Universidade Federal de Minas Gerais

Alexandre Godinho
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Canal construído no Rio Madeira, na bacia amazônica, facilitará a realização de pesquisas relacionadas ao comportamento dos peixes

UFMG desenvolve pesquisas para permitir a transposição segura de peixes em áreas com hidrelétricas

segunda-feira, 26 de julho de 2010, às 11h51

O Brasil possui mais de 1.700 hidrelétricas em operação, muitas das quais em Minas Gerais. Ao mesmo tempo em que dão resposta à crescente demanda por produção de energia elétrica, as usinas provocam mudanças ambientais que afetam a dinâmica populacional de peixes, sobretudo daqueles de comportamento migratório, os mais importantes para o consumo humano.

As barragens e os maquinários das usinas causam mortandade e podem interferir, de modo irreversível, na dinâmica de reprodução dessas espécies. A busca por soluções para o problema envolve o esforço de uma rede de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento – das engenharias às ciências biológicas.

Com recursos do programa de pesquisa e desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e empresas do setor, a UFMG desenvolve estudos em duas grandes linhas: métodos para afastar os peixes de áreas perigosas, como turbinas, e pesquisas sobre o comportamento de migração das espécies, com o objetivo de projetar mecanismos adequados de transposição, isto é, que ajudem as espécies a atravessar as barragens e a continuar seu caminho, seja rio acima ou rio abaixo.

“Nossas pesquisas têm gerado teses e dissertações, além de protótipos e experimentos em testes em algumas usinas”, explica o professor Carlos Barreira Martinez, do Departamento de Engenharia Hidráulica da Escola de Engenharia. Entre os estudos recentes do grupo coordenado por Martinez no Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos (CPH) estão os que procuram impedir a entrada de peixes em regiões de riscos em usinas
hidrelétricas, através da instalação de mecanismos que utilizam campo elétrico, bolhas de ar ou luzes estroboscópicas – como as existentes em pistas de dança.

No mesmo departamento, a professora Edna Maria de Faria Viana coordena estudos sobre comportamento de canismos de transposição de peixes do tipo “escada”, além do desenvolvimento de tecnologia para avaliação de características natatórias da ictiofauna migradora brasileira.

Equipe coordenada pelo pesquisador Marco Túlio Correa de Faria, no Departamento de Engenharia Mecânica, também concentra esforços para desenvolver mecanismos que impeçam a entrada de peixes em turbinas hidráulicas. Já no Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Alexandre Godinho estuda o comportamento migratório de importantes espécies para a culinária e a pesca amadora do país, como surubim, dourado, dourada, piau, mandi, curimba e curimbatá. “Todos os projetos são motivados pelo impacto ambiental de usinas hidrelétricas sobre a ictiofauna”, resume Marco Túlio Correa de Faria, ao lembrar que, embora a legislação ambiental brasileira determine a implantação de sistemas de transposição de peixes em hidrelétricas, a maioria das usinas em operação no país ainda não possui esse tipo de sistema.

De montante para jusante
“Muitos peixes já nascem migrando e mantêm esse comportamento em diferentes fases de sua vida e por motivos diversos. Assim, no mesmo ponto de um rio, na mesma época do ano, há espécies subindo e outras descendo”, explica o professor Alexandre Godinho.

A migração contínua e em direções opostas – rio acima (para montante) e rio abaixo (para jusante) – torna complexa a tarefa de elaborar e implantar mecanismos que evitem a entrada de peixes em turbinas e facilitem a transposição. Para Godinho, o maior desafio, no Brasil, é a transposição para jusante.

Seja para desenvolver técnicas que afastem os cardumes das turbinas, seja para ajudá-los a seguir seu caminho, é fundamental conhecer cada grupo e seus hábitos. O salmão, por exemplo, é um peixe de superfície. Quando se aproxima de um barramento e não acha passagem, desce a caminho das turbinas, mas encontra telas que direcionam o cardume para um canal, com passagem segura. Esse tipo de estratégia seria viável no Brasil? “Sim, se nossos peixes tiverem esse mesmo comportamento, o que ainda não sabemos”, comenta Godinho. Segundo ele, entender a migração de uma espécie “depende de anos de pesquisa e de muito investimento”.

Por sugestão da equipe de Alexandre Godinho, foi construído, em uma barragem recém-implantada no rio Madeira, na bacia amazônica, canal com 50 metros de comprimento, com o objetivo de facilitar esse tipo de pesquisa. “Os peixes são capturados, marcados e lançados de volta no canal, para que possamos seguir suas trajetórias”, explica. Uma forma comum de pesquisa é feita por meio de radiotransmissores instalados em peixes, o que permite rastrear seus movimentos nos rios por períodos que variam de dois a quatro anos. “Com isso, temos como saber quando aquele indivíduo sai de um lugar para o outro e onde estão os sítios de desova e de alimentação”, comenta Godinho, ao informar que cada transmissor custa em torno de 350 dólares. “Não fica barato, mas essas pesquisas trazem informações que não se obtém de outra forma”, diz.

Em outra linha de estudo, dissertação orientada por Godinho aperfeiçoou técnica de captura do som subaquático produzido durante a desova por peixes da família do curimbatá, o mais pescado em águas doces na América do Sul. “Com essa técnica, podemos ir a campo nos momentos certos para detectar locais de desova desse grupo
de peixes”, explica o professor.

Barreiras elétricas
Tese defendida por Rafael Emílio Lopes e orientada por Carlos Barreira Martinez estudou a influência de campos elétricos para conter a entrada de peixes nas máquinas hidráulicas. O pesquisador realizou levantamento de eletrossensibilidade de espécies brasileiras migratórias presentes nas bacias dos rios Grande e São Francisco. “Os estudos mostram que peixes reagem à aplicação de campo elétrico de forma diferenciada por espécie e tamanho. Obtivemos dados sobre reação à aplicação de campo elétrico e determinamos, por espécies, o nível de tensão necessário para repelir e paralisar indivíduos”, relata Lopes em sua tese.

Ele comenta que o uso de campo elétrico evitaria o inconveniente causado por telas e grades, já que a técnica não oferece obstáculo ao fluxo de água. Com o intuito de verificar a viabilidade do método, a pesquisa gerou modelo matemático que permitiu a simulação de diferentes configurações, em busca de uma solução segura para os peixes e eficiente para a usina.

Com os resultados obtidos a partir das simulações computacionais foi construído protótipo em escala reduzida, seguindo o perfil do tubo de sucção das usinas. “Os resultados são satisfatórios e mostram a viabilidade do seu uso para afastamento de peixes nas usinas hidrelétricas e em outras áreas de risco”, diz Rafael Emílio Lopes. O protótipo foi tema da dissertação de mestrado defendida por Flavio Nakamura Alves Silva.

“Temos outros trabalhos na linha de proteção ambiental, como o estudo de Luís Gustavo Martins da Silva, para repulsão de peixes utilizando barreiras de bolhas de ar. Também testamos outras técnicas, como barreira com luz estroboscópica e com substância de alarme”, comenta Martinez.

Segundo ele, em praticamente todos os sistemas testados o afastamento dos peixes de áreas de perigo foi bem-sucedido. Apesar dos bons resultados, Martinez acredita que ainda há um longo caminho a percorrer. “Está clara a necessidade de novos estudos sobre a utilização desses sistemas em usinas hidrelétricas”, conclui o professor da Escola de Engenharia.

(Boletim UFMG, edição 1703)

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