Universidade Federal de Minas Gerais

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Praça Sete, em 1936, quando o Centro era frequentado pelas elites e classes populares

Degradação do hipercentro de BH foi provocada também pela falta de investimentos do poder público, analisa tese do IGC

segunda-feira, 10 de outubro de 2011, às 7h15

Lugar de lazer e moradia da alta sociedade mineira, cenário para o ritual do footing e para a boemia, tomado por edificações de médio porte enfileiradas ao longo de vias arborizadas. Esse era o Centro de Belo Horizonte até o final da década de 1960 e início da seguinte, quando as classes mais abastadas começaram a migrar rumo à região da Savassi. O movimento deu início ao processo que o pesquisador Cláudio Roberto de Jesus denomina “popularização” da área central da cidade, intensificado nas décadas de 80 e 90.

Em tese de doutorado defendida no final de agosto no programa de pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências, Cláudio propõe um desvio da interpretação corrente, segundo a qual as elites teriam deixado o Centro devido à deterioração socioambiental por que passou a região. Invertendo a lógica dessa análise, ele sugere que a partir do momento em que as elites buscaram a ocupação de outras áreas, o poder público deixou de investir na região – o que teria culminado com certa degradação do espaço.

Cláudio de Jesus lembra que, desde a fundação da cidade até meados do século passado, a região era frequentada tanto por elites quanto pelas camadas mais populares. A partir dos anos 50, iniciou-se ali um processo de verticalização intensa e corte de vias, que transformou em local de passagem a área antes destinada ao convívio social. O superpovoamento da região provocou a especulação imobiliária que resultaria na migração das elites para a Savassi. “Foi a partir de então que essa área começou a se expandir como um polo comercial, de lazer e de serviços voltado para as altas classes sociais”, conta Cláudio de Jesus.

Como consequência, o Centro passou a ser frequentado majoritariamente por pessoas de origem humilde. Seguindo uma política de priorização de infraestrutura para as elites, o poder público deixou de investir na área central, o que, de acordo com o recém-doutor, “era prática comum não apenas na capital mineira, mas em outras grandes cidades do país”.

A transformação das vias centrais em corredores de tráfego intenso provocou a degradação da paisagem urbana e causou, inclusive, alterações climáticas. No entanto, para o doutor em Geografia, o estigma de deterioração do Centro de Belo Horizonte se deve muito mais à origem social dos indivíduos que por ali circulam do que à quantidade de veículos que passam diariamente pelo local.

Informalidade
Prostitutas, moradores de rua, manifestantes políticos. Frutos de conflito de classes, todos esses personagens refletem as contradições da metrópole. Foi esse o caso dos camelôs que ocuparam a área central da cidade, principalmente a partir da década de 90. A recessão econômica que o país vivia na época coincidiu com a entrada no mercado de produtos – geralmente contrabandeados – vindos da China e do Paraguai. Tornou-se um grande negócio vender essas mercadorias durante a crise, quando as pessoas começaram a buscar alternativas na informalidade. O resultado foi a proliferação de barracas na região central, especialmente nas ruas de maior movimentação, como Curitiba, Carijós, São Paulo, Caetés, Tupinambás e Paraná.

Apesar de atuarem na informalidade, esses trabalhadores recebiam autorização da Prefeitura para exercerem suas atividades. “No caso dos camelôs, as barracas eram registradas e padronizadas, e devia haver uma distância mínima entre elas”, observa Cláudio de Jesus. Muitos deles eram assalariados, que trabalhavam para o dono do negócio, mas havia também a figura dos “toreros”, vendedores sem registro que entravam “na tora” entre uma barraca e outra. Eles enfrentavam os outros comerciantes, a fiscalização e a força policial. Todas essas classes de trabalhadores, genericamente categorizadas como “camelôs”, foram afetadas pelo Código de Posturas de 2003, que proibiu o trabalho informal nas ruas da cidade. A partir de então, esses profissionais tiveram de se estabelecer em shoppings populares espalhados pelo Centro de Belo Horizonte.

Expulsão dos indesejáveis
Segundo Cláudio, além de ter sido uma exigência dos lojistas, a medida fez parte de um projeto, ainda em curso, de “revitalização” da área central da cidade. “É uma tentativa de alteração da paisagem urbana que passa pela ‘expulsão dos indesejáveis’”, analisa. Exemplos similares ocorreram no Rio de Janeiro, em Curitiba, Salvador, São Paulo e Recife. Para o recém-doutor, retirar os indivíduos marginalizados da região central da cidade é transformá-la em um espaço vazio e sem contradições. Além disso, a área passou a ser fortemente dominada pela força policial, com câmeras e agentes de segurança por toda parte, o que, segundo ele, “constitui cerceamento do próprio convívio cotidiano, pois qualquer coisa que fuja à normalidade é fortemente repreendida”.

Título: A geografia urbana do camelô belo-horizontino
Autor: Cláudio Roberto de Jesus
Programa de Pós-graduