A prática de instalar turbinas importadas para gerar energia eólica tende a perder utilidade por causa das mudanças climáticas que estão alterando substancialmente o comportamento dos ventos no Brasil. A avaliação é do professor Ramon Molina Valle, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG, e coordenador do Seminário Nacional sobre Engenharia de Ventos, que começa nesta quarta-feira, 27, às 11h, e vai até sexta-feira na Escola de Engenharia. Realizado em parceria com a Cemig, o evento abrigará a apresentação de estudos sobre as potencialidades da Camada Limite Atmosférica (CLA), a mais próxima da superfície da Terra. "Os ventos estão mudando de acordo com as alterações climáticas. Isso gera um subaproveitamento das turbinas importadas, que trabalham apenas sob determinadas condições de ventos", afirma o professor Ramon Molina. Os estudos, baseados em modelos matemáticos, propõem o desenvolvimento de turbinas mais adequadas à exploração da CLA e ao comportamento dos ventos no Brasil. As pesquisas também apontam para a necessidade de produção de turbinas de vento no país e uma revisão da literatura técnica em vigor no Brasil sobre o assunto. O modelo matemático é estruturado em três etapas. Em um primeiro momento, assim que a região a ser estudada é delimitada, os pesquisadores precisam digitalizar as imagens locais com dados do relevo obtidos por meio de cartas do IBGE ou fotografias de satélites. Depois disso, com a ajuda de geólogos, são diagnosticadas as características da vegetação local. Essas características, digitalizadas, traçam as alturas médias de irregularidades do local. A etapa final do modelo computacional refere-se às condições de contorno da região analisada. Essas informações podem ser obtidas através de estações de medição de ventos ou de estações climatológicas que medem temperatura, pressão e velocidade do vento. Com o cruzamento das informações dessas três etapas é possível definir o domínio da altura da CLA e o comportamento do vento sem a necessidade de instalar equipamentos em todas as regiões, apenas nos contornos. “Nosso objetivo é desenvolver modelo de CLA para estudos de microrregiões”, afirma o presidente da Comissão Organizadora do evento. Linhas de transmissão As pesquisas sobre a CLA também fortalecem a defesa da mudança da matriz energética brasileira, ainda essencialmente hidráulica ou térmica. Segundo Ramón Molina, a energia eólica foi, durante muito tempo, subestimada no Brasil, devido à abundância das fontes de energia elétrica. Uma opção que ele considera equivocada. “A energia eólica tem grandes vantagens econômicas e ambientais”, afirma. Mais informações sobre o Seminário Nacional sobre Engenharia do Vento na página do evento.
Para Ramón Molina, além de traçarem os potenciais de energia eólica, os estudos sobre a CLA, ao precisarem a intensidade e a direção de ventos, geram parâmetros importantes para projetos de linha de transmissão. Segundo ele, a queda recente de muitas torres mostra que o vento se intensificou em regiões onde era mais fraco. “É interessante até para ajustar as normas de projetos que já existem. Minas Gerais sempre foi considerada uma região sem potencial para exploração de energia eólica e estamos mostrando que existem algumas regiões que teriam condições de abrigar turbinas”, explica o professor.