Discutir se o modelo de organização do movimento feminista no Brasil pode ser aplicado à América Latina como um todo foi a proposta de um trabalho do Programa de Iniciação Científica (Provoc). A pesquisa foi realizada pela co-orientadora Marina Brito, doutoranda em ciências políticas e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem) e a provocanda, aluna de ensino médio, Thais Ketley Rodrigues Barreto. A luta pelo direito de voto, pelos os direitos civis, para mudar a situação de subordinação das mulheres e o crescimento de ONG's feministas foram discussões trabalhadas pela pesquisadora Celi Pinto, professora do departamento de história da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que em seu estudo dividiu o movimento feminista em três ondas. Essa discussão teórica serviu de ponto de partida para a pesquisa do Provoc. O estudo de Marina Brito e Thais Barreto sustenta que vários países da América Latina tem desenvolvimento parecido, principalmente aqueles que tiveram governo semelhante ao ditatorial. Entre as similaridades está o forte crescimento das organizações feministas a partir da terceira onda. As discussões teóricas “Nas décadas de 50, 60 e 70, período em que o Brasil vivenciou a ditadura militar, duas vertentes do movimento feminista surgiram. Uma delas, muito ligada aos movimentos na França, lutava pelos direitos civis de forma geral, cujo ápice foi a luta pela causa das minorias, negros, mulheres e homossexuais. Outra vertente discutia principalmente a situação subordinada das mulheres em todos os aspectos da vida, devido ao patriarcado, à dominação masculina, à falta de espaço no mercado de trabalho e a responsabilidade total pelos trabalhos domésticos”, explica a pesquisadora. De acordo com o estudo, direitos que surgiram nessa época colaboraram para diminuir essa subordinação, entre eles o uso de anticoncepcionais, o aumento da autonomia sobre o próprio corpo e o acesso às universidades. Marina explica que na terceira onda, a partir da década de 80, os movimentos sociais de mulheres passam a se consolidar, construir espaços físicos e estabelecer um ritmo regular de ações e encontros. A partir de 1985 esses movimentos começam a crescer também em número e em vertentes, como o movimento de mulheres negras, lésbicas, indígenas, do campo e domésticas. “Acontece uma institucionalização do movimento, as ações promovidas começam a ser constantes”, conclui a pesquisadora. Em uma teorização recente a professora Marlise Matos, coordenadora geral de pesquisa do Nepem, caracterizou uma onda atual, resultante da intensificação da terceira onda. “Atualmente os movimentos feministas estão se aproximando do Estado, com a entrada de muitas mulheres nesse espaço. A Secretaria Especial de Política para Mulheres, por exemplo, cuja função é promover políticas públicas ligadas ao direito das mulheres, passou a ter status de ministério, com orçamento e organização”, conta a doutoranda em Ciência Política. Ela explica que ocorreu o financiamento público de ONG's para que estas realizem pesquisas políticas de enfrentamento a violência à mulher e outras demandas. “Apesar de termos mulheres eleitas, essa participação ainda é pequena. A representação política efetiva é uma das grandes lutas e principais frentes de ação da própria secretaria”, completa. Pesquisa (Por Clarice Cerqueira, repórter bolsista da Pró-Reitoria de Extensão (ProEx) da UFMG)
A primeira das três ondas é caracterizada pelo movimento sufragista, que aconteceu no século 19 e demanda direito de voto. “Essa foi uma época da história da República brasileira em que as mulheres lutavam pelo aumento de participação política”, explica a pesquisadora Marina Brito.
A pesquisa começou em 2009 e, no momento, está sendo concluída. A provocanda Thais participou da coleta de dados acerca dos movimentos para a produção de um banco de dados, além de estar presente em discussões teóricas e receber atendimentos particulares.