O marca-passo artificial é um dispositivo eletrônico que controla os batimentos do coração por meio de estímulos elétricos. Desde 1960, quando foi lançado comercialmente, calcula-se que milhões de pessoas tenham se beneficiado com o seu uso, levando vida normal, apesar de serem portadores de graves problemas cardíacos. Recentemente, estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina da UFMG propôs alteração simples no dispositivo, que pode torná-lo ainda mais eficiente. De autoria de Leonor Garcia Rincón, médica cardiologista do Serviço de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular do Hospital das Clínicas da UFMG, por meio de sua tese de doutorado na área de Medicina Tropical, a proposta sugere que os médicos programem o aparelho para fornecer apenas a energia necessária para regular o coração do paciente. A medida pode ser determinada por meio do eletrocardiograma, um exame igualmente simples, possível de ser feito em consultório médico. Atualmente todo marca-passo sai de fábrica com uma única e voltagem pré-configurada para seu funcionamento. Nem todos os pacientes precisam desse nível de energia. O recurso, conhecido como Busca da Condição Intrínseca, BCI, ao ser reconfigurado pode elevar a vida útil do aparelho para nove anos, prolongando-a em torno de dois anos mais, sem trazer riscos ao paciente. Leonor analisou dados recolhidos com a ajuda de 30 pacientes entre março de 2005 e junho de 2007. Testes Foram esses os dados analisados para calcular a longevidade dos geradores. O orientador da pesquisa, professor Manoel Otávio da Costa Rocha, considera que a tese alcançou resultados originais e relevantes. “Há repercussões prováveis tanto do ponto de vista econômico quanto da preservação do bem estar dos pacientes”, avalia. Benefícios Segundo o médico, a duração da bateria, em geral, é estipulada quando o aparelho é implantado no paciente. Em média, sete anos. Apesar de atualmente ele ser um procedimento relativamente simples, sempre existem riscos inerentes a uma cirurgia, como a possibilidade de infecção, por exemplo. Nesse aspecto, a mudança também seria positiva para o sistema de saúde pública. Atualmente, cerca de 3,5 mil pessoas fazem acompanhamento regular no Hospital das Clínicas da UFMG. “A reprogramação consegue reduzir em 22% o custo por paciente da implantação do marca-passo, uma economia de, em média, R$ 1,3 milhão por ano para o SUS”, explica a Leonor Rincón. Para a cardiologista, o desafio agora é convencer os profissionais que trabalham com pacientes portadores de marca-passo a fazerem essa reprogramação, que ainda não é um procedimento amplamente utilizado. “Apenas após a publicação da pesquisa, ainda inédita, é que poderemos verificar a aceitação da técnica em outros grandes centros cirúrgicos”, observa.
Durante o estudo os pacientes submeteram-se a bateria de exames, como ecocardiograma e telemetria do marca-passo, para verificar o funcionamento de cada aparelho antes de serem reprogramados. Após 60 dias com essa configuração os pacientes realizaram novos exames, em que foram recolhidos os dados disponíveis na memória do marca-passo.
“O paciente ganha com a redução do número de cirurgias necessárias após a implantação do marca-passo”, destaca Costa Rocha. “Quando a bateria acaba, é preciso trocar todo o aparelho, o que exige uma nova cirurgia”, esclarece.
(Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina)