Universidade Federal de Minas Gerais

Tese mostra que nível de instrução é 'moeda de troca' nos casamentos inter-raciais

quinta-feira, 14 de abril de 2011, às 9h55

Tem sido fácil constatar, “a olho nu”, que nas últimas décadas aumentou o índice de uniões entre homens e mulheres de grupos de raça/cor diferentes. Dados extraídos dos censos do IBGE comprovam isso. Em 20 anos – de 1980 a 2000 –, elas cresceram de menos de 20% para aproximadamente 35%. Mas há muito que saber sobre esse fenômeno. E a pesquisa de doutorado de Luciene Longo, que defendeu sua tese no final de março, no Cedeplar (Face), concluiu que há uma negociação envolvendo níveis de escolaridade como fator de compensação nas escolhas de parceiros.

“O aumento das uniões inter-raciais tem sido constante e consistente; é um processo irreversível. E foi possível identificar que, por exemplo, é mais provável que um homem branco e uma mulher preta se unam se ela tiver escolaridade maior que a dele”, afirma Luciene Longo, que se graduou em economia, mas tomou o caminho da demografia na pós-graduação.

Segundo a pesquisadora, esse mecanismo de compensação – o cônjuge de pele mais clara, que desfruta de maior prestígio social, aceita a união com alguém de pele mais escura em troca do status conferido pelo maior nível educacional do parceiro – contribui para avanço nas relações de raça/cor no Brasil. “A escolaridade das mulheres aumenta mais que a dos homens proporcionalmente, e este seria um fator a favorecer as uniões inter-raciais”, diz Luciene Longo.

Endogamia religiosa
Ela estudou também a influência da religião nos casamentos inter-raciais. Mas nesse caso as conclusões são diferentes. Os dados de 2000 revelam que quase 90% das uniões no país se dão entre pessoas da mesma religião. “A força da opção religiosa é tão grande que favorece uniões de todos os tipos. Não dá para se inferir influência semelhante à da escolaridade como mecanismo de compensação”, destaca Luciene, que considerou quatro grupos religiosos: protestantes, pentecostais, católicos e sem-religião.

Com relação a esse aspecto, a pesquisadora fez uma constatação curiosa: os sem-religião são os que mais casam entre si, o que demonstra maior resistência deles de se juntar a pessoas com alguma crença, e vice-versa. “Ainda há enormes barreiras contra uniões exogâmicas quando se trata de religião”, diz a pesquisadora.

O trabalho explorou também as diferenças entre uniões formais e consensuais. E ficou claro que as inter-raciais são mais frequentes entre as informais. Possíveis explicações: pessoas que se dispõem a se casar sem passar pelo cartório são mesmo mais flexíveis; e casais de cores diferentes que se apaixonam ficariam com “um pé atrás” ao pensar na formalização do relacionamento, em função de uma suposta fragilidade dessas uniões. “São hipóteses”, Luciene faz questão de ressaltar.

20 a 29 anos
A população-alvo do estudo de Luciene Longo foi composta de mulheres de 20 a 29 anos de idade. A ideia de “fechar” nessa faixa etária se deve ao fato de que as mulheres concentram nessa fase da vida o início de suas uniões. Além disso, os dados dos censos não permitem descobrir, por exemplo, tempo de união e se o atual casamento é o primeiro. “Por isso não seria adequado incluir mulheres mais velhas”, justifica a pesquisadora.

Luciene utilizou dados relativos a cerca de 310 mil mulheres do Censo de 1980, 410 mil do Censo de 1991 e pouco mais de 440 mil da pesquisa global realizada pelo IBGE no ano 2000. Ela só pôde lançar mão de informações contidas nas entrevistas da amostra (questionários maiores), já que os dados do chamado “universo” (a totalidade da população) não incluíam até 2000 os aspectos raça e religião – a pesquisa de 2010 incluiu raça/cor em todos os questionários.

O projeto inicial de Luciene Longo – que passou um ano na Universidade do Texas em Austin (EUA) – era trabalhar apenas com as uniões inter-raciais e escolaridade, mas após aprofundar-se no tema de pesquisa ela decidiu incluir a religião como uma das dimensões de análise. “Há pouca gente estudando questões de nupcialidade e família na demografia, principalmente relacionando-as à religião”, explica a pesquisadora, servidora do IBGE em Belo Horizonte.

Outros trabalhos, de caráter quantitativo e qualitativo, possibilitarão avançar na investigação sobre a evolução das uniões inter-raciais no Brasil. De acordo com Luciene Longo, os resultados podem ser desagregados por regiões e estados do país, já que “há diferenças importantes relacionadas a questões como raça/cor e religião”. Da mesma forma, acredita, novos estudos certamente chegarão mais longe ao tentar compreender como normas e valores também operam na escolha dos parceiros.

Tese: Uniões intra e inter-raciais, status marital, escolaridade e religião no Brasil: um estudo sobre a seletividade marital feminina, 1980-2000
De Luciene Aparecida Ferreira de Barros Longo
Orientadora: Paula de Miranda Ribeiro (Cedeplar/Face)
Co-orientadores: Ana Maria H. C. de Oliveira (Cedeplar/Face) e Thomas W. Pullum (Universidade do Texas em Austin)
Programa: Pós-graduação em Demografia
Defesa: 31 de março de 2011

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