A técnica de “cirurgia para controle de danos”, desenvolvida pelo professor João Baptista de Rezende Neto, do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, pode garantir a vida de vítimas de traumatismos. O método mostrou-se eficaz no controle de hemorragias em pacientes vítimas de lesões provocadas por tiro na face. Realizada no Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves (HRTN), a cirurgia é utilizada quando há hemorragias graves, nas quais o controle do sangramento não é conseguido e o paciente apresenta risco de morte. “A cirurgia de controle de danos no trauma é composta de três etapas: na primeira, tratam-se os problemas que provocarão a morte imediata do paciente e interrompe-se a cirurgia. Posteriormente, o paciente é encaminhado ao centro de tratamento intensivo para melhorar as condições clínicas. Na terceira fase, a cirurgia é terminada definitivamente. Nesses pacientes graves, quando a cirurgia é realizada em uma única etapa, a vítima geralmente morre”, explica o médico, que é coordenador do setor de cirurgia e trauma do Hospital Risoleta Tolentino Neves. O procedimento foi descrito no artigo Damage Control Principles Applied to Penetrating Neck and Mandibular Injury (Princípios de Controle de Danos Aplicados para Penetrar Lesões no Pescoço e Mandibular), publicado no Journal of Trauma em 2008. A técnica Para conter a hemorragia, são introduzidos na cavidade da ferida cateteres do tipo Foley, existentes em qualquer hospital. Segundo Rezende Neto, as sondas possuem um balão na extremidade que, quando colocado dentro da ferida e inflado com soro fisiológico, faz pressão nos vasos sanguíneos, estancando a hemorragia. “Após 24 a 36 horas, o balão é esvaziado, a sonda é retirada e o sangue já está completamente estancado”, afirma. Enquanto o procedimento é realizado, o paciente respira por meio de traqueostomia, método pelo qual o ar entra direto na traquéia, utilizado quando não é possível respirar pelo nariz ou pela boca. Na sequência, pode ser feita a cirurgia de reconstrução da face. Conforme relato médico, em todos os pacientes o resultado foi satisfatório e a face pode ser completamente reconstruída. No HRTN, o trabalho foi realizado pelo cirurgião plástico Aluísio Marques, da equipe de cirurgia plástica. (Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina)
Segundo o professor, os pacientes atendidos com tiros na face são, geralmente, homens entre 20 e 40 anos, envolvidos no tráfico de drogas. No “código” do tráfico, usa-se atirar na boca como forma de represália, o que não é raro. Esses traumatismos causam hemorragias de difícil contenção, além de obstruir as vias aéreas, impedindo a passagem de ar. Por esse motivo, os pacientes apresentam risco de morte, o que torna impossível a cirurgia de reconstrução da face.