Universidade Federal de Minas Gerais

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Mapa indica onde foi encontrado novo variante genético de ameríndios

Pesquisa da UFMG identifica novo Adão nas Américas

segunda-feira, 18 de abril de 2011, às 7h34

Vem da localidade de San Martin de Pangoa, no centro-sul do Peru, a identificação de importante mutação genética ocorrida há cinco mil anos, na América do Sul. Encontrada em indivíduos do sexo masculino originários dos Andes, a variante transmitida a descendentes indígenas dessa região é um dos ingredientes que poderão lançar nova luz sobre a história de povoamento e migração no continente, antes de Cristóvão Colombo aqui desembarcar, em 1492. Artigo liderado por pesquisadores da UFMG comunicando o achado deverá ser publicado neste semestre pelo American Journal of Physical Anthropology.

“Pangoa é uma comunidade de migrantes dos Andes com descendentes dos incas e grande diversidade cultural”, relata o professor Fabrício Rodrigues Santos, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. A descoberta foi feita dentro do esforço do projeto Genográfico, cujo segmento da América do Sul é coordenado por ele.

Bancado pela fundação norte-americana National Geographic, o programa está em curso em todos os continentes e tem a meta de prospectar novos dados para o conhecimento das rotas migratórias de antigas populações, recorrendo à identificação de seus marcadores genéticos de ancestralidade – DNA mitocondrial, para reconstruir a história materna, ou o cromossomo Y, para a paterna. No continente americano, o trabalho mira o período pré-colombiano, anterior a 1500. “Não trabalhamos com história da miscigenação ocorrida nos últimos cinco séculos”, esclarece Fabrício.

Até o momento, a mutação identificada pelos pesquisadores foi verificada apenas na região andina, dentro de um universo de 1.700 amostras de indivíduos de diferentes comunidades indígenas. Batizada pelo professor como South American 1, ou SA1, ela está presente em trecho do cromossoma Y, onde ocorreu troca do nucleotídeo citosina (C) por timina (T).

Como explica a pesquisadora do ICB Daniela Lacerda, integrante do grupo que encontrou a mutação, esse fenômeno de troca de um único nucleotídeo no DNA é conhecido como Single Nucleotide Polymorphism, ou SNP. Para os geneticistas, ele funciona como marcador molecular, útil para caracterizar série de situações. “Essa variante genética não tem, a rigor, impacto no fenótipo (a aparência) ou na bioquímica do indivíduo. Simplesmente, no caso do SA1, um grupo descendente de um único pai passou a se diferenciar de outros porque no lugar de citosina possui timina numa determinada posição do DNA”, esclarece.

Como os SNPs do cromossomo Y passam de pai para filho, sem sofrer mudanças, e as datas de seu surgimento podem ser estimadas, eles entram no foco de estudos que têm o objetivo de investigar a origem e trajetória de populações, do ponto de vista genético. A importância do SA1 para o contexto da América do Sul decorre do fato de a história pré-colombiana ser pouco conhecida, e essa mutação, sofrida por um indivíduo há cerca de cinco mil anos, pode agora funcionar como rastreador do percurso, no espaço e tempo, de um grupo dos ameríndios. E como há relativa homogeneidade genética entre os povos pré-colombianos, a descoberta da mutação SA1 pode aumentar a precisão do conhecimento que se tem sobre eles.

“Nossas fontes da história da América do Sul são registros de cronistas sobre os últimos 500 anos, mas dados de arqueologia, linguística, paleoantropologia e genética são usados para tentar reconstruir os eventos mais antigos, não documentados na forma escrita”, detalha Fabrício R. Santos. Ele lembra que o povoamento da América remonta a 18 mil anos atrás, com a entrada, pelo atual Estreito de Bhering, de povos vindos da Ásia, os parentes de Luzia, mais antigo esqueleto das Américas, encontrado em Minas Gerais.

“Mas como os vários grupos nativos se originaram? Ainda há 182 línguas indígenas faladas no Brasil, muitas delas tão diferentes como o chinês e o português”, questiona o pesquisador, ao reforçar a necessidade da busca científica por essas informações. “A genética pode ajudar a recontar essa história, mas é preciso ter um conjunto maior de dados para realizar a tarefa”, observa, por sua vez, Daniela Lacerda.

Genográfico
O projeto Genográfico para a América do Sul trabalha, até o momento, com amostras de cerca de dois mil indivíduos de comunidades indígenas. “A baixa miscigenação desses povos facilita a análise”, informa Daniela Lacerda. Para coletar material de extração de DNA – saliva –, os pesquisadores cumprem, desde 2005, roteiro rigoroso em busca de autorizações éticas de governos e da representação das etnias – além dos próprios indígenas, individualmente. A previsão é que, com a conclusão do projeto, em 2014, sejam produzidos mapas genográficos para a América do Sul.

Já aderiram ao projeto países como Brasil, Peru, Equador, Bolívia e Colômbia. Segundo Fabrício R. Santos, pelo menos 800 grupos descendentes de ameríndios pré-colombianos vivem no continente. No Brasil são 225 etnias, mas apenas 20 foram abordadas. “O custo é alto, pois as distâncias são longas; apenas para obter a participação dos xavantes, no norte do país, foram gastos R$ 30 mil”, revela o pesquisador. Entre os povos mineiros, os xacriabás ainda não foram contatados. Os demais – kaxixó, maxacali, aranã, pataxó e krenak – já receberam a visita do grupo da UFMG.


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“Mostro o projeto à liderança e, se ela autoriza, volto à aldeia e o apresento para todos os prováveis participantes. Caso necessário, retorno para coletar células da bochecha com um tipo de raspador de papel”, explica Marilza Jota, primeira autora do artigo que está para ser publicado (na foto, com Fabrício Santos). O procedimento é necessário também para evitar desinformações sobre a utilização do material genético. “Analisamos trechos do DNA específicos sobre ancestralidade. Não investigamos doenças ou outras informações genéticas distintas do nosso objetivo”, esclarece a pesquisadora.

As análises do material coletado na América do Sul são feitas na UFMG e contam com participação de colaboradores de outros países. De acordo com Marilza, as comunidades indígenas demonstram grande interesse em conhecer esse aspecto de sua história. “Mas o que produz a identidade de um povo é a cultura, o que chamamos do fato social total; o estudo genético é apenas um aspecto que remete à ancestralidade do grupo”, reflete.

Leia sobre a mutação em: O Q das Américas

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