Os restaurantes populares recebem principalmente homens da classe C. Essa é uma das conclusões de pesquisa que traçou o perfil socioeconômico e demográfico dos usuários desses estabelecimentos em Belo Horizonte. O estudo foi realizado no âmbito do programa de iniciação científica jr. – Provoc da UFMG – pela aluna do Coltec Evelyn Soldati Silva, do 2º ano do ensino médio, e Sabrina Lima Silva, também do 2º ano, da Escola Estadual Professor Francisco Brant. Coordenado pela professora Simone Lisboa Pereira, do Departamento de Enfermagem Aplicada, o trabalho será apresentado durante o evento UFMG Conhecimento e Cultura, que acontece esta semana nos campi Pampulha, Saúde e de Montes Claros A pesquisa constatou que o público dos restaurantes populares apresenta, no geral, idade média de 44 anos, ensino médio completo (34,3%), casa própria (51%) e rendimento per capita de R$ 570, aproximadamente. Quanto à divisão socioeconômica, ficou demonstrado que 55% dos usuários se encontra na classe C. Por fim, destaca-se a presença do sexo masculino, que representa 62,9% do total. As estudantes verificaram ainda que a alimentação não é a principal carência dos frequentadores dos restaurantes populares. A parcela atingida por esse problema é de 14,4%. A principal deficiência está, segundo o levantamento, no acesso à saúde. Dos entrevistados, 32,3% apresentaram essa dificuldade. Passos da pesquisa O interesse das pesquisadoras era desvendar questões abrangentes, como região onde residem os usuários dos restaurantes e o que esperam da alimentação; e aspectos mais específicos, relacionados principalmente à nutrição. “O estudo tinha enfoque significativo na segurança alimentar. Buscamos ao máximo saber sobre o número de vezes que os usuários se alimentavam, a variedade e se cometiam algum tipo de excesso”, explica a estudante. O passo seguinte foi aplicar o questionário. O processo durou seis meses e foi realizado em três restaurantes da cidade. “Não aplicamos em mais unidades por razões práticas. Trabalhamos em escala, ficando cada equipe responsável por um estabelecimento”, explica Evelyn. As informações colhidas foram analisadas e, com isso, foi montado o perfil do usuário. De acordo com a pesquisadora, foi possível verificar que “os restaurantes cumprem muito bem aquilo a que se propõem. A alimentação é balanceada e o público reconhece isso”. A professora Simone Pereira esclarece que a atividade empreendida pelas alunas do ensino médio compõe projeto mais amplo a respeito dos restaurantes populares. “Elas focaram nas características socioeconômicas e demográficas dos usuários, mas existem outros fatores ainda em processo de pesquisa”, destaca. Acompanhamento Para Evelyn, o principal benefício desse contato com a pesquisa científica, ainda no ensino médio, foi conhecer novas ferramentas de aprendizado. “Antes do grupo de estudos, não fazia ideia de como elaborar ou aplicar um formulário. Além disso, não possuía nenhuma prática a respeito de como lidar com o público. Participar foi muito importante para minhas pretensões acadêmicas”, ela conclui. Provoc A participação no programa, esclarece Gisele, é feita através de processo seletivo anual. “A seleção é feita mediante edital e as exigências variam a cada ano”, aponta. Após selecionados os integrantes do Provoc, são determinadas linhas de pesquisa a serem seguidas pelos profissionais, de acordo com suas especialidades, e estas são oferecidas aos alunos que podem optar por aquela que mais agradar. O engajamento conta com oferta de bolsas concedidas pela Fapemig (Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais) e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Com este resultado, o trabalho conclui que o serviço prestado pelos restaurantes populares alcança seus objetivos, que são atender camadas socioeconomicamente desfavorecidas e possibilitar a elas alimentação mais saudável e balanceada.
Segundo Evelyn Soldati Silva, o trabalho consistiu, no primeiro momento, da elaboração de formulários a serem aplicados em restaurantes da região metropolitana. “As perguntas que utilizamos foram baseadas nas que já são comumente incluídas em pesquisas do governo. Porém, houve intervenção por parte do grupo.”
De acordo com Simone, a participação dos jovens pesquisadores é sempre acompanhada por profissionais ou alunos da graduação, e eles recebem treinamento sobre os procedimentos de pesquisa. “Em linhas gerais, pode-se dizer que o Provoc representa uma atividade de familiarização do aluno com a iniciação científica”, afirma.
O Programa de Iniciação Científica Jr., criado em 1998, é iniciativa do Colégio Técnico (Coltec) da UFMG em parceria com o Centro de Pesquisas René Rachou – Fiocruz/MG. O objetivo do projeto, segundo sua coordenadora, Gisele Brandão, é oferecer a alunos do ensino médio e profissionais maior contato com a iniciação científica e com a produção acadêmica.