados preventivamente. “Se esperarmos os resultados dos exames para só então tratar, já enfrentaremos o problema em desenvolvimento”, observa Suely Meireles Rezende, orientadora da pesquisa e professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade. Para o hematologista, muitos profissionais da saúde ainda não se dão conta da gravidade do problema. “Quando o paciente está internado, os médicos se esforçam em combater a doença principal e se esquecem da tromboembolia”, ressalta. Dados Fatores como imobilização, cirurgia prolongada, restrição prolongada no leito, presença de câncer, varizes de grosso calibre, presença de doença hematológica específica e tipo de clínica de internação no hospital são sugeridos como indicadores de futura tromboembolia. O modelo proposto pelo pesquisador obteve os mesmos resultados do método Caprini, mas ainda são necessários novos meios de aplicação das medidas profiláticas. “Criamos duas novas categorias de pacientes. Então, não podemos usar as mesmas sugestões de prevenção que o Caprini utiliza. Outros estudos são essenciais para tornar a aplicação do modelo viável”, esclarece Bastos. Tese de doutorado: (Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina)
Tromboembolia é o nome dado ao processo todo. “Este é um grande desafio médico: ela pode levar à morte. Um problema de saúde pública maior que a infecção hospitalar”, alerta Bastos. Uma das maiores dificuldades para lidar com a doença é que ela pode não apresentar sintomas. No caso de pacientes hospitalizados, a situação é pior porque eles já estão com a saúde debilitada para se submeter aos exames.
Bastos analisou os dados de 21.158 pacientes do Hospital Naval Marcílio Dias, na cidade do Rio de Janeiro. Os dados foram recolhidos pelo programa de prevenção ao tromboembolismo do próprio hospital entre 1999 e 2001. Com os perfis dos pacientes de 1995 a 2001 avaliados em 2006 a 2010, Bastos comparou os resultados encontrados pelo método já utilizado (Caprini) com sua proposta. “Conseguimos reduzir de três ou quatro categorias de risco, para duas: ou a pessoa tem risco de desenvolver tromboembolia ou não tem. Isso torna o processo mais simples para a equipe médica”, afirma o médico.
Título: Estratificação de risco e profilaxia de tromboembolismo venoso em pacientes hospitalizados
Autor: Marcos de Bastos
Programa: Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto - Faculdade de Medicina
Defesa: 23 de junho de 2010