Universidade Federal de Minas Gerais

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Coutinho: abordagem transversal

“O ‘ethos’ e a ‘praxis’ da ciência fazem bem à convivência humana”, defende o imunologista António Coutinho

sexta-feira, 2 de setembro de 2011, às 6h30

O português António Coutinho reúne duas qualidades muito bem-vindas ao perfil de um homem de ciências: a de pesquisador de ponta – foi apontado pelo Institut for Scientific Information (ISI) como um dos 100 imunologistas mais influentes do mundo – e a de gestor competente. Sob sua direção, o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) firmou-se como um dos 10 melhores centros de formação de doutores em biomedicina fora dos Estados Unidos. De lá saíram, na última década, 30% dos artigos científicos publicados por pesquisadores portugueses em periódicos internacionais.

Um pouco dessa dupla experiência será compartilhada com a comunidade da UFMG a partir de hoje. Nesta sexta-feira, o imunologista Coutinho fará, no auditório da Reitoria, a partir de 11h, a conferência Desenvolvimento da tolerância natural no contexto das infecções. Promovida pelo ciclo Sentimentos do Mundo e pelo Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat), abordará os progressos e as lacunas em torno do conhecimento sobre as particularidades do sistema imunológico. E na terça, dia 6, às 11h, no auditório 4 do ICB, entra em cena o gestor Coutinho para discorrer sobre a bem-sucedida trajetória do Instituto Gulbenkian de Ciência.

Nesta entrevista ao Portal da UFMG, António Coutinho lembra que a ciência ainda carrega muitas perguntas sem resposta e acredita que um centro produtor de conhecimento só terá sucesso se construir um ambiente livre e autônomo. “O ‘ethos’ e a ‘praxis’ da ciência fazem bem à convivência humana e ao bom ambiente institucional", ensina.

O senhor abordará na UFMG a questão do desenvolvimento de uma tolerância natural às infecções. Qual o grau de conhecimento que a ciência tem dessa capacidade do organismo? Que perguntas ainda não foram respondidas?
Muito se progrediu nos últimos anos, mas ainda estamos longe de compreender os mecanismos envolvidos e até mesmo de descobrir o significado mais profundo dessa tolerância na evolução das relações micróbio-hospedeiro e dos processos fisiológicos do hospedeiro modulados pela enorme massa microbiótica.

Como as doenças autoimunes são deflagradas? Há aumento de ocorrência delas na população mundial? Existem fatores associados à geografia, gênero e etnia que aumentam a predisposição a elas?
Temos assistido a um crescimento significativo da incidência das doenças autoimunes e das alergias, sobretudo ao longo das últimas décadas e nas sociedades economicamente mais desenvolvidas, que podem atingir prevalências de 10% (no caso das autoimunes) e 60% (alergias) em determinadas sociedades e grupos etários. A explicação mais frequente está relacionada com a diminuição das infecções, nomeadamente as infantis, e, particularmente, as intestinais. É uma explicação com suporte experimental, pois em muitos casos é possível prevenir a doença autoimune espontânea em animais experimentais (ratos e camundongos) por variadas infecções – a vírus, bactérias e parasitas. Todas as doenças, incluindo naturalmente as autoimunes, têm um componente de susceptibilidade ou resistência de natureza genética. Todavia, quase sempre a susceptibilidade/resistência genética só explica uma parte das origens da doença, pois a sua "deflagração" também depende, e em níveis quantitativos semelhantes, de fatores ambientais. Continua a existir muito debate, indicação clara da nossa atual ignorância sobre os mecanismos exatos dessa "deflagração", que parecem ser extremamente variados. Há até quem diga que todos somos "um pouco" autoimunes, mas que controlamos fisiologicamente a doença. Esta apareceria apenas quando a capacidade de controle do organismo diminui.

Certa vez, o senhor lançou mão de versos do poeta espanhol António Machado (Caminhante, são teus rastros o caminho, e nada mais; caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar) para discorrer sobre a capacidade do sistema imune de se renovar e de se reorganizar, ‘zerando’ a memória sobre doenças. A evolução do conhecimento sobre a natureza do sistema imune ainda permite esse tipo de analogia poética?
Eu usei essa metáfora por duas razões: primeiro porque é um dos versos mais bonitos de António Machado, um homem por quem tenho grande admiração; depois, porque descreve exatamente a evolução da vida na Terra, sem destino nem acaso. Ou seja, o verso de Machado aplica-se inteiramente à evolução biológica, portanto naturalmente, ao sistema imune. Mas nesse caso tem a ver com a evolução e o desenvolvimento do sistema que, na sua componente "adaptativa" (anticorpos e receptores de linfócitos T), é, a muitos títulos, um fractal da evolução: gerar diversidade de maneiras aleatórias e selecionar em seguida os componentes mais vantajosos no processo fisiológico.

