Foca Lisboa
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Estudos conduzidos por pesquisadores da UFMG acabam de incluir nova peça no quebra-cabeça sobre a circulação do vaccinia vírus no Brasil. Causador de doença não letal entre humanos e demais mamíferos – mas sem tratamento específico e de impacto econômico e na saúde pública –, o vírus apresenta evidências de haver se disseminado pelo país na última década. Identificado em focos esparsos desde 1999, sobretudo entre bovinos na região Sudeste, o vaccinia teve, recentemente, sua presença confirmada entre animais silvestres da Amazônia, sem contato com humanos, rebanhos de gado ou outros animais a ele até então associados. A constatação vem de inquérito sorológico realizado por grupo do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade, que resultou em sequenciamento de parte do genoma viral de amostras recolhidas de animais soropositivos, capturados entre 2001 e 2002 por um programa de resgate de fauna, durante a construção de usina hidrelétrica em Lajeado e Ipueiras, estado do Tocantins. À época, foram retiradas amostras de sangue de 344 mamíferos da região – macacos-prego, bugios, quatis, cutias, gambás, tatus, tamanduás e raposas. A primeira análise revelou que 84 deles (ou 24,4%) tinham anticorpos para Orthopoxvirus, gênero ao qual pertence o vaccinia vírus. A maior soropositividade foi encontrada entre macacos – 25,3% dos macacos-prego e 48,1% dos bugios. Além deles, a soropositividade foi identificada apenas entre quatis e cutias. A confirmação de que esses animais haviam tido contato com o mesmo tipo de vaccinia vírus presente em outras regiões do país foi obtida com o sequenciamento parcial e a análise do genoma viral de seis amostras positivas das duas espécies de macacos. De acordo com o estudo, essas amostras eram semelhantes geneticamente às de focos de vaccinia bovina ocorridos no país. Implicações É nessas pequenas bolsas que o vírus se multiplica. Em vacas, podem se localizar, por exemplo, nos bicos das tetas, o que facilita sua transmissão para humanos pelo contato das mãos do ordenhador com as lesões ou, supostamente, por via oral, no consumo do leite. As lesões podem, ademais, se espalhar para outras regiões do corpo, como antebraços, genitais, mucosa oral e olhos, acarretando dor intensa e afastando o indivíduo do trabalho. No Brasil, a maior incidência da doença é verificada em Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Novos focos, no entanto, já foram relatados no Rio Grande do Sul (em cavalos), Maranhão, Mato Grosso e Rondônia. Leia reportagem completa na edição 1709 do Boletim UFMG.
O vírus isolado na UFMG
“Até 2002, vaccinia bovina era restrita à região Sudeste do Brasil, a 1.400 km da área de estudo”, registra Jônatas Abrahão, aluno de doutorado da UFMG e autor do trabalho, observando que a relação entre macacos infectados e o surgimento do vírus nas regiões rurais do Brasil ainda é desconhecida. Apesar disso, hipótese sobre o papel de roedores no trânsito do vírus entre a floresta e as áreas colonizadas tem sido considerada pelos especialistas.
As conclusões do estudo foram publicadas em junho na edição do jornal Emerging Infectious Diseases do Centers for Disease Control and Prevention, o CDC de Atlanta, Estados Unidos. Conforme relatam pesquisadores, a doença associada ao vaccinia produz ulcerações na pele e vesículas extremamente contagiosas.