Uma tecnologia que pode baratear o tratamento de esgoto foi desenvolvida pelo Centro de Pesquisa e Treinamento em Saneamento (Cepts), vinculado ao Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia da UFMG. A pesquisa, coordenada pelo professor Carlos Chernicharo, levou ao desenvolvimento do Rotopack, material suporte feito de polietileno e de bastante aplicabilidade em diferentes sistemas de tratamento de esgoto. A patente do meio suporte foi licenciada com exclusividade para a empresa Rotogine, que financiou parte da pesquisa. A função do Rotopack no processo de tratamento é servir de suporte para a retenção dos microrganismos (bactérias, em geral) que se alimentam da matéria orgânica poluente contida no esgoto, convertendo-a em gases, água e outros materiais limpos, além de novos microrganismos que crescem aderidos ao meio suporte. Em geral, são usadas duas alternativas para cumprir essa função: pedras ou material sintético importado. “Outro problema recorrente na utilização da pedra é a colocação desse material no interior da unidade de tratamento, pois o maquinário utilizado provoca o seu esmagamento e gera grande quantidade de finos (pó de pedra), que podem comprometer a operação do sistema”, complementa. Em oposição às desvantagens da pedra, os materiais sintéticos disponíveis no mercado têm peso bem menor, são confeccionados em tamanho padronizado e apresentam elevada área superficial. No entanto, também têm sua desvantagem: são caros. “O Rotopack cumpre a mesma função dos sintéticos importados e é uma alternativa intermediária em termos financeiros: a pedra tem um custo aproximado de R$ 50/m³, quando o fornecedor se encontra próximo ao local de aplicação do material, enquanto os materiais importados custam em torno de R$ 500/m³. O material que desenvolvemos será comercializado por um valor próximo a R$ 300/m³”. Alta aplicabilidade O material de suporte – como a pedra ou o Rotopack – é utilizado para enchimento dos filtros percoladores, a fim de possibilitar a adesão e o crescimento dos microrganismos, constituindo um filme biológico que realiza as reações bioquímicas de conversão dos poluentes encontrados no esgoto. A versatilidade na aplicação é uma das vantagens do Rotopack, pois o material pode ser usado em estações de tamanhos e configurações variados. “Além de ser um material eficaz e mais barato que os importados, ele pode ser usado como preenchimento em sistemas de tratamento integrados ou separados, em grandes ou pequenas estações, notadamente em locais onde a pedra britada não se encontra tão disponível. Isso gera uma aplicabilidade muito ampla”, avalia Chernicharo.
“A pedra é um material barato, mas muito pesado, o que dificulta o transporte e a colocação no interior das unidades de tratamento. Também é difícil de ser fornecida no tamanho correto, podendo ocasionar problemas de entupimento, além de apresentar pequena área superficial, ocasionando menor retenção de microrganismos”, explica Carlos Chernicharo (imagem).
Os sistemas de tratamento têm grande variedade, em razão dos requisitos locais e da qualidade desejada para o esgoto tratado. Uma modalidade de grande utilização no Brasil é a que faz a combinação de reatores anaeróbios (que empregam microrganismos que não requerem oxigênio) e filtros biológicos percoladores (que empregam microrganismos que necessitam do oxigênio).