Mais de 60% dos jovens acreditam que retirar o pênis antes do término do ato sexual evita a transmissão da aids. Outros 45% desconhecem o risco do compartilhamento de seringas e agulhas como forma de infecção pelo vírus. Esses dados fazem parte de pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina da UFMG e defendida recentemente pela enfermeira Luciana Ramos como dissertação de mestrado junto ao Programa de Saúde da Criança e do Adolescente. Luciana Ramos entrevistou 1.137 estudantes do ensino médio - 30% do total de matriculados - em Vespasiano, Região Metropolitana de Belo Horizonte. A partir da análise dos dados colhidos ela concluiu que não falta informação. “Eles sabem que a aids pode ser transmitida pelo sexo e reconhecem algumas formas de prevenção. Só que não sabem o que fazer com essa informação”, explica Luciana. Dos adolescentes que participaram da pesquisa, 50% não compreendem o risco de contágio em relações com vários parceiros e 60% não se atentam para a possibilidade de contágio entre pessoas com parceiro sexual fixo. “Como não conseguem pensar que um parceiro possa trair o outro, grande parte deles não avalia como necessário o uso da camisinha em relações estáveis”, destaca a pesquisadora. Em contrapartida, 81% desses jovens estão bem informados sobre o risco de transmissão do HIV pelo sexo oral e 64% deles sabem que abraços, aperto de mão e outras formas de contato social não transmitem a doença. Cerca de 80% dos adolescentes sabem que a ‘camisinha’ é uma forma segura de prevenção, índice considerado insuficiente para a pesquisadora. “Embora o número pareça elevado, ele mostra também que 19% deles ainda não reconhecem a camisinha como método preventivo da doença”, comenta. O estudo também concluiu que há necessidade de valorizar questões subjetivas, especificidades de gênero e aspectos regionais na abordagem do assunto com os adolescentes. “A forma de falar sobre o assunto com uma menina deve ser diferente da abordagem com um menino. Além disso, cada jovem pensa de uma forma e tem reações diferentes ao se tratar de sexo”, exemplifica Luciana. O mesmo vale para diferenças regionais, já que pessoas do interior tendem a serem mais conservadoras quanto às relações sexuais. Os órgãos governamentais têm investido em abordagens educativas grupais que, segundo a pesquisadora, são eficientes, mas não suficientes no trabalho com jovens. “Ainda existem tabus em torno desse assunto e a abordagem grupal inibe a clara exposição das dúvidas pessoais dos jovens”, esclarece Luciana. Sexo e família Para a enfermeira, a educação sexual deve começar o quanto antes possível, com o objetivo de dirimir dúvidas individuais, concepções e crenças que sustentam comportamentos equivocados. “Durante a pesquisa, percebemos que há uma tendência entre os jovens que usaram camisinha em sua primeira relação sexual em continuar usando o preservativo em relações posteriores. Portanto, a educação deve ser iniciada antes do início da vida sexual”, defende Luciana Ramos. O próximo passo é aprofundar o conhecimento sobre as especificidades do comportamento sexual - especialmente dos jovens - e apontar soluções práticas para o problema. Na coleta e análise de dados colaboraram estudantes de Medicina da Faculdade de Saúde e Ecologia Humana, de Vespasiano, e na produção dos artigos, a aluna bolsista Joyce Romano Lamounier. Dissertação: Conhecimentos, percepções e práticas relacionadas ao HIV/AIDS entre adolescentes escolares da cidade de Vespasiano/MG (Boletim UFMG, edição 1740)
As principais fontes de informação dos jovens são os pais, a televisão e os próprios amigos, variando de acordo com o sexo do adolescente. Entre as meninas, por exemplo, a importância da mãe como fonte de informação é muito significativa. “Como informante, a mãe também precisa ser conscientizada sobre questões relacionadas à aids”, afirma Luciana, para quem é essencial que a família seja entendida como parceira fundamental no sucesso das ações desenvolvidas.
Autora: Luciana Ramos de Moura
Programa: Ciências da Saúde - Faculdade de Medicina da UFMG
Área de concentração: Saúde da Criança e do Adolescente
Data da defesa: 22 de março de 2011
Orientadora: Christiane de Freitas Cunha Grillo
Co-orientador: Eugênio Marcos Andrade Goulart