Até recentemente, segundo o professor Geraldo Wilson Fernandes, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, a cultura de recuperação de ambientes degradados era baseada na utilização de espécies exóticas, de baixo valor ecológico, que pouco ou nada interagem com o ambiente nativo. Hoje, se trabalha com o conceito de ecoeficiência aplicado à recuperação da biodiversidade. E esse é o princípio de pesquisa que acaba de ser iniciada e pretende aumentar o conhecimento sobre espécies nativas que serão propagadas nos campos rupestres da cadeia do Espinhaço. A pesquisa Diversidade Florística e Padrões Sazonais dos Campos Rupestres e Cerrado integra a rede Restaurar, que conta com financiamento (R$ 1,35 milhão) das fundações de amparo à pesquisa de São Paulo, Minas Gerais e Pará, além da Vale S.A. Em Minas Gerais, o trabalho, que teve início este mês, é coordenado pelo professor Geraldo Fernandes, que será auxiliado, além de pesquisadores da UFMG, por equipes das universidades federais de Lavras e Viçosa, e da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). A pesquisa conta ainda com a participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro. “O desafio é grande porque essas regiões, de campos rupestres, quartzíticos e ferruginosos, têm solo pobre. E as tentativas feitas até agora utilizaram espécies inadequadas”, explica Geraldo Wilson Fernandes. Os campos rupestres estão em solos rasos e pobres em nutrientes, com alta concentração de alumínio e relevo movimentado. Como destaca ainda matéria recente da Agência Fapesp, a vegetação tem grande riqueza de flora, estimada em mais de quatro mil espécies, várias delas endêmicas, ou seja, que só aparecem naquelas regiões. Os campos rupestres dificilmente conseguem se regenerar de forma espontânea. Até 2015, os pesquisadores das instituições de Minas Gerais e de São Paulo vão gerar novas informações informações sobre a região da Serra do Cipó, na cadeia do Espinhaço. Outro subprojeto tem o objetivo de estabelecer conhecimento sobre como germinam as espécies. Serão selecionadas 20 espécies de grande importância para o funcionamento da região, chamadas basais, para os estudos. Numa outra linha, os pesquisadores vão estudar o potencial regenerativo do solo. O professor da UFMG explica que boa parte das sementes que caem no solo não chegam a germinar, e esperam por muitos anos que um distúrbio (como uma queimada, por exemplo) estimule a germinação. “A ideia é entender esse processo para que se possam aprimorar os estudos de restauração em tempo recorde e ainda economicamente viável”, conta Fernandes. Como as plantas nos campos rupestres vivem em condições altamente adversas, elas exigem muito pouco em termos de nutrientes. E fornecer nutrição em excesso pode ter efeito tóxico. Por isso é importante conhecer os requerimentos nutricionais das espécies. “Como parte de um dos nossos subprojetos, vamos examinar aquelas 20 espécies selecionadas para definir as necessidades em termos de nutrientes e aprender como manter as mudas que serão usadas nos projetos de restauração da vegetação”, explica o pesquisador da UFMG. Finalmente, uma última linha de investigação está relacionada à obtenção de plântulas a partir de cultura laboratorial. Os trabalhos de propagação in vitro, de acordo com Geraldo Fernandes, têm extrema relevância, pois não há estudos sobre o tema para essas espécies dos campos rupestres. A pesquisa vai envolver alunos de mestrado e doutorado em áreas como genética, ecologia e botânica.
Vertentes
O trabalho que será desenvolvido no Espinhaço está dividido em seis subprojetos. Em primeiro lugar, os estudos visam entender a composição das vegetações na região. Uma segunda linha vai investigar o papel dos fungos no crescimento das plantas. “Estamos começando a dominar esse tema, e sabemos que pelo menos 23% da diversidade mundial de fungos que auxiliam no crescimento das plantas está na Serra do Cipó”, informa Geraldo Fernandes (imagem), que integra o Departamento de Biologia Geral do ICB.