A violência sexual contra crianças e adolescentes é uma prática que gera sequelas durante toda a vida. Apatia, intensa erotização das relações afetivas, vergonha e reclusão social são algumas das posturas adotadas pelas vítimas desse abuso. Para discutir esses assuntos, será realizado nesta sexta-feira, 5, e sábado, 6, o 2º Simpósio de Pesquisas do Projeto Cavas (Crianças e Adolescentes Vítimas de Abuso Sexual) , no auditório Sônia Viegas, na Fafich. Segundo Cassandra França, professora associada do Departamento de Psicologia e pesquisadora do grupo Cavas, o assunto é relevante devido às implicações que a violência tem para a formação do jovem e também pelo fato de “nos últimos anos o abuso sexual de crianças e adolescentes ter crescido consideravelmente”. De acordo com a pesquisadora, o jovem abusado precisa de auxílio psicológico em vários momentos. “Após violência, a criança tende a se isolar do convívio social, a perder sua capacidade de acesso ao mundo da fantasia, a se tornar agressiva e a evitar qualquer tipo de contato físico”, diz. A situação da violência pode ser ainda mais grave, pois, como destaca Cassandra, em muitos casos, ela é realizada por membro da própria família. “Em algumas situações a criança é duplamente violentada, afinal ela tem de lidar com a violência e com a falta de auxilio da família que prefere esconder o caso por vergonha”, esclarece. São várias as sequelas que acometem as vítimas, relata a professora, e elas podem repercutir nas atitudes dos abusados durante toda a vida. Entre as possibilidades, está o comprometimento da memória por conta do esforço do jovem de esquecer aquilo que sofreu. “Ele tenta apagar a situação pela qual passou. Esse empenho excessivo influi no comprometimento da memória de uma forma geral”, destaca. Erotização excessiva Um dos desafios para o psicólogo é ultrapassar a barreira do silêncio que a vítima impõe. “O jovem assumir que sofreu violência é um processo demorado. A vítima, devido ao abuso, deixa de confiar nas pessoas. O profissional precisa ser cauteloso e conseguir a confiança para que o paciente se sinta capaz de relatar o ocorrido”, explica. Projeto Cavas
A vítima também pode adotar uma perspectiva erotizada das relações interpessoais, prejudicando a criação de laços afetivos, como a amizade e as relações familiares. “O adolescente violentado pode considerar qualquer tipo de toque como uma prática erótica e desenvolver uma sexualidade exarcebada.
Esse excesso compromete todos os outros tipos de relacionamentos necessários para um adulto saudável”, diz. Outra possibilidade é o prejuízo da vida sexual da pessoa. “Alguns pacientes, quando adultos, apresentam crise de angústia durante o ato sexual ou são incapazes de atingir o orgasmo”, aponta.
O tratamento – a psicoterapia –, para tais casos, é semelhante ao aplicado pelos profissionais da psicologia à grande maioria dos pacientes. E, no caso dos jovens violentados, o intuito é auxiliar o paciente a “recuperar sua confiança, a possibilidade de amar, a capacidade de ter uma vida sexual saudável e reabilitar a memória, entre outras coisas”, enumera.
Além de oferecer atenção clínica, o Projeto Cavas também desenvolve um trabalho de pesquisa baseado nos casos que recebe. Todos os membros participam semanalmente do grupo de estudos, além de produzirem textos acadêmicos para apresentação em congressos e seminários.