"O crescimento dos cursos de pós-graduação, do número de pesquisas e de pesquisadores nas diversas áreas, deu lastro acadêmico à Editora UFMG", avalia o professor da Faculdade de Letras Wander Melo Miranda. Há 12 anos à frente da Editora UFMG, o pesquisador revela que, atualmente, metade das obras publicadas é de autores da Universidade. Em entrevista ao Boletim UFMG, ele fala sobre de critérios de publicação e relação com a comunidade universitária. Como a Editora transformou-se em referência entre as universitárias? Que critérios definem o que publicar? Como chegam propostas para publicação? Quais são os grandes projetos? A Editora é autossustentável? Do ponto de vista de qualidade gráfica, em que estágio está a Editora? Por que essa diferença? Como a comunidade da UFMG se envolve com a Editora? O senhor ocupa o cargo há vários mandatos. Pretende continuar por muito tempo?
Tem a ver com o amadurecimento da própria UFMG. O crescimento dos cursos de pós-graduação, do número de pesquisas e de pesquisadores nas diversas áreas, deu lastro acadêmico à Editora. Também foi fundamental a política de publicar autores de fora. A Editora precisava ser forte no cenário nacional. Hoje, metade das obras é de autores da UFMG, a outra metade é publicada por pessoas de fora da Universidade (brasileiras e estrangeiras).
Além da qualidade, todos os livros – de autores da casa ou não – têm de estar relacionados a linhas de pesquisa desenvolvidas na UFMG, abrangendo na medida do possível diversas áreas de conhecimento. Antes a Editora publicava mais na área de Humanidades. Hoje temos coleções de engenharia, educação física, música. Nosso livro mais vendido é Química na cabeça (cerca de 35 mil exemplares vendidos). A Editora diversificou seu catálogo e estreitou laços com a comunidade universitária. Se as pessoas quiserem saber o que a UFMG produz, uma das formas é abrir o catálogo da Editora.
A maior parte é formada por livros encaminhados a partir de projetos da Universidade. Também buscamos autores nacionais e estrangeiros com base em sugestão de colegas e nos eventos. Muitas vezes editoras estrangeiras de autores que já publicamos nos mandam obras novas deles, com prioridade. Para ser aprovado e publicado, um livro demora até um ano e meio. Mas temos uma reserva para publicação de uma obra que precise sair em prazo muito curto.
Não temos, porque há uma rotina de trabalho, as coleções. Faltam recursos para produzir livros de arte, por exemplo. Vamos aumentar o número de títulos, atingir novas áreas. Livros mais elaborados graficamente e mais caros têm sido produzidos em coedições com a Imprensa de São Paulo, a Edusp, a Editora da Unicamp, parceiras na Liga de Editoras Universitárias (LEU).
Até mesmo as editoras comerciais têm apoio, já que são ligadas a grandes grupos e dependem de vendas para o governo. Como subsídio, temos o espaço físico e metade dos funcionários pagos pelo Tesouro – a outra metade é terceirizada. Os recursos que a Reitoria repassa cobrem parte do pagamento de direitos autorais. Para dar lucro, um livro deve ter tiragem mínima de cinco a dez mil exemplares, de cada vez. Mas nós temos que ir com cuidado, porque é imprevisível. Veja o caso de O local da cultura (de Homi Bhabha), que teve sua primeira tradução no Brasil. Imprimimos mil exemplares. Se inicialmente tivéssemos feito oito mil, teríamos tido lucro. Mas e se não vendesse? Nossas tiragens giram em torno de 1.500, dois mil exemplares. Isso considerado, a Editora, hoje, praticamente se sustenta. Com mais recursos, teríamos maior capital de giro e poderíamos reeditar mais rapidamente os livros que se esgotam rapidamente. É preciso que o livro esteja reimpresso um mês depois de esgotado, ou perdemos mercado. Esta questão precisa ser logo resolvida.
Nossa qualidade gráfica equivale à de uma editora comercial. E é diferente do resto da América Latina, mesmo na Argentina e no México, que têm mercados editoriais fortes. O livro adquiriu no Brasil requinte gráfico ímpar. O leitor brasileiro não aceita mais padrão gráfico inferior.
Uma das explicações é que a cultura visual no Brasil é muito forte. Na televisão e nos jornais brasileiros, a parte técnica se compara à dos europeus e americanos. E as máquinas para fazer livro são cada vez mais avançadas. Por isso, é muito difícil que uma editora, mesmo grande, tenha sua gráfica. As máquinas mudam tanto e são tão caras que, para acompanhar, é preciso que a gráfica tenha uma enorme carteira de clientes. É cada vez mais sofisticado fazer um livro, uma revista. Mas é preciso cuidado para não exagerar. Certa vez, Borges {o escritor argentino Jorge Luis Borges} recebeu pelo correio uma edição de luxo de uma obra sua, olhou e devolveu para o portador. “Isso não é um livro, é uma caixa de bombons.” Um livro exageradamente enfeitado não é graficamente bem concebido.
A relação é muito profissional. Os autores sabem que seus originais serão submetidos a avaliação. A comunidade reconhece que trabalhamos sério, que conquistamos a duras penas um lugar no cenário nacional.
Gosto muito desse trabalho, ou não estaria aqui. E meu trabalho justifica minha permanência, os vários conselhos têm indicado meu nome. Uma editora universitária precisa ter continuidade, aquelas que fugiram disso não tiveram sucesso.