Universidade Federal de Minas Gerais

Israel Duarte
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Violência não é ‘coisa só de homem’, conclui dissertação de mestrado

quinta-feira, 5 de maio de 2011, às 9h38

Pesquisa produzida na Faculdade de Medicina da UFMG demonstrou que o senso comum pode ser questionado: o homem não é naturalmente mais violento do que a mulher.

Quem afirma é a fisioterapeuta Rejane Aparecida Alves, em sua dissertação de mestrado As múltiplas e complexas faces da saúde do homem – um estudo sobre a violência em Ribeirão das Neves - MG, orientada pela professora Elza Machado de Melo, do departamento de Medicina Preventiva e Social.

Para chegar a essa conclusão, a pesquisadora analisou o discurso e opiniões de 230 moradores do município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, divididos em 30 grupos focais, por sexo, faixa etária e região administrativa.

Segundo a autora, o estudo levantou dados que contradizem crenças que colocam as mulheres apenas no papel de vítima da violência.

Como exemplo ela cita que, “apesar de muitas vezes o homem ser o autor do homicídio, a mulher pode estar por trás do ato de violência, como mandante. Esse dado foi mais freqüente do que imaginávamos”, afirma Rejane.

Potencial de dominação
Articulando as falas dos participantes com os dados teóricos - segundo a Teoria Política de Hannah Arendt - Alves observa que os indivíduos são moldados socialmente e a violência surge das relações humanas desiguais, independentemente de sexo.

A dominação de um indivíduo sobre o outro ocorre sobretudo pela posição social que ele ocupa, seu papel no contexto, e as habilidades e os atributos específicos de cada um.

Esse potencial de dominação, como é chamado, determina o tipo de violência cometida, o espaço em que ocorre, quem será a vítima, os instrumentos utilizados e o agressor.

A violência é uma das principais causas de morte entre homens no Brasil, sendo a primeira causa de morte na faixa etária de 1 a 49 anos.

Considerando o perfil de saúde no Brasil, historicamente marcado pela diferença entre os sexos, de 1980 a 2007 os homens morreram mais do que as mulheres em quase todas as causas de morte e em praticamente todas as faixas etárias.

Em 2007, por exemplo, os homens responderam por quase 60% das mortes no país. Isso significa que, em média, a cada três pessoas que morreram duas eram homens.

Rejane Alves faz questão de observar que essas estatísticas e outras análises segmentadas não são suficientes para se afirmar ser o homem mais violento que a mulher.

“Para explicar a origem e causas deste fenômeno é necessário uma melhor compreensão do ser humano e de suas relações, e, consequentemente da violência. Só assim será possível a adoção de ações eficazes no seu controle”, avalia.

O estudo está vinculado a projeto de pesquisa do Núcleo de Promoção de Saúde e Paz do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, “que investiga as múltiplas faces da saúde do homem”.

Machão
Supostamente, a sociedade exige que os homens adotem determinadas condutas para se afirmarem - como ser defensor de sua honra e de sua família - e prega a soberania do sexo masculino e a subjugação do outro.

De fato, os homens conseguem direcionar a violência contra seus pares, as mulheres e as crianças. Atos extremos, que gerem danos físicos graves ou mortes, são mais frequentes entre os homens, especialmente os que adotam o estilo “machão”, muito mencionado nos grupos focais.

Se tudo isso, por um lado, denota certa supremacia masculina, não é raro também relações familiares onde a mulher exerça papel autoritário, quer como mãe ou esposa. O mesmo tipo de poder ocorre em qualquer ambiente onde coexistam seres humanos, podendo esse relacionamento desigual propiciar atos violentos.

No caso da tríade homem-mulher-criança, a pesquisa evidencia também que a criança é a parte mais vulnerável. Seja a violência praticada pela mulher ou pelo homem.

Já entre as mulheres, da qual é esperado comportamento mais delicado e pacífico, em geral, a violência praticada por “elas” é mais psicológica e verbal. No caso de violência física, em geral no contexto familiar, suas principais vítimas são crianças ou outras mulheres.

SERVIÇO
Dissertação: As múltiplas e complexas faces da saúde do homem – um estudo da violência em Ribeirão das Neves-MG.
Programa: Saúde Pública
Autora: Rejane Alves Aparecida
Defesa: 25 de fevereiro de 2011

(Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina)