De lesões de boca a estratégias de saúde coletiva, passando por diversos outros temas. A Faculdade de Odontologia da UFMG se transforma esta semana num grande fórum em torno das pesquisas na área, e a preocupação é levar as descobertas à sociedade. “Os eventos são ótima oportunidade de refletirmos sobre a necessidade e as formas de transformar resultados de pesquisas em benefícios para a população”, afirma a professora Maria Cássia Ferreira Aguiar, uma das coordenadoras do XI Encontro Científico da Faculdade de Odontologia, realizado de 9 a 14 de maio. Simultaneamente, acontecem o XI Encontro Mineiro das Faculdades de Odontologia e a 3ª Reunião de Pesquisa Científica em Saúde Bucal Coletiva. Além de exposição de trabalhos e debates sobre o ensino da Odontologia, os encontros estimularão a discussão de temas como ética, financiamento público e a relação de pesquisadores com patrocinadores privados. “A participação de empresas nas pesquisas deve facilitar o compartilhamento do conhecimento que temos produzido”, adverte Maria Cássia. Saúde coletiva O trabalho feito pela UFMG envolve pesquisadores do Instituto de Geociências, que estudam a água e o solo da região, que é rico em fluorita, e também lança mão de filtro desenvolvido pelo Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), destinado a defluoretar a água que chega às casas. Os pesquisadores da Faculdade estão envolvidos também com grande estudo de avaliação da saúde bucal em oito municípios da região metropolitana de Belo Horizonte. Foram feitos 1160 exames para detectar cáries, doença periodontal, lesão de mucosa, perda dentária e relatos de dor. E longos questionários buscam traçar um quadro da qualidade de vida das pessoas. “Temos trabalhado em cidades do interior, com o internato rural, e a situação na capital é conhecida, mas não há muitos estudos sobre a região metropolitana”, explica Efigênia Ferreira. O projeto envolve cinco alunos de doutorado e dois de mestrado.
No nível das moléculas
Na área de Maria Cássia Aguiar, a de Patologia Bucal e Estomatologia, parte significativa das pesquisas tem foco nas doenças de boca, envolvendo desde o câncer até as lesões benignas, que geram transtornos além de perda de dentes e alterações estéticas. Segundo a pesquisadora, os estudos evoluíram e passaram a incluir análises moleculares, com a identificação de genes associados às doenças, o que pode contribuir, entre outras coisas, para o estabelecimento de novas estratégias de tratamento.
O câncer de boca mais comum é o carcinoma de células escamosas, que tem origem nas células que revestem a mucosa. Uma predição do comportamento do tumor pode ser feita através da avaliação de marcadores como proteínas e pela forma como elas se expressam nas lesões. “Mesmo quando não conseguimos saber a causa, entender a evolução do tumor é muito importante para o diagnóstico precoce e o tratamento mais eficiente”, explica Maria Cássia Aguiar, que é doutora em Patologia Bucal.
Outra linha de pesquisa trata da possibilidade de diagnóstico da hepatite C por meio da verificação de marcadores na saliva do paciente e da detecção do vírus nas glândulas salivares menores (aquelas de acesso mais fácil, nos lábios, bochechas e parte inferior da língua). Trabalhar com esse tipo de glândula e com a saliva tem vantagens como a facilidade de coleta. Segundo a professora da UFMG, a busca de marcadores para doenças na saliva é promissora e pode representar campo amplo de pesquisas.
Na área de Saúde Coletiva, uma das ações desenvolvidas por alunos e professores da Faculdade de Odontologia está relacionada ao combate, no Norte de Minas, à fluorose, doença ligada ao excesso de flúor na água de beber e que causa estrago nos dentes. Segundo a professora Efigênia Ferreira e Ferreira, coordenadora do estudo, os pesquisadores avaliam o tamanho e a frequência da doença, e as equipes tratam as crianças, restaurando dentes prejudicados estética e funcionalmente – eles ficam marrons, como se estivessem cariados, e perdem pedaços.