Acervo Projeto Arqueologia Antártico Brasileira |
Dois professores e duas estudantes de pós-graduação da UFMG partem no próximo dia 2 de janeiro para expedição à Antártica. É a segunda viagem de equipe da Universidade, e o objetivo é conhecer, a partir da Arqueologia e da Antropologia, as estratégias humanas de ocupação daquele território, desde seu início, no final do século 18. Com participação de acadêmicos da Argentina e do Chile, o projeto Paisagens em Branco, Arqueologia Histórica na Antártica tem coordenação na UFMG do professor Andrés Zarankin, veterano das expedições à região. O projeto recebe financiamento do CNPq e da Fapemig, e apoio logístico da Marinha Brasileira e do Proantar. Nesta entrevista, a mestranda do programa de pós-graduação e Antropologia Sarah Hissa explica os planos da equipe e repercussões da expedição realizada em 2010. Qual o foco dos estudos e como serão as atividades? No início deste ano, trabalhando também na península Byers, escavamos dois sítios arqueológicos (Sealer 3 e Sealer 4), identificamos um novo sítio (Praia Sul 2) e avaliamos as condições de preservação de vários sítios identificados em expedições anteriores. Paralelamente, os antropólogos do projeto coletaram dados em campo, junto a grupos de pesquisadores antárticos (etnografia antártica). Quais as diferenças fundamentais com relação à expedição do início do ano? Partindo dessa equipe de trabalho e da infraestrutura do Lacicor, estão sendo realizadas análises de macroestrutura e microestrutura, assim como estabilização do acervo e armazenamento. Ainda mais importante será o trabalho de desenvolvimento de estratégias para conservação do material arqueológico em campo. Quais foram repercussões e desdobramentos da expedição de 2010? O projeto Paisagens em Branco foi convidado pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para integrar estande na 62ª reunião da SBPC, realizada em julho, em Natal. A Finep financiou a compra do navio polar Almirante Maximiano, que levou o projeto até o arquipélago Shetland do Sul no início de 2010. Na ocasião, foram expostas peças da coleção arqueológica recuperada nas escavações dos sítios arqueológicos Sealer 3 e Sealer 4, incluindo fragmentos de vidro, de cachimbo, de metal, de grés e de estacas de madeira. Essa foi a primeira vez que uma coleção arqueológica proveniente da Antártica foi exposta no Brasil. Além disso, o projeto participou da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNTC), na Tenda da Inovação montada na Cinelândia, Rio de Janeiro, em outubro. Apresentamos uma seleção de artefatos recuperados na temporada de escavações de 2010, além de um vídeo sobre o trabalho.
Os estudos abordam desde os grupos foqueiros-baleeiros do século 19 até as pesquisas científicas recentes na região. Na próxima expedição, ficaremos acampados durante quatro semanas na península Byers, da ilha Livingston, arquipélago Shetland do Sul. A equipe de seis pessoas terá o acompanhamento de um alpinista, que cuidará da segurança do grupo. Usaremos barracas individuais de nylon e dois geradores de eletricidade, além de um fogão e um rádio para comunicação diária com a base Antártica Brasileira (situada na ilha vizinha Rei George), com os outros acampamentos brasileiros no arquipélago e com os navios polares da Marinha Brasileira. Sairemos da cidade de Punta Arenas, no Chile, no dia 2 de janeiro de 2011, no navio polar Ary Rongel, da Marinha Brasileira. Nosso retorno a Belo Horizonte está programado para o dia 15 de fevereiro.
Se em 2010 trabalhamos em uma porção a oeste da costa sul da península, agora escavaremos dois outros sítios arqueológicos na costa norte. Na terceira expedição brasileira, a ser realizada em 2012, iremos novamente à costa sul de Byers, porém na ponta mais ao leste da península. Isso vai possibilitar uma comparação geográfica dos sítios arqueológicos. No caso da etnografia antártica, um novo pesquisador está integrando a expedição, Nelso Soto, para estudar relações humanas do presente entre a Antártica e os pontos de saída no Chile. Além disso, contaremos com a presença em campo de uma especialista em conservação de materiais, a professora Yacy-Ara Froner Gonçalves, que cuidará da embalagem e tratamento in situ dos artefatos.
Quais foram os grandes aprendizados da expedição anterior?
A preservação de acervos arqueológicos demanda ação integrada entre pesquisadores de diversas áreas. Tendo em vista a necessidade de estabilizar coleções arqueológicas em geral, agravada pela natureza frágil e delicada do material arqueológico antártico, foi delineada uma colaboração do projeto arqueológico com o Lacicor – Laboratório de Ciência da Conservação, da Escola de Belas Artes, UFMG – a partir de conversas com o professor Luiz Souza, coordenador do laboratório. Além de Yacy-Ara Froner, a equipe de conservação inclui cinco alunas de graduação do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis: Giulia Giovani, Ana Carolina Motta, Marcella Oliveira, Gerusa Radicci e Thais Venuto.
Em agosto de 2010, foi realizado o I Encontro de Arqueologia e Antropologia Polar, na UFMG, que recebeu nomes importantes da arqueologia na Antártica, como Andrés Zarankin (Projeto Arqueológico Antártico Brasileiro), Ximena Senatore (projeto argentino), Ruben Stehberg (projeto chileno) e Michael Pearson (Austrália). Foram abordados, entre outros, temas como conservação e manejo dos sítios arqueológicos antárticos e estratégias para maior integração entre os projetos.