Mariana Garcia |
A imponência das torres de 23 e 36 andares faz dele um monumento impossível de não ser notado na paisagem belo-horizontina, sendo, inclusive, um ponto de referência para os forasteiros com dificuldades de localização na metrópole. Foi assim, como uma espécie de bússola, que o Edifício JK entrou na vida da jornalista Mariana Garcia. Há sete anos, ela chegou de Santa Maria do Suaçuí, na Região Nordeste de Minas Gerais, para morar a um quarteirão do famoso edifício, localizado na intercessão dos bairros Santo Agostinho e Lourdes, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em 1952, e construído pelo empresário Joaquim Rolla, o Conjunto Governador Juscelino Kubitschek impressionou logo de cara a então adolescente de 15 anos: “Lá cabia minha cidade inteira”. Pois a relação de Mariana com o JK ganhou intensidade e materializou-se no trabalho Minhas sete vidas no JK – dentro do projetado e do vivido, um livro-reportagem de caráter fotográfico-documental apresentado, no mês passado, como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da Fafich. Norte geográfico na adolescência de Mariana, o JK acabou virando também o seu norte acadêmico. No ano passado, carente de ideias para seu projeto de graduação, Mariana voltou a direcionar seu olhar para aquelas torres monumentais. Auxiliada pelo professor e orientador Elton Antunes, a jornalista decidiu retratar o JK por meio da rotina daqueles que o habitam. Ela partiu da observação de que Niemeyer projetara não só a construção, mas também diferentes modos de vida naqueles 13 tipos de apartamentos, que vão de quitinetes a três quartos. Para a análise, a jornalista se debruçou sobre a vida de seis moradores, que ocupam apartamentos distintos. A cada um, dedicou um capítulo do livro, dentro da seção que denominou "biografias do morar". O subtítulo do projeto, "Dentro do projetado e do vivido", ressalta exatamente esse viés do trabalho, que mostra como o espaço modifica a vivência. Intimidade em construção
Cada personagem foi entrevistado três vezes. Com um gravador e uma câmera fotográfica, ela batia à porta daquelas pessoas, então desconhecidas, pedindo-lhes que contassem um pouco de suas histórias. No primeiro contato, o registro fotográfico captava a primeira imagem que se tem ao abrir a porta de um apartamento: a sala. No segundo, os rastros do morador naquele ambiente, e, por fim, um retrato. Assim, o livro caminha num sentido de afunilamento, sempre do abrangente para o particular, de modo a passar a ideia da intimidade que estava sendo construída naquela relação.
O último capítulo, S/N (Sem Número), relata a experiência e as impressões da própria jornalista naquele ambiente. Inicialmente influenciada pelas ideias preconcebidas que fizeram do JK uma espécie de lenda urbana – favela vertical, casa de traficantes e prostitutas, terra sem lei –, Mariana saiu de lá com outra visão. "O prédio é um brinco”, rende-se.