Universidade Federal de Minas Gerais

Foca Lisboa
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Regina Mota: novas plataformas mudam lógica de produção de conteúdo

Redes e bases colaborativas ditam produção contemporânea de conhecimento, diz pesquisadora de mídias digitais

sábado, 7 de maio de 2011, às 11h00

O teórico da comunicação canadense Herbert Marshall McLuhan é alvo, este ano, de uma série de homenagens mundo afora. Completaria 100 anos em julho e se vivo fosse talvez exibisse aquele ar triunfal típico das pessoas que conseguem ver suas ideias resistirem ao tempo.

O autor de teses como a “aldeia global” e o “meio é a mensagem”, conhecidas até entre os não especialistas em comunicação, nunca esteve tão atual. As novas mídias, formatos e plataformas tecnológicas deram novo sentido ao pensamento de McLuhan. “Ele continua sendo o mais importante pensador da mídia eletrônica porque não fixou olhar sobre os meios que estavam diante dele, mas pensava neles de uma forma muito mais antropológica”, comenta a mcluhaniana Regina Mota, professora do departamento de Comunicação Social da Fafich e pesquisadora do Labmídia, especializado em pesquisas associadas às mídias digitais.

Regina é uma das organizadoras do evento Dissenso, que reunirá neste sábado, dia 7, pesquisadores da Repia (Residência de Pesquisa Interdisciplinar Avançada), para discutir as potencialidades de linguagem e de transmissão da TV digital, além das mudanças na produção de conhecimento proporcionadas pela interatividade, mobilidade e convergência tecnológica das novas plataformas. O evento será realizado no Conservatório UFMG, a partir de 15h.

Em entrevista ao Portal da UFMG, Regina Mota fala sobre os desafios que giram em torno do desenvolvimento de aplicativos e conteúdos capazes de transitar em diferentes plataformas. “Estamos pensando em web, TV Digital, tablets, celulares e em algo que virá”, afirma ela, para quem não há outra forma hoje de se pensar em produzir conhecimento se não for em redes e em bases colaborativas.

Percebe-se que a tecnologia e as várias plataformas (celulares cada vez mais sofisticados, tablets, TV Digital) se desenvolvem numa velocidade maior do que a capacidade da própria comunicação e de seus profissionais de trabalharem seguindo esse avanço. Como fazer para diminuir esse descompasso?
As pesquisas que desenvolvemos estão direcionadas não para correr atrás do prejuízo, mas para se antecipar. McLuhan, que faria 100 anos, continua sendo o mais importante pensador da mídia eletrônica porque não fixou olhar sobre os meios que estavam diante dele, mas pensava neles de uma forma muito mais antropológica. A partir dos meios, as pessoas se relacionam, trabalham, percebem o mundo, criam arte... Como boa mcluhaniana, tento compreender como as mídias atuais modificam a noção de trabalho, a nossa percepção e até o conteúdo produzido. Num país como o Brasil, nada é mais penetrante nos corações e mentes do que a televisão. Só que a própria televisão já não é mais televisão. A ideia do multiformato passa também por entender o que esse meio aponta em termos de prefigurar um novo espaço de interação das pessoas. E os modelos que usamos hoje sinalizam uma multiplicidade de formas de comunicação, com tendência forte de coprodução de conteúdo entre especialistas e os interessados.

Como tem se dado essa transição?
Quando formulou a tese da aldeia global, McLuhan tinha em mente que ela já era baseada em redes. As relações comunicativas se dão obrigatoriamente entre redes, pessoas e os instrumentos. Nesse nível de interação, não podemos subjugar o conhecimento trazido por nenhuma dessas dimensões. A experiência que será apresentada neste sábado (hoje) tem a ver com isso: trata-se de residência de pesquisa interdisciplinar avançada focada na produção audiovisual e que se dá em dois eixos: o projeto de uma ferramenta que chamamos de Espaço de Aprendizagem em Rede (e.AR) e em processo de criação artística. Essas duas frentes permitiram o desenvolvimento de metodologias baseadas no princípio de que o conhecimento necessário para tramar redes, pessoas e máquinas se dá em lugares diferentes. Todos, engenheiros, informatas, artistas, comunicólogos, designers, precisamos dar passinhos para fora de seu lugar para produzir esse tipo de conhecimento.

Mas você vê boa vontade nesse sentido, ou seja, as pessoas estão dispostas a sair de suas zonas de conforto em direção a algo desconhecido?
Esse é o grande desafio. Venho há 10 ou 12 anos tentando fazer isso na universidade, chamando profissionais para trabalhar comigo. Consigo um parceiro aqui, outro acolá, tudo muito acidental, eventual. É muito difícil. As pessoas estão muito voltadas para as suas áreas específicas de interesse. De fato, não é fácil alguém pensar que a dimensão da sua pesquisa cruza com a do outro e que nesse espaço de cruzamento tem alguma coisa que ninguém domina. A Universidade é o lugar onde a avaliação e a produtividade são muito importantes, e isso toma muito tempo.

Consome muita energia...
É isso, é essa energia que muitas vezes nos falta. Penso até que as pessoas têm esse desejo, mas falta energia. Não acredito mais na sala de aula, nesse modelo de um professor falando para um bando de gente. A demanda de produção de conhecimento posta pela sociedade se dá de uma forma muito mais proativa. A metodologia que desenvolvemos agora e que o Repia (que trabalha com pesquisa, experimentação e produção voltado para a arte e o universo da convergência digital) já vinha trabalhando é uma aposta real na construção de uma inteligência coletiva. Temos aqui um grupo de 20 pessoas trabalhando, jovens designers talentosíssimos de várias áreas diferentes, formatos de primeiríssima linha, e todo mundo tem que sair do seu lugar.