Que novos conhecimentos o Projeto Genoma trouxe para a área de imunologia? O genoma é a janela de cura para doenças autoimunes? Sobre quais doenças os estudos estão mais avançados?
As grandes esperanças que tínhamos em relação ao Projeto Genoma para encontrar a solução (mecanismos de compreensão e respectiva terapia) das doenças autoimunes e outras doenças "complexas" (cuja base genética depende de muitos genes e do ambiente) não se verificaram. Em quase todas essas doenças, que certamente são as mais frequentes e relevantes do ponto de vista de saúde pública, o número de variantes genéticas identificadas em cada "locus" é muito grande e continuamos ignorantes, em quase todos os casos, em relação aos mecanismos de doença. Isso, naturalmente, impede o desenvolvimento de qualquer terapia racional, de base científica. Por outro lado, muito progresso se verificou com o Projeto Genoma em doenças mais raras, mas cuja determinação genética é de outro tipo: ao contrário de "muitos genes e efeitos reduzidos para cada um" nas doenças complexas, estas outras doenças caracterizam-se por "poucos genes e grandes efeitos".

O senhor declarou recentemente ao jornal português Expresso que ainda há questões-chave sem resposta na biologia, como o desconhecimento sobre a idade em que se morre de velhice e não de doença. Poderia dar outros exemplos? Como a comunidade científica internacional tem se esforçado para responder a essas questões?
Existem muitas questões fundamentais da biologia nas quais a comunidade científica não tem investido tanto quanto o seu interesse mereceria. Talvez porque não estão diretamente relacionadas com doença ou com processos que possam levar ao desenvolvimento de novas tecnologias. Ou simplesmente porque não estão "na moda". E mais provavelmente porque são questões muito difíceis, cuja abordagem não poderá ser feita apenas pela análise de genes e moléculas na qual se encontra a competência da biologia moderna. Algumas têm a ver com a determinação do tempo de vida "fisiológico", outras com o tamanho do corpo, e um terceiro grupo com o tempo de desenvolvimento embrionário, entre muitas variáveis.

O Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) é considerado um dos 10 centros de excelência em ciências biomédicas fora dos Estados Unidos e do qual saíram cerca de 30% dos artigos de cientistas portugueses publicados na última década em periódicos internacionais. Qual o segredo desse sucesso?
Não tem segredo. E se segredo existe é porque se dá total autonomia aos mais jovens, oferecendo a eles um ambiente científico, intelectual e humano de grande intensidade e qualidade. Cultivar os valores da ciência e da sua prática é fundamental. O ‘ethos’ e a ‘praxis’ da ciência fazem bem à convivência humana e ao bom ambiente institucional.

Em que áreas o IGC é mais forte?
Biologia evolutiva, biologia celular e do desenvolvimento, inflamação e imunidade, genética de doenças. Penso que a força do IGC está mais na sua diversidade e em um alto nível de interatividade e cooperação que permite que todos os temas sejam abordados de maneira "transversal".

O IGC possui algum tipo de cooperação científica com a UFMG? O senhor pretende estabelecer ou estreitar laços com a instituição?
No passado, o IGC organizou na UFMG encontros científicos ao abrigo de uma Cátedra Gulbenkian. Sobretudo, o IGC teve e tem ainda hoje o privilégio de acolher vários investigadores e estudantes da UFMG, que muito têm enriquecido o ambiente intelectual e humano da instituição. Estamos determinados a estender essas colaborações, e a minha visita tem também esse sentido. Há um protocolo de acordo Capes-IGC que permitirá, justamente, dar corpo a esses planos.

Brasil e Portugal parecem muito próximos no cenário da ciência internacional. Ocupam uma posição periférica, apesar de experiências de vanguarda, como a do IGC. O que falta ao Brasil e a Portugal para se aproximarem ou pelo menos diminuírem a distância que os separam dos países que desenvolvem ciência de ponta?
Faltam história e passado científico sólido, inovador, livre. Mas o progresso é muito claro nos dois países e espero bem que, em breve, nos encontraremos em melhor posição no contexto internacional.

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