Nos últimos 20 anos, o número de cirurgias radicais de mama – aquelas que se baseiam na retirada de toda a glândula mamária – caiu drasticamente em favor de tratamentos mais conservadores e menos invasivos. É o que concluiu a pesquisadora Débora Balabram, em sua dissertação de mestrado, defendida no programa de Patologia da Faculdade de Medicina. A autora analisou resultados de 12.662 exames feitos entre 1989 e 2008 no Laboratório de Patologia Mamária (LPM) da Unidade. A técnica radical, usada em mais de 80% dos casos de câncer que chegavam ao Hospital das Clínicas em 1989, consistia na retirada total da mama. O tratamento alternativo extrai apenas o tumor. Agora, a paciente não perde mais a mama se o diagnóstico for positivo: apenas o tumor é removido e a paciente, submetida a sessões de radioterapia. Em 2008, os tratamentos conservadores já eram utilizados em mais da metade dos casos. O número de exames também cresceu: de pouco mais de 300 por ano, no início do período estudado, para um patamar aproximado de 900, que perdura desde o inicio dos anos 2000. A explicação para isso é a evolução do próprio hospital, que se tornou centro de referência nacional para tratamento de câncer. Segundo Débora Balabram, são diversas as razões para as mudanças de tratamento. Uma delas é o aumento do número de tumores diagnosticados precocemente, principalmente através da mamografia. Além disso, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) publicou, em 2004, um consenso – documento que reúne a opinião de especialistas em uma área da medicina, apresentando dados de diversos estudos sobre um tema –, baseado em artigos europeus e americanos, segundo os quais a sobrevida de pacientes submetidos às cirurgias conservadoras seguidas de radioterapia é a mesma daqueles que passam por cirurgias radicais. No entanto, o novo tratamento não é indicado para todos os casos. Tumores grandes em relação ao tamanho das mamas, carcinoma inflamatório da mama e contraindicação para radioterapia, são alguns dos quadros que impedem a realização da cirurgia mais conservadora. O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso dos tratamentos conservadores. “Dessa forma, as chances de a paciente não precisar retirar a mama inteira serão bem maiores”, avalia Débora. No entanto, a adesão aos exames é baixa: apenas 50% das mulheres brasileiras da faixa etária de 50 a 69 anos fazem mamografia regularmente a cada dois anos, como recomenda o Inca. O esperado é que esse índice cresça após implantação do Sistema de Informações para o Controle do Câncer de Mama (Sismama), programa de triagem da doença implantado pelo Instituto em 2009. SERVIÇO: (Boletim UFMG, edição 1723)
Dissertação: Mudanças no diagnóstico e tratamento das doenças da mama em 20 anos (1989 a 2008) no Hospital das Clínicas da UFMG
Autora: Débora Balabram
Programa: Pós-Graduação em Patologia da Faculdade de Medicina
Orientadora: professora Helenice Gobbi
Co-orientadora: professora Arminda Lúcia Siqueira
Defesa: 30 de agosto de 2010