Universidade Federal de Minas Gerais

Helcimara Telles: “Democracia no Brasil não é pensada como conjunto de valores”

quinta-feira, 4 de novembro de 2010, às 16h43

Após uma campanha marcada por denúncias, troca de ofensas e debate político esvaziado, Dilma Roussef assume o país em um momento de euforia com a estabilidade econômica e, diferentemente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vai governar com maioria parlamentar. Para a professora Helcimara Telles, do Departamento de Ciência Política da Fafich, essa maioria é essencial para a nova chefe do Executivo brasileiro, que não desfruta do mesmo carisma de Lula para aprovar seus projetos. Nesta entrevista, a cientista política discute o Brasil que sai das urnas, o significado de uma mulher na Presidência, a nova oposição e o papel de Lula como futuro ex-presidente.

Que Brasil sai das urnas?
Acho que temos um Brasil diferente. Durante esses oito anos do Governo Lula houve um desenvolvimento econômico superior aos anos anteriores. Foi possível crescer, distribuir renda e, por causa disso, nenhum candidato pode abandonar essa agenda de implementação de políticas sociais, de se dirigir às pessoas politicamente excluídas. Essa agenda não foi totalmente incorporada, e não pode ser desprezada. Ela estava, em alguma medida, presente no discurso de todos os candidatos. Além disso, surgiram questões importantes, como a do desenvolvimento sustentável, posto pela campanha de Marina Silva e que foi incorporado por José Serra e Dilma.

Agora, há alguns aspectos que não haviam sido pensados no Brasil. Uma parte da sociedade foi incorporada, muitas pessoas saíram da miséria, mas isso não significou uma reflexão desses incluídos sobre a própria política. A agenda da religião penetrou o processo das eleições. Temos hoje uma pauta de políticas sociais e inclusão, mas questões como direitos humanos, direitos civis e união homossexual ainda não foram debatidas pela sociedade. Nesse sentido, a campanha significou um retrocesso. Houve uma tentativa de transformar a eleição em um plebiscito contra ou a favor o aborto. Essa não é uma agenda da sociedade, ela foi colocada pela candidatura tucana – mas só funcionou porque encontrou acolhida dentro da sociedade. Mas, no fim, me parece que o voto acabou sendo um voto econômico. A democracia no Brasil não é pensada como diversidade ou como conjunto de valores. Por enquanto, ela é pensada como procedimento, circunscrito, por exemplo, ao direito ao voto.

Outra questão: as pessoas não discutiram o significado do regime autoritário para o Brasil. Pessoas questionaram o fato de a Dilma ser guerrilheira. Parcelas da população foram manipuladas quando Dilma foi apresentada, não como guerrilheira, mas como assassina. A Dilma passou de vítima da ditadura a ré. Ela foi apresentada na internet, numa campanha negativa, como alguém pouco credenciada porque havia lutado contra o regime militar. O Brasil nunca discutiu os porões da ditadura.


Como analisa o papel da internet nessa campanha?
O fato de uma pessoa ter postado no Twitter um apelo contra nordestinos, numa atitude de xenofobia, incitando o crime e isso ter ficado em primeiro lugar, mostra um comportamento latente que pode ter sido provocado por um tipo de campanha que tratou os adversários como inimigos. Isso apareceu durante a campanha e teve ressonância porque alguns setores se sentiram acolhidos por essa pauta, um conservadorismo político latente na sociedade brasileira. Isso poderia estar presente, mas não era encorajado pela sociedade. Qual é o lugar da internet? Teremos ou não uma legislação? É preciso pensar não em controle da internet, mas em uma maneira de não permitir que pessoas possam caluniar em nome da chamada liberdade de expressão, sob o manto do anonimato. As pessoas precisam se responsabilizar por aquilo que dizem. A Internet foi usada não como local da deliberação, mas de explosão de boatos.

E a participação dos jovens na campanha?
Fiz uma pesquisa sobre juventude e participação dos jovens na política. Descobri que, em Belo Horizonte, 82% dos jovens (18 a 24 anos) não se interessam por política. Eles estão descrentes, não participam de associações políticas, estão mais envolvidos com movimentos religiosos. Assim, eles estão se voltando para a dimensão da vida privada, sem compromisso com a vida pública, com a sociedade. A maior parte dos jovens é muito conservadora, querem pena de morte. Isso nos obriga a refletir: o que está acontecendo com nosso ensino? Seria um ensino muito técnico, voltado apenas para o mercado de trabalho? Os jovens hoje são mais conservadores que seus próprios pais. Eles não foram expostos a crises econômicas, políticas, não sabem o que é viver sob regime autoritário.

Na prática, o que significa ter uma mulher presidente?
As pessoas não votaram na Dilma porque ela é mulher, mas o fato reforça a pauta da igualdade. Isso ainda não significa que tenha havido uma discussão sobre a questão da mulher, no sentido da violência doméstica, por exemplo. Ainda ganhamos menos no mercado de trabalho e quando estamos lá, não basta ser boa, tem que ser muito boa. Mas uma geração de meninas vai passar quatro anos vendo uma mulher na presidência. Ser governada por uma mulher não implica necessariamente um governo melhor, mas significa que as mulheres podem dirigir um país, empresas e organizações complexas. Espero que sua chegada ao poder se reflita na pauta de políticas públicas para as mulheres. A (Michele) Bachelet, por exemplo, fez no Chile uma discussão sobre o assunto. O governo dela teve essa preocupação de criar mecanismos de combate à violência contra a mulher.

Mas o número de mulheres em outros cargos eletivos ainda é muito pequeno...
Existe uma distorção no fato de ela ser presidente em um país cujo Congresso tem pequena participação feminina. Como poucas mulheres participam de cargos na política, poucas são qualificadas para ocupar cargos importante. Mas acho que a Dilma vai promover algumas mulheres, vai levar algumas mulheres qualificadas para seu governo.
Com os problemas econômicos razoavelmente resolvidos, aparece uma agenda mais política. Pela primeira vez um presidente vai governar com maioria parlamentar efetiva. Lula não conseguiu isso. Essa maioria é muito importante, porque, sem a personalidade carismática do Lula, a negociação terá que vir dos partidos. Muitos deputados não votavam contra Lula, com medo de se tornarem impopulares.

Como fica a oposição? O PSDB paulista vai perder força?
A discussão do PSDB é interna. Do ponto de vista do eleitor, o PSDB paulista perdeu forças, sim. Ganharam em São Paulo, mas com diferença pequena, se considerarmos que há 20 anos o PSDB governa o Estado. O PSDB é um partido formado a partir de lideranças e precisa repensar o seu projeto. Na verdade, ele demonstrou ser um partido centralizado, mas sem um projeto para o país. Ou o PSDB assume que representa eleitores distribuídos à direita ou se refaz. Tem espaço para outro partido de centro-esquerda no Brasil? Acho que não. Há muita disputa interna e não sei aonde isso vai parar. A tendência do partido é se renovar, mas não acho que José Serra abrirá mão de disputar esse espólio.

O que esperar de Lula como ex-presidente?
Acho que um presidente com grau de aprovação do Lula não vai pôr o pijama. Mas o que ele tem dito é que esse governo será da Dilma. Ele não pode se afastar totalmente porque tem um certo grau de articulação. Eventualmente Dilma pode pedir conselhos a ele não como ex-presidente, mas como importante liderança de um partido político. A tendência é que ele continue a fazer política e que ocupe um cargo em algum órgão internacional.

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