Sete de outubro de 1963 – Ipatinga/MG: operários da Usiminas se manifestam contra as péssimas condições de trabalho e baixos salários oferecidos pela empresa. Para controlar a situação, foi chamada a Polícia Militar que enfrentou os trabalhadores a base de tiros. Informações oficiais afirmam que o embate provocou, entre os funcionários da empresa, 8 mortes e 79 feridos. Esse acontecimento, denominado de Massacre de Ipatinga, é o objeto tratado pelo jornalista e diretor do Centro de Comunicação da UFMG, Marcelo Freitas, em seu livro Não foi por acaso, agraciado, em 2010, com menção honrosa do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na categoria livro-reportagem. Em vez de simplesmente relatar o ocorrido, a obra põe em xeque informações oferecidas por órgãos oficiais e pelos envolvidos, como a Usiminas. Por meio de inquéritos policiais, documentos da Usiminas, jornais da época e relatos de cidadãos de Ipatinga direta ou indiretamente relacionados ao massacre, o autor apurou os dados fornecidos e percebeu que eles não coincidiam com a realidade. A principal prova disso é o número de mortes oficialmente registrado - oito -, quando na verdade, ao ouvir os moradores, Marcelo verificou a existência de uma quantidade maior de óbitos. Essa camuflagem dos dados do massacre ficou ainda mais evidente quando o autor, em sua investigação, localizou parentes de operários que desapareceram no dia 7 de outubro e, por isso, não foram contabilizados entre os mortos. Além disso, ele fez descobertas relevantes, como “a compra de 32 caixões feita pela Usiminas dois dias após o conflito”, aponta. Segundo ele, os caixões foram postos no almoxarifado e a veracidade desse fato está na coincidência entre os relatos do caminhoneiro que transportou a carga e do almoxarife que a recebeu. A motivação da pesquisa surgiu em 1988, quando Marcelo trabalhava com jornalismo diário e se estendeu durante 21 anos. O massacre de Ipatinga também foi tema também de sua dissertação de mestrado. A ausência de informações estimulou sua curiosidade pelo assunto. “O que me chamou atenção foi a necessidade de buscar esclarecimentos sobre o episódio. Conheço razoavelmente a história do país e até então nunca havia ouvido falar desse caso”, expõe. Para ele, o fato de não ser devidamente estudado é o que confere importância ao acontecido. “Ele merecia ser investigado mais a fundo", conclui. Prêmio
O Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos foi criado em 1977, dois anos após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Desde então, o seu objetivo é fomentar a produção jornalística a respeito de temas que denunciem violação de direitos e estimulem a luta pela cidadania. A premiação contempla, anualmente, onze categorias: Livro-reportagem; Artes; Fotografia; Jornais; Literatura; Rádio; Revista; Teatro; TV – Documentário e/ou Especial; TV – Jornalismo Diário e Imagem de TV.