As empresas que recebem recursos públicos para processos de inovação não deveriam apenas prestar contas dos seus gastos, mas demonstrar esforço para se tornarem competitivas, dando contribuição efetiva para o desenvolvimento econômico do país. Essa é tese central de trabalho desenvolvido pelos pesquisadores Leandro Alves Silva, Soraia Schultz – ambos ligados ao Cedeplar, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG – e Márcia Rapini, doutoranda em economia pela UFRJ. Envolvidos em estudos que têm como pano de fundo o sistema de inovação, eles produziram artigo – Instrumentos financeiros de apoio à inovação: como é a participação das empresas mineiras – que tem abordagem concentrada no aporte de recursos públicos não reembolsáveis para empresas. O trabalho foi apresentado no último Seminário de Diamantina, em maio deste ano. Projetos beneficiados por esse gênero de financiamento estão naturalmente cercado de incerteza, e o risco de resultados negativos é inerente ao processo. “Uma empresa pode não conseguir desenvolver um produto, ou pode ser superada por uma concorrente, isso faz parte do jogo”, exemplifica Leandro Silva. “Mas nós chamamos atenção para a necessidade de que aquele recurso traga mais benefícios para o país.” Doutorando na Face, Leandro explica que o sistema de financiamento da inovação tem funcionado de forma diferente da economia. Acredita-se, segundo ele, que as medidas de estímulo devem seguir a lógica de que ciência gera tecnologia, que, por sua vez, gera desenvolvimento. Mas não é bem assim. “O modelo não é tão linear e simples. Ele é interativo, e a determinação é mútua. Claro que financiar pesquisa produz desenvolvimento, mas essa é uma parte do raciocínio. Além de dispor de tecnologia avançada, a empresa deve ter competência para atuar no mercado”, afirma Leandro Silva, que estuda atualmente o funcionamento das redes globais de inovação, sobretudo as relações entre filiais e matrizes de grandes conglomerados. 'É preciso avançar’ De acordo com Leandro Silva, é fundamental que se criem instrumentos para avaliar a capacidade das empresas de partir para novas iniciativas, com disposição para buscar empréstimos. Ele defende que as empresas precisam ser cobradas no sentido de tornar-se cada vez menos dependentes do governo. “Elas devem aprender a competir com seus produtos inovadores e não apenas por meio de estratégias ligadas a preços”, prega Leandro. “O recurso disponível não dá resultado por si só. É preciso induzir as empresas a lutar pelo mercado externo, e monitorar sempre.” A situação atual, segundo o artigo de Leandro Silva, Soraia Schultz e Marcia Rapini – que se baseia em dados devidamente explicitados –, leva as empresas a aprender a escrever projetos, e elas acabam vencendo as concorrências por recursos. Nesse sentido, outra sugestão do pesquisador é que se construam mecanismos que melhorem a eficiência dos recursos com vistas ao amadurecimento do sistema de inovação como um todo e não apenas a projetos específicos. Com relação ao panorama em Minas Gerais, os pesquisadores destacam que há descontinuidade das iniciativas e falta de sintonia com a política federal. “É frequente acontecer de recursos da Finep, por exemplo, estarem liberados e haver demora na publicação de editais no estado e, depois, na divulgação de seus resultados”, observa Leandro Silva.
O pesquisador lembra que o Brasil regulou recentemente os estímulos oficiais à inovação, e que foi passo importante a possibilidade de colocar dinheiro nas empresas. Além disso, o aprendizado no setor tem funcionado muito bem. "Não se trata de questionar o que já foi feito, mas é preciso avançar, começar a pensar nos próximos passos”, ele diz.