Pacientes com lesões neurológicas que sofrem de incapacidade motora podem se beneficiar com nova técnica de reabilitação baseada na interface A proposta é tema de pesquisa de aluna do programa de pós-graduação em Neurociências, Clarissa Cardoso dos Santos Couto Paz, que desenvolve tese de doutorado junto ao Núcleo de Estudos em Pesquisa e Engenharia Biomédica da UFMG, sob orientação do professor Carlos Julio Tierra-Criollo, do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia. O estudo, que será abordado em mesa-redonda nesta sexta-feira, durante o IV Simpósio de Neurociências, propõe avaliar a influência da ICM baseada em imaginação do movimento sobre a recuperação funcional de pacientes com acidente vascular cerebral que tenha comprometido o movimento de um lado do corpo. “Em termos gerais, ICM é um sistema por meio do qual uma pessoa ou animal envia informações do cérebro para um computador (sistema microprocessado), no qual essa informação é processada e, posteriormente, disponibilizada para controle de um dispositivo externo”, explica Carlos Julio Tierra-Criollo, ao destacar a “surpreendente plasticidade cortical do cérebro”, que possibilita a adaptação às ICMs quando se trata de órteses e próteses. Segundo Clarissa Cardoso, tais indivíduos apresentam dificuldade em executar movimentos devido à lesão neurológica. “Devido à plasticidade do cérebro é possível, por meio da ICM baseada em imaginação motora, reorganizar as áreas corticais comprometidas após a lesão, o que pode melhorar a funcionalidade dos membros comprometidos.” A técnica é uma estratégia cognitiva que pode beneficiar a aquisição de habilidades motoras e a performance funcional de atletas e de indivíduos em fase de reabilitação de lesões decorrentes do esporte e neurológicas. Clarissa Cardoso comenta que em pessoas saudáveis a chamada a imagética motora gera aumento significativo da ativação de estruturas corticais não motoras, mas ainda é pouco explorada com relação a pacientes com comprometimentos motores. Mudança de foco Tierra-Criollo explica que as informações, representadas pela atividade cerebral, podem ser obtidas através de técnicas como a eletroencefalografia, magnetoencefalografia, tomografia por emissão de positrons, ressonância magnética funcional e eletrocorticografia. “Apesar de a pesquisa na área ter avançado consideravelmente, uma ICM continua dependendo, principalmente, da melhoria dos sistemas digitais e processamento de sinais”, comenta o pesquisador, que coordenará a mesa-redonda Neurociências e agentes artificiais, na sexta-feira, 3, às 14h.
cérebro-máquina (ICM).
O professor Carlos Julio Tierra-Criollo informa que as primeiras pesquisas que tinham por objetivo criar ligação entre o cérebro humano e uma máquina, sem a necessidade dos nervos periféricos e músculos, ocorreram na década de 1960, no departamento de defesa dos Estados Unidos. “A tecnologia da época não foi suficiente para produzir ganhos satisfatórios, e a iniciativa foi abandonada”, diz. Atualmente, muitos grupos de pesquisa dedicam esforços ao desenvolvimento da interface cérebro-máquina, sobretudo com a utilização de técnicas não invasivas.