Universidade Federal de Minas Gerais

Adriano Gambarini ®
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Pato-mergulhão na Serra da Canastra: espécie vive isolada em áreas protegidas

Pesquisadores da UFMG publicam primeiro artigo sobre genética do pato-mergulhão brasileiro; ave está em risco de extinção

segunda-feira, 26 de setembro de 2011, às 12h20

A revista científica norte-americana Conservation Genetics publicou, em sua edição on-line de 10 de setembro, um curto, mas emblemático artigo de pesquisadores da UFMG, relatando resultados do primeiro estudo sobre diversidade genética do pato-mergulhão brasileiro, feito com um objetivo nobre: contribuir para o plano de sua conservação.

Considerada a mais ameaçada na comparação com a de outros países, a espécie brasileira Mergus octosetaceus, única sobrevivente na América do Sul, conta hoje com população de apenas 250 indivíduos abrigados em áreas de preservação ambiental. Não é, no entanto, apenas o baixo índice demográfico que a tem tornado vulnerável à extinção.

“Ela é uma ave única, de fisiologia, genética e comportamento pouco estudados e extremamente sensível às alterações ambientais”, diz o professor do ICB Fabrício R. Santos, coordenador da pesquisa. Como registram os autores do estudo, a distribuição histórica do animal na América do Sul ocorreu na floresta tropical e subtropical do Atlântico e nas regiões de cerrado do Brasil, além da Argentina e Paraguai. Nesses dois países, já se encontra extinto.

No Brasil, o pato-mergulhão vive atualmente nos parques nacionais da Serra da Canastra, em Minas Gerais, e da Chapada dos Viadeiros, em Goiás, e no Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins. Sua maior população conhecida, de 80 indivíduos, se concentra na Serra da Canastra, onde existe o mais abrangente programa de manejo da espécie, executado pela ONG Terra Brasilis, parceira no estudo da UFMG.


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Veio dessa localidade uma das novidades da análise sobre a estrutura da genética populacional das aves, que pode ajudar a definir mais acuradamente um plano para sua preservação. Os pesquisadores (Sibelle Vilaça e colaboradores) identificaram duas linhagens genéticas distintas em um único grupo da Serra. “Por meio de análise do DNA mitocondrial, observamos que deve ter ocorrido contato secundário entre duas populações diferentes num período histórico recente, provavelmente em decorrência da migração de indivíduos de uma delas a partir de regiões que foram degradadas”, comenta Fabrício Santos (na foto, de Foca Lisboa).

As amostras estudadas chegaram à UFMG entre 2002 e 2008, enviadas pelas ONGs Terra Brasilis (Serra da Canastra) e Funatura (Chapada dos Veadeiros). Ao todo, foi sequenciado o DNA mitocondrial de 40 indivíduos, por meio de sangue, restos de ovos em decomposição e bulbos de penas e plumagens deixados em ninhos, além de pele de filhote empalhado originário da Argentina, de 1950.

Os estudos mostram um quase dilema: isoladas dentro das duas áreas de preservação do Brasil, as populações de patos-mergulhões já possuem relativa homogeneidade genética entre si. Porém, ainda guardam diversidade em relação aos grupos que habitam parques diferentes. “Isso indica que ainda há esperança para sua preservação”, diz Fabrício.

Ele explica que, ao longo do tempo, populações reduzidas e baixo fluxo gênico podem trazer problemas para a sobrevivência dos animais, pois nessas condições ocorre a endogamia (acasalamento entre parentes). Após o primeiro estudo genético, os pesquisadores do Laboratório de Biodiversidade e Biologia Molecular da UFMG partem agora para nova etapa, destinada a avaliar esse grau de endogamia, por meio de projeto de mestrado de Luciana Rezende.

“Há espécies de animais em que a endogamia é natural e que nada sofrem com isso. Mas ainda desconhecemos o impacto do acasalamento consanguíneo entre os patos-mergulhões”, esclarece o professor.

Bico fino
Além do precário conhecimento sobre sua espécie, do baixo número populacional e da ameaçada diversidade genética, o pato-mergulhão enfrenta outros desafios para sua preservação. “Ele vive apenas em locais sem a presença de humanos e onde há água corrente e cristalina, do qual retira seu alimento, como pequenos peixes e invertebrados aquáticos”, relata Fabrício. Essas características explicam por que a ave, identificada como territorial, vive isolada em regiões naturais protegidas.

Qualquer alteração nos rios capaz de produzir turbidez pode afugentá-la para outros locais. “É bastante difícil estudá-la e avistá-la porque é uma ave muito arisca”, acrescenta o pesquisador. O comportamento sensível do pato-mergulhão também afeta sua reprodução. Em períodos de acasalamento, por exemplo, as direções dos parques florestais costumam fechar o acesso dos turistas aos ninhos, que muitas vezes são abandonados diante da presença de humanos.

Há especialistas que consideram ter chegado o momento de realizar manejo em cativeiro da ave, para impedir sua extinção. Na primeira semana de setembro, nasceram os primeiros filhotes em criatório de Poços de Caldas (MG), como resultado dessa política. O pesquisador da UFMG considera, no entanto, que, devido às características peculiares e falta de conhecimento sobre o pato-mergulhão, a prioridade deva ser a pesquisa e ampliação de áreas protegidas nos parques. “Só assim conseguiremos aumentar a população e garantir sua sobrevivência, aproveitando a diversidade genética remanescente”, avalia. (Boletim UFMG, edição 1750)

(Assista abaixo ao making off do trabalho de Adriano Gambarini, geólogo e fotógrafo de natureza, autor das imagens do pato-mergulhão cedidas ao Boletim)

Artigo: Remaining genetic diversity in Brazilian Merganser (Mergus octosetaceus)
Autores: Sibelle Torres Vilaça, Rodrigo A. F. Redondo, Livia Vanucci Lins e Fabricio R. Santos
Endereço: www.springerlink.com/content/71231008r01830v0 ou arquivo em PDF
Patrocínio: Fapemig e Petrobras Ambiental


Making off para a National Geographic, de Adriano Gambarini, sobre o pato-mergulhão, na Serra da Canastra. Gambarini é fotógrafo de natureza (www.gambarini.com.br).

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