As 858 usinas hidrelétricas em operação no país constituem a principal força geradora de energia e, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), são responsáveis por 67% de toda a produção nacional. Parar uma dessas usinas por algumas horas para manutenção rotineira, dependendo de sua capacidade de produção, pode representar perda de milhões de reais e quilowatts. Pensando nisso, pesquisadores do Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos da UFMG (CPH) estão desenvolvendo veículo submersível para inspeção e manutenção de estruturas que se encontram debaixo d’água. “A ideia é criar uma espécie de robô capaz de fazer a manutenção das usinas sem interromper o seu funcionamento, economizando tempo e dinheiro”, explica o pesquisador Paulo Henrique Vieira Magalhães, coordenador do projeto, que recebe financiamento da Aneel e de Furnas Centrais Elétricas. O primeiro protótipo avançado dessa pesquisa foi finalizado e testado recentemente pela equipe de Magalhães com resultados satisfatórios. Construído de forma a ser controlado a distância, o ROV (sigla em inglês usada para designar veículos subaquáticos que podem ser operados remotamente) atinge até 100m de profundidade e é capaz de transmitir imagens para uma central de comando por meio de um sistema de câmeras embarcado. Um software desenvolvido pela própria equipe de pesquisa fica encarregado de tratar essas imagens e melhorar a qualidade dos vídeos. “O veículo conta ainda com um computador embarcado que recebe os sinais da câmera, dos sensores de ‘posicionamento’ e de outros sensores para fazer o balanceamento do sistema e proporcionar estabilidade por meio dos sistemas de atuação (propulsores e flutuação)”, conta Paulo Magalhães. O submersível futuramente será equipado também com um sensor sonar, instrumento capaz de emitir e captar ondas de som na água. As ondas emitidas pelo sonar se refletem no terreno submerso e são captadas de volta pelo próprio aparelho, possibilitando o mapeamento do território subaquático. Todas essas informações adquiridas durante as operações, além de dados técnicos do veículo, ficam disponíveis nos painéis instalados em uma sala de controle, de onde é possível operar o submersível. Segundo Paulo, uma das maiores inovações nos ROV que sua equipe está desenvolvendo é o sistema de controle simplificado. “Estamos trabalhando em ferramentas de operação à distância sensíveis ao movimento do controlador”, revela o pesquisador. “Nosso objetivo é fazer com que elas tornem os movimentos do veículo mais precisos, facilitando sua operação”. Próxima etapa Um dos exemplos usados pelo pesquisador para ilustrar essa nova habilidade seria a limpeza de grades nas usinas hidrelétricas, que podem acumular sujeira e impedir a passagem de água. Com as novas tecnologias implantadas, o próprio ROV seria capaz de realizar o serviço de manutenção, evitando o envio de uma equipe de mergulhadores e a interrupção temporária do funcionamento da usina. Essa nova etapa de desenvolvimento do projeto tem início ainda neste semestre e deve durar aproximadamente quatro anos. Segundo Paulo Magalhães, os principais aspectos a serem trabalhados no novo modelo são: controle, estabilidade, sensoriamento e manipulação. Para auxiliar nas pesquisas, o CPH está construindo um laboratório especial onde serão realizados os testes com o veículo. “O CPH já oferece a estrutura adequada para construirmos as peças do submersível. Com esse novo espaço sendo construído, teremos também uma estrutura melhor para realizar os testes, o que com certeza beneficiará nossa pesquisa”, conclui Paulo.
Como os protótipos desenvolvidos até agora apresentaram um bom desempenho, a equipe do CPH já está preparando um novo veículo mais aprimorado. “Esse próximo modelo será capaz de fazer mais que uma simples visualização. Ele deve vir equipado com braços manipuladores utilizados para realizar manutenção em estruturas submersas”, afirma Paulo.
Veículo subaquático desenvolvido pelo CPH para visualização de estruturas submersas