Universidade Federal de Minas Gerais

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Mapa mostra as ilhas de calor (em
tons laranja) no período seco em BH

Tese alerta sobre tendência de mudança na temperatura em Belo Horizonte

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011, às 7h50

A pele sentiu antes. Mas agora estudos científicos demonstram o tamanho do problema: a temperatura em Belo Horizonte está em elevação e o tempo, mais seco. Apenas nos últimos 100 anos, a umidade relativa do ar caiu 7% e a média anual da temperatura mínima saltou dos 15,2°C para 17,9°C. Um aumento nada desprezível de 2,7 ºC. Se o foco recair sobre as temperaturas máximas e médias, a tendência se repete, mostrando acréscimo em 0,7 e 0,8°C nos termômetros para o mesmo arco de tempo.

"As mudanças mais expressivas em Belo Horizonte ocorreram após a década de 1980, período em que a mudança no uso do solo e a verticalização da cidade foram mais aceleradas", informa Wellington Lopes Assis, em tese de doutorado sobre clima urbano defendida em 2010 no Instituto de Geociências (IGC) da UFMG.

Interessado em mapear e conhecer o comportamento das chamadas unidades climáticas naturais e urbanas da capital mineira, o pesquisador lançou mão de recursos da literatura especializada e de dados meteorológicos oficiais locais coletados desde 1911. Além disso, obteve outros em trabalho de campo, entre 2008 e 2009, quando instalou 20 abrigos meteorológicos em diversas regiões da cidade, nos períodos seco e chuvoso.

Com tantos recursos, Assis identificou não apenas tendência de alterações nos índices da temperatura local, ao longo das décadas, mas também sua correlação com a existência de três arquipélagos de calor em Belo Horizonte, que atuam em todos os meses do ano. Nessas áreas, as temperaturas e índices de umidade do ar são homogêneos entre si, pois estão associados às características naturais do terreno, como topografia, cursos de água e altitude, e à interferência humana no uso e ocupação do solo – altura das edificações, adensamento demográfico, pouca cobertura vegetal, impermeabilização e geometria das ruas.

É essa mescla de natureza física e urbana que “encapsula” os espaços em áreas climáticas específicas na capital – ainda que os especialistas alertem sobre a inexistência aí de fronteiras rígidas. “Em Belo Horizonte os núcleos de aquecimento ocorrem no hipercentro, na região de Venda Nova e entre a região Oeste e a Pampulha (ou Noroeste), que está sofrendo rápida expansão e verticalização, como nos bairros Castelo, Maracá e Alípio de Melo”, explica Wellington. Em cada um desses três bolsões, o processamento da energia resultante da radiação solar ocorre de modo distinto.

Morro abaixo
É possível entender o problema em um passeio imaginário: percorra o trecho que vai das cercanias da Serra do Curral, próximo ao Parque Mangabeiras, em direção ao hipercentro de Belo Horizonte até Venda Nova, na região Norte. Nessa espécie de linha, como se a topografia o arrastasse aos fundos de vale da cidade e a suas planícies abertas ao sol, o voluntário terá atravessado as ilhas de calor da capital.

Se o percurso for feito durante o dia, a temperatura, diferentemente das cidades europeias e norte-americanas, vai se elevando ao longo do trecho, em decorrência da lógica da paisagem natural e urbana: no hipercentro, os edifícios sombreiam o espaço e não permitem a chegada da energia até o solo. A maior absorção da radiação vai acontecer no seu entorno – bairros Floresta e Lagoinha – e em direção à periferia, nas planícies da região Norte.

Ao observar o comportamento das temperaturas, o pesquisador concluiu que, no horário das 18h às 6h, o hipercentro apresenta forte intensidade de calor, que pode aumentar de 4 a 5°C. Entre 7h e 17h, ao contrário, a elevação da temperatura é moderada, variando de 2 a 5,9°C. Nos outros dois núcleos – Venda Nova e Noroeste – a moderação vem à noite, mais precisamente às 19h. A partir das 11h da manhã, no entanto, a região, que não apresenta obstrução à incidência dos raios solares, tem seus termômetros elevados em até seis graus.

Mão do homem
Edificada em 1897 dentro do marco de cidade salubre, a planta urbana de Belo Horizonte abrigava ruas largas, edifícios baixos e circulação de ventos adequada. Durante décadas, seu clima, considerado ameno, era recomendado a doentes, como de tuberculose, que aqui vinham se tratar.
Em pouco mais de um século, no entanto, a rapidez de sua urbanização e crescimento econômico e industrial indicam outra direção à cidade, como a redução do conforto térmico e da segurança ambiental. Localizado em altitude média de 860 metros, o município hoje conta com 2,4 milhões de habitantes distribuídos em 331 quilômetros quadrados – em grande extensão, impermeabilizada. Ao ser planejada, a previsão era de que abrigaria 200 mil habitantes.


Wellington_Assis.jpg
“As mudanças de temperatura e umidade de ar observadas são muito sensíveis a intervenções feitas pelo homem nos últimos 100 anos, como redução da cobertura vegetal, canalização dos córregos e impermeabilização do solo”, indica Assis (foto). Ele lembra que outros fenômenos de maior escala como El Niño e La Niña e os chamados decadais também têm importância nas mudanças de temperatura. “Mas associar essas alterações com modificações no uso do solo é mais adequado do que com fatores que têm repercussões de longo prazo como mudanças climáticas globais e de temperatura dos oceanos”, exemplifica.

Ainda de acordo com Wellington, uma das causas que mais pesaram nas modificações do clima de Belo Horizonte foi, surpreendentemente, como registra em seu trabalho, “a inadequação das políticas públicas para organizar as crescentes demandas por espaço no tecido urbano e, mais recentemente, o não cumprimento dos parâmetros estabelecidos na lei de uso e ocupação do solo”. Ele acredita que, por esse motivo, e pelo fato de haver poucas pesquisas sobre o clima urbano em Belo Horizonte, os dados e questões analisados na tese poderiam ser ferramentas úteis no planejamento público local.

“Uma das perspectivas da academia é que o trabalho possa ser útil para o gestor da cidade nas suas tomadas de decisão. O trabalho ficará disponibilizado para esse processo. Esperamos aprofundar estudos mais conclusivos que nos deem mais segurança e ao administrador público de incorporar esses elementos nas suas avaliações”, acrescenta Magda Luzimar.

Para Assis, as conclusões da pesquisa precisam, ademais, ser olhadas com atenção redobrada para evitar que novas expansões desordenadas inflijam insegurança ambiental à população de Belo Horizonte. “Áreas de fundo de vale e alta declividade não são favoráveis à ocupação devido às condições de umidade e instabilidade do solo. Assentar novos edifícios ou conjuntos habitacionais em áreas deprimidas significa expô-las a perigos de enchentes e dificultar a dissipação de poluentes. A atmosfera nesses locais apresenta baixa capacidade de regeneração, podendo aprisionar os poluentes e gerar graves problemas de contaminação”, alerta.

Tese: O sistema clima urbano do município de Belo Horizonte na perspectiva têmporo-espacial
Defesa: 11 de agosto de 2010
Programa: Pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG
Orientadora: Magda Luzimar de Abreu

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