Essa plataforma está pronta?
O Labmídia foi convidado a participar do desenvolvimento de uma plataforma para ampliar a questão da qualificação a distância para a Fábrica do Futuro, ONG de Cataguases que é nossa parceira. Passamos 2009 desenvolvendo essa plataforma, a partir de um diagnóstico e de uma série de reflexões, e criamos a primeira versão. Depois foi criada uma segunda ainda em 2009 e uma terceira em 2010, para um festival de cinema, em que houve interação de mais de 200 pessoas – de vários estados do Brasil e até da África. Na quarta, que é a atual, trabalhamos para produzir o que, enfim, nós queríamos e vamos lançar neste sábado o protótipo do e.AR Multiformato, fruto de uma outra forma de pensar. Abolimos completamente a ideia de página, ele não é linear, ele é muito simples e ao mesmo tempo complexo. É pensado como um universo infinito, como uma série de esferas; a gente produz as conexões como se fossem constelações, essas ligações são visíveis. Na lateral temos um quadro de tags que pode direcionar o seu interesse. Por exemplo: se você quer saber sobre multiformato, basta puxar essa palavra para fora da área, e ela remete para todas as esferas ligadas a esse conteúdo. Você abre essas esferas e aí pode ter texto, ou não, pode ter cinco páginas da internet, fotos, áudio... É possível editá-las, interferir nelas, gerando seu próprio conteúdo. Ainda tem muito acerto para fazer, é um protótipo, mas vamos fazer agora a versão Labmídia e, a partir dela, customizá-la para as nossas necessidades.

Pensando no trabalho criativo e colaborativo, até onde isso pode chegar?
Com sinceridade, não vejo hoje como produzir conhecimento que não seja na forma colaborativa. Ainda estamos muito atrasados, porque toda avaliação da universidade e todo o reconhecimento se dão em função do indivíduo. Não é o grupo de pesquisa que está em questão, é o cara que lidera, os artigos e livros que ele publicou. Na universidade existe uma ideia de hierarquia muito forte e acredito que a única possibilidade de mudar essa lógica é quebrando essa hierarquia, horizontalizando a forma de produzir conhecimento. Isso significa que se uma pessoa que mora hoje em Setubinha, que tem o pior IDH de Minas Gerais, tiver acesso a uma rede colaborativa de qualidade, e se ela conseguir uma inserção também qualificada nessa rede, vai dar um salto quântico. Ela não é obrigada a passar por todas as etapas do conhecimento para alcançar a excelência.

Como os especialistas em mídia digital têm enfrentado o desafio de produzir conteúdo para as chamadas plataformas multiformato?
Esse debate que estamos propondo é uma pauta negativa, uma espécie de caixa preta. Quem está fazendo isso? Com que instrumentos? Já chegamos a um estágio em que a tecnologia está praticamente desenvolvida. Todos os problemas que limitavam a possibilidade de produzir conteúdo de uma maneira descentralizada e horizontal estão resolvidos. Isso significa que, potencialmente, cada pessoa que carrega um celular pode ser produtor e transmissor de conteúdo. Essa é uma mudança violenta de paradigma. Ao mesmo tempo, aqui no Repia, desenvolvemos aplicativos para TV digital. A nossa dificuldade de conseguir rodar esses aplicativos para teste numa TV digital, com conversor digital e com software de interatividade, é muito grande. Porque é tudo encapsulado, ninguém sabe como chegar. Eu lido com isso há mais tempo, converso com os vendedores de lojas de eletroeletrônicos, pesquiso com quem produz equipamentos, com quem desenvolve o software, e efetivamente hoje não tem ninguém que domine isso. Cada laboratório desenvolve coisas de forma absolutamente fragmentada. Para piorar essa situação, as normas praticamente inexistem.

Que obstáculos concretos vocês enfrentam?
Um exemplo: as empresas não são obrigadas a embarcar interatividade nos televisores que produzem. Se decidirem embarcar, precisam incluir os dois softwares criados no Brasil. No manual técnico não se encontra isso. A norma brasileira é totalmente frouxa. Quem faz as normas é o Fórum Brasileiro de Televisão Digital, cujos assentos estão muito determinados – são os produtores de eletroeletrônicos que ditam o que fazer. O consumidor leva gato por lebre. Descobri isso ao tentar comprar um conversor digital que permite a uma TV analógica receber o sinal digital. É um aparelho que custa R$ 200, mas não existe para vender. É o tempo de chegar à loja e acabar. Fiquei curiosa em saber que fenômeno é esse de consumo, porque não é protagonizado pelo consumidor de alta renda que compra aquela supertelevisão. É um movimento feito por quem tem uma TV analógica. Do meu ponto de vista, o estado se eximiu de estabelecer uma política pública real para o problema. As políticas públicas ligadas tanto às redes móveis quanto às mídias digitais estão fragmentadas – um pedaço na Casa Civil, outro no Ministério da Comunicações, outro no Ministério da Cultura, outro na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), e não há, efetivamente, vontade para estabelecer uma política transparente. Esse é um debate obrigatório. Meus alunos perguntam: quando alguém vai nos demandar isso? Vamos ficar de terceira, quarta mão com essa relação? Nós vendemos o sistema de TV digital brasileira para a Argentina, e ela já está nos passando na interatividade.

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