Pesquisa produzida na Faculdade de Medicina da UFMG demonstrou que o senso comum pode ser questionado: o homem não é naturalmente mais violento do que a mulher. Quem afirma é a fisioterapeuta Rejane Aparecida Alves, em sua dissertação de mestrado As múltiplas e complexas faces da saúde do homem – um estudo sobre a violência em Ribeirão das Neves - MG, orientada pela professora Elza Machado de Melo, do departamento de Medicina Preventiva e Social. Para chegar a essa conclusão, a pesquisadora analisou o discurso e opiniões de 230 moradores do município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, divididos em 30 grupos focais, por sexo, faixa etária e região administrativa. Segundo a autora, o estudo levantou dados que contradizem crenças que colocam as mulheres apenas no papel de vítima da violência. Como exemplo ela cita que, “apesar de muitas vezes o homem ser o autor do homicídio, a mulher pode estar por trás do ato de violência, como mandante. Esse dado foi mais freqüente do que imaginávamos”, afirma Rejane. Potencial de dominação A dominação de um indivíduo sobre o outro ocorre sobretudo pela posição social que ele ocupa, seu papel no contexto, e as habilidades e os atributos específicos de cada um. Esse potencial de dominação, como é chamado, determina o tipo de violência cometida, o espaço em que ocorre, quem será a vítima, os instrumentos utilizados e o agressor. A violência é uma das principais causas de morte entre homens no Brasil, sendo a primeira causa de morte na faixa etária de 1 a 49 anos. Considerando o perfil de saúde no Brasil, historicamente marcado pela diferença entre os sexos, de 1980 a 2007 os homens morreram mais do que as mulheres em quase todas as causas de morte e em praticamente todas as faixas etárias. Em 2007, por exemplo, os homens responderam por quase 60% das mortes no país. Isso significa que, em média, a cada três pessoas que morreram duas eram homens. Rejane Alves faz questão de observar que essas estatísticas e outras análises segmentadas não são suficientes para se afirmar ser o homem mais violento que a mulher. “Para explicar a origem e causas deste fenômeno é necessário uma melhor compreensão do ser humano e de suas relações, e, consequentemente da violência. Só assim será possível a adoção de ações eficazes no seu controle”, avalia. O estudo está vinculado a projeto de pesquisa do Núcleo de Promoção de Saúde e Paz do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, “que investiga as múltiplas faces da saúde do homem”. Machão De fato, os homens conseguem direcionar a violência contra seus pares, as mulheres e as crianças. Atos extremos, que gerem danos físicos graves ou mortes, são mais frequentes entre os homens, especialmente os que adotam o estilo “machão”, muito mencionado nos grupos focais. Se tudo isso, por um lado, denota certa supremacia masculina, não é raro também relações familiares onde a mulher exerça papel autoritário, quer como mãe ou esposa. O mesmo tipo de poder ocorre em qualquer ambiente onde coexistam seres humanos, podendo esse relacionamento desigual propiciar atos violentos. No caso da tríade homem-mulher-criança, a pesquisa evidencia também que a criança é a parte mais vulnerável. Seja a violência praticada pela mulher ou pelo homem. Já entre as mulheres, da qual é esperado comportamento mais delicado e pacífico, em geral, a violência praticada por “elas” é mais psicológica e verbal. No caso de violência física, em geral no contexto familiar, suas principais vítimas são crianças ou outras mulheres. SERVIÇO
Articulando as falas dos participantes com os dados teóricos - segundo a Teoria Política de Hannah Arendt - Alves observa que os indivíduos são moldados socialmente e a violência surge das relações humanas desiguais, independentemente de sexo.
Supostamente, a sociedade exige que os homens adotem determinadas condutas para se afirmarem - como ser defensor de sua honra e de sua família - e prega a soberania do sexo masculino e a subjugação do outro.
Dissertação: As múltiplas e complexas faces da saúde do homem – um estudo da violência em Ribeirão das Neves-MG.
Programa: Saúde Pública
Autora: Rejane Alves Aparecida
Defesa: 25 de fevereiro de 2011
(Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina)