A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou nesta quarta-feira, 10, em Brasília e em Paris, simultaneamente, o Relatório Unesco sobre Ciência 2010. A data corresponde ao Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento. O documento é editado a cada cinco anos para apresentar um diagnóstico do desenvolvimento mundial da ciência. No Brasil, o lançamento ocorreu em audiência pública no Senado Federal, em evento proposto pelo senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que preside a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado e ressaltou o fato de o estudo dar destaque ao Brasil. No relatório deste ano, o Brasil é o único país da América do Sul a ser contemplado com um capítulo exclusivo, o que mostra a influência e a importância regional do país neste campo. Para a América Latina, o documento também dedica um capítulo para Cuba. Outros países que ganharam capítulos específicos foram Canadá, Turquia, Estados Unidos, Irã, Índia, China, Japão e República da Coréia. O capítulo sobre o Brasil, de autoria dos professores Carlos Henrique de Brito Cruz (Universidade de Campinas - Unicamp) e Hernan Chaimovich (Universidade de São Paulo - USP), sete universidades são citadas como as principais do país, contando com 60% de todos os artigos científicos brasileiros publicados em 2009: USP, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Unicamp, Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O relatório é muito favorável ao Brasil e reflete o crescimento do país em produção científica”, comenta o pró-reitor de pesquisa da UFMG, professor Renato Lima dos Santos, ao lembrar que desde 2009 o Brasil alcançou o 13º lugar no ranking mundial de produção de ciência, deixando para trás países mais tradicionais nessa área, como Holanda e Rússia. “Nesse contexto, a UFMG aparece no documento entre as universidades brasileiras com maior produção científica, o que é compatível com outros rankings”, completa o pró-reitor. Ao lembrar que “a prática científica tem menos de um século no Brasil”, o documento afirma que o país “enfrenta três desafios principais”, que são a necessidade de intensificar a pesquisa e o desenvolvimento (P&D) no meio empresarial, “a fim de estimular a inovação e a competitividade”; de “desenvolver e internacionalizar suas melhores universidades, tornando-as centros de excelência em nível mundial”; e “disseminar a excelência científica além de São Paulo, Rio de Janeiro e outros grandes centros urbanos, rumo a regiões menos privilegiadas, como a Amazônia e o nordeste”. Com relação ao pequeno investimento de recursos privados em pesquisa, Renato Lima dos Santos comenta que o quadro contrasta com o de países desenvolvidos ou em acelerado processo de desenvolvimento, onde há um predomínio de recursos privados. “E quando isso ocorre há uma tendência maior de inovação tecnológica, uma vez que tais investimentos são voltados para o mercado, ou seja, são fortemente indutores de inovação”, avalia. Em sua opinião, “esse é um caminho que o Brasil está trilhando, mas que não se constrói da noite para o dia”. Sobre o segundo desafio, o pró-reitor de pesquisa lembra que já vem ocorrendo uma maior inserção internacional do país, e destaca que os convênios formais entre a UFMG, por exemplo, e instituições estrangeiras, representam uma parcela pequena das atividades internacionais que de fato ocorrem na Universidade. “Isso se dá porque a colaboração científica muitas vezes não requer formalização, como bem demonstra o elevado percentual (cerca de 25%) de artigos da UFMG em base de dados internacionais que têm coautoria de pesquisadores estrangeiros. Sobre a expansão da excelência científica para além da região Sudeste, Renato Lima dos Santos lembra que há alguns anos as agências de fomento de âmbito nacional reservam 30% dos seus recursos para as regiões Norte e Nordeste, que são “menos tradicionais do ponto de vista da pesquisa, o que não significa que sejam menos competentes”. Tal estratégia tem resultado na melhoria da infraestrutura e dos equipamentos de instituições em outros estados do país, o que favorece a fixação de doutores e cientistas nessas regiões, diz o pró-reitor. “Atualmente não é incomum encontrarmos nessas instituições egressos da região Sudeste, no entanto, resultados mais visíveis dessas ações são de médio e longo prazos”, afirma. Leia o relatório. (Com informações da Agência Fapesp, da Unesco e do G1)