O jornalismo científico não é importante apenas em função das aplicações mais visíveis da ciência, como novos medicamentos, segundo o professor Yurij Castelfranchi, da Fafich. “A ciência está em tudo, do entretenimento à arte e à publicidade. Ela permeia nossos medos e sonhos, além da linguagem que usamos no dia a dia”, disse Castelfranchi, durante palestra na última terça-feira, 17, no Espaço TIM UFMG do Conhecimento. O evento contou também com a participação da jornalista e pesquisadora Luisa Massarani, vinculada ao Museu da Vida, da Fundação Osvaldo Cruz, e à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor de sociologia da ciência, Yurij Castelfranchi lembrou que a informação sobre temas científicos tem papel fundamental sobre decisões que devem ser tomadas a todo momento por pais, consumidores e eleitores. “O caso dos alimentos transgênicos, que gera tanta polêmica, dá bem a dimensão do forte papel do jornalismo científico”, ele ressaltou. Abstrata como a música Dirigindo-se a uma plateia formada sobretudo por jornalistas e estudantes de Comunicação, ele lembrou pesquisa recente do Ministério da Ciência e da Tecnologia que revelou aumento do interesse da população brasileira pela ciência, reforçada pelo sucesso de revistas especializadas e pela audiência de programas de TV que têm pauta recheada de temas científicos. “As pessoas têm fome de ver a ciência em ação, e precisam aprender a vida inteira para crescer no trabalho”, disse o pesquisador. Yurij Castelfranchi enfatizou também que o trabalho do jornalista científico é “muito mais interessante que simplesmente injetar informação em um público ignorante". Além de explicar conceitos, ele deve contextualizar a informação, abordar os diversos aspectos envolvidos, contar histórias de pessoas e descrever os métodos usados pelos cientistas”, recomendou. Linha definida A professora da UFRJ recomendou cuidado com a criação de expectativas no leitor – “é preciso ficar muito claro se um remédio está disponível no mercado ou ainda em fase de testes”, alertou – e atenção aos lances de bastidores. “Em debates como os das células-tronco embrionárias, muitas vezes usam-se pessoas e outros temas para se defenderem posições, e há casos em que os próprios cientistas enfatizam ou não determinados aspectos em função de interesses pessoais”, afirmou a pesquisadora.
Autor de diversos trabalhos sobre o assunto, Castelfranchi refutou a ideia de que os profissionais de imprensa devem “simplificar” a ciência. Para ele, é preciso mostrar que, ainda que “difícil”, a ciência faz parte da vida das pessoas. “A ciência é tão difícil quanto a economia e o esporte, que exigem especialização do jornalista. E é abstrata como são o cinema e a música”, comparou Castelfranchi, que atuou como jornalista e professor universitário na Itália, e foi professor também da Unicamp.
Segundo a jornalista e pesquisadora Luisa Massarani, o divulgador científico tem muito mais chances de atingir seus objetivos quando conhece seu público-alvo, “como ele absorve e como reage às notícias”. Ela ressaltou a importância da definição de uma linha editorial, seja para exposições, cartilhas ou revistas.
Preocupada em traduzir resultados de pesquisas sobre o tema para a prática do jornalismo científico, Luisa Massarani salientou a necessidade de se respeitarem as diferenças entre as linguagens da ciência e do jornalismo, e que o profissional deve tratar o texto como sua responsabilidade, embora deva estar sempre pronto para esclarecer pontos que possam gerar dúvidas.