Arquivo (Fernanda de Carvalho) |
Os campos rupestres, presentes principalmente em altitudes acima de 900 metros, são considerados ecossistema único pelas variações no ambiente e pela grande riqueza em espécies vegetais e endemismo. O solo de características especiais é tido como o principal modulador dessa diversidade. Em estudos para tese de doutorado desenvolvida no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, a pesquisadora Fernanda de Carvalho constatou que os solos dos campos rupestres da Serra do Cipó, que integra a cadeia do Espinhaço em Minas Gerais, abrigam alta diversidade de fungos micorrízicos arbusculares (FMA) – 23% das espécies descritas até o momento no mundo e 40% no Brasil. Além disso, o trabalho relata o primeiro registro no país das espécies Pacispora dominikii e Acaulospora colossica, e três possíveis espécies novas: duas do gênero Acaulospora e outra do gênero Scutelospora. De acordo com a pesquisadora, o achado mais relevante é a diversidade de FMA em campos rupestres, mesmo considerando que o estudo foi realizado apenas em época de seca, o que pressupõe que a variedade dos fungos é provavelmente ainda maior. “Esse trabalho confirmou a importância de estudos em ecossistemas de campo rupestre. A diversidade variou de acordo com o ambiente, mesmo com a proximidade entre eles. Isso sugere que a comunidade de plantas está intimamente ligada à diversidade de FMA”, afirma Fernanda de Carvalho. ‘Prestadores de serviços’ “Os FMA estabelecem simbiose mutualística com cerca de 80% das plantas terrestres. A planta supre o fungo com energia para crescimento e reprodução, e esse microrganismo presta à planta e ao solo serviços como absorção de nutrientes obtidos de áreas localizadas além da zona de absorção da raiz, em especial o fósforo, que é pouco móvel”, explica Fernanda de Carvalho. Além disso, de acordo com ela, os FMA aumentam a resistência da planta ao ataque de patógenos e sua capacidade de absorção de água. E ainda favorecem o sequestro de carbono da atmosfera, entre outras funções. A pesquisadora ressalta que várias espécies de plantas são dependentes dessa associação para sobreviver em solos de baixa fertilidade natural. “Por isso, o primeiro passo para explorar o significado dessa simbiose para a manutenção da riqueza de ecossistemas naturais é conhecer a diversidade dos FMA, objetivo central da minha tese”, diz Fernanda. São conhecidas 122 espécies de FMA no Brasil, mais de 50% da diversidade total (216 espécies) já identificada no mundo. Mas os estudos em geral, segundo a pesquisadora, têm se restringido a algumas formações vegetais ou ecossistemas. Seu trabalho foi o primeiro a analisar a composição específica das comunidades de FMA e a relação desses organismos com características físico-químicas dos solos e com a variedade de plantas nos diferentes habitats dos campos rupestres da Serra do Cipó (afloramentos rochosos, brejos arenosos e turfosos, cerrado e campo pedregoso). Caracterização genética A pesquisadora considera que uma de suas principais contribuições foi mostrar a grande diversidade dos FMA nos campos rupestres, e consequentemente reforçar a importância de políticas de conservação desse ecossistema. “Eles são um excelente campo de pesquisa. Afinal, por que os campos rupestres são tão ricos em diversidade de plantas e endemismo? A ligação íntima dos FMAs com a produtividade das comunidades vegetais não os torna em grande parte responsáveis por essa riqueza do ecossistema?”, questiona Fernanda Carvalho, enquanto continua trabalhando em busca de respostas. Tese: Abundância de espécies de plantas e diversidade de simbiontes radiculares em campos rupestres da Serra do Cipó, MG (Boletim UFMG, edição 1744 - siga @UFMG_Boletim)
Os fungos são microrganismos que retiram sua energia de substâncias orgânicas, tendo como principal função a decomposição de resíduos no solo. Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) não provocam, em suas associações com as plantas, alterações morfológicas nas raízes colonizadas. E eles só se propagam quando associados a plantas vivas. Com origem que remonta a entre 353 e 462 milhões de anos, eles são considerados multifuncionais no ecossistema.
Orientada pelo professor Geraldo Wilson Fernandes, Fernanda de Carvalho desenvolveu pesquisa de campo na reserva particular Velozia. Em visitas mensais, ela fez o levantamento florístico dos diferentes ambientes. Para determinação da diversidade dos fungos, utilizou o laboratório da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica (RJ). Juntamente com os estudos relacionados aos FMA, Fernanda de Carvalho iniciou trabalho com bactérias fixadoras de nitrogênio. Em pós-doutorado em curso na Universidade Federal de Lavras, prossegue nas pesquisas com essas bactérias e busca a caracterização genética dos fungos micorrízicos arbusculares.
Autora: Fernanda de Carvalho
Defesa: em 2010, no programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre do ICB
Orientador: Geraldo Wilson Fernandes
Co-orientadores: Francisco Adriano de Souza (Embrapa Milho e Sorgo) e Fatima Maria de Souza Moreira (Ufla)