O professor emérito da UFMG Evando Mirra de Paula e Silva é o convidado da próxima edição do Café com Conhecimento, no sábado, 9 de julho, às 11h, no Espaço TIM UFMG do Conhecimento. Um dos principais estudiosos brasileiros do tema inovação, Mirra abordará o tema Inovação e cotidiano no California Coffee, andar térreo do Espaço, que fica Circuito Cultural Praça da Liberdade. A entrada é franca. Doutor em Ciências pela Universidade de Paris, Evando Mirra é diretor da Academia Brasileira de Ciências e da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM). Segundo a Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), mais da metade da riqueza gerada em nações desenvolvidas advém de produtos e processos inovadores. Países que hoje desfrutam dessa posição privilegiada iniciaram suas políticas e práticas de inovação nos anos 1970 e as mantêm intensas nos dias atuais. O Brasil criou sua primeira e importante Lei de Inovação em 2004. Entre nossas experiências inovadoras reconhecidas mundialmente destacam-se a prospecção de petróleo em águas profundas pela Petrobras, a industrialização do pão de queijo e as urnas eletrônicas. De acordo com Mirra, apesar do avanço considerável em alguns setores, para se tornar prática intensiva no país, a inovação precisa ir além do incentivo legal e se estender para todas as práticas produtivas e sociais. A ideia de que a sociedade precisa participar como um todo e ativamente para imprimir uma nova cultura de inovação ao país é defendida pelo professor Evando Mirra nesta entrevista: Quando o senhor menciona inovação, a que conceito específico se refere? O senhor já disse em outras ocasiões que falta a participação da sociedade para que o Brasil incremente para valer a inovação. É por isso que optou por falar ao público do Espaço TIM UFMG do Conhecimento sobre essa temática? Como um espaço de divulgação do conhecimento como este sinaliza para o público a importância da inovação? No momento atual, para quais projetos ou ações inovadoras o país necessita dirigir a atenção? A sua trajetória profissional é bastante incomum entre pesquisadores brasileiros, com dedicação tanto à pesquisa e ao ensino quanto à descoberta de caminhos para colocar esse conhecimento em prática, na forma de produtos e processos. Essa separação entre pesquisa e aplicação não explica muito da nossa hesitação em nos dedicarmos à inovação como podemos e devemos? (Assessoria de Imprensa do Espaço TIM UFMG do Conhecimento)
Estou pensando em inovação no sentido de um produto novo, de um novo serviço ou de uma nova maneira de fazer as coisas.
Em realidade não é tanto a inovação, em si, que me interessa discutir. O valor da inovação está ligado às possibilidades que ela abre, hoje, para formas mais inteligentes de gerar empregos e produzir riqueza, para inserir estratégias do conhecimento no cotidiano de maneira mais lúdica e frutuosa. Essas questões precisam ser mais conhecidas, mais bem informadas, mais bem compreendidas, debatidas de maneira mais ampla e recorrente. Espaços como o TIM UFMG do Conhecimento são, de fato, preciosos, para esse contato mais difuso com a sociedade, para inserir o debate sobre o significado da inovação entre tantos outros debates necessários na cultura e na cidadania. São, ao mesmo tempo, espaços de escuta, espaços de informação e de aprendizado para todos os envolvidos nesses eventos.
A simples colocação desse tema no elenco das questões abordadas neste espaço já tem significado. Ela insere este tema no conjunto mais amplo das questões que fazem parte da vida da cidade. Além disso, uma discussão trazida aqui se beneficia da imagem deste espaço, o que se traduz em um bom ambiente para a informação e para a escuta, essencial para a qualidade do debate.
Muitos acreditam – e eu faço parte desse grupo – que o Brasil se encontra em um momento delicado de transição, em busca de um novo padrão de desenvolvimento. A questão essencial reside, nesse caso, menos nos projetos específicos de inovação e muito mais na construção coletiva da cultura de inovação. É claro que cada ação é importante. Francis Bacon lembrava que a cada descoberta avança a arte de descobrir. Isso é absolutamente verdadeiro para as atividades inovadoras. A cada ação inovadora nós nos apropriamos mais da arte de inovar. Vem daí a grande importância de conhecermos melhor o que está ocorrendo e de compartilhamos todos os ganhos, os avanços, as incertezas e as alternativas desses processos. Minas já trouxe um grande exemplo com a convergência da moderna biotecnologia e de uma atividade ancestral, como nosso tradicional pão de queijo, para gerar uma inédita indústria do pão de queijo, hoje de impacto internacional. Há empresas mineiras que são hoje líderes mundiais em inovação, como a Vallée, com seus produtos bem-sucedidos no ambiente agropecuário. Em segmento tão competitivo como as tecnologias da informação e comunicação, sucessos como o da mineira Akwan, que veio a gerar o Centro de Pesquisas da Google no Brasil, são realmente extraordinários. Esforços atuais, como o BH-Tec, o Parque Tecnológico de Belo Horizonte, são importante aposta no futuro. Vale a pena acompanhar iniciativas de forte impacto no desenvolvimento sustentável, como as do Instituto Acqua, sediado em Minas, que traz abordagem revolucionária para a tecnologia mineral, os recursos hídricos e a biodiversidade, integrados numa perspectiva inédita de valorização do território. São, entre outros, exemplos importantíssimos que merecem a atenção da sociedade brasileira.
Trajetórias desse tipo estão se tornando mais comuns entre nós, em um processo de amadurecimento da nossa capacidade de pesquisa e de nossa competência em gerar desenvolvimento tecnológico e inovação. O que elas colocam em relevo, me parece, é o fato essencial de que mudaram as nossas possibilidades. O Brasil pode hoje o que não podia anos atrás, o que não poderia sequer sonhar algumas décadas atrás. Temos hoje crescente competência em pesquisa e um robusto parque de produção que nos permitem passos mais ousados e conquistas mais relevantes. O debate da inovação no Espaço TIM UFMG do Conhecimento é, por isso, não apenas oportuno. É, eu diria mesmo, parte essencial de nosso esforço coletivo para podermos sonhar com aquilo que podemos e devemos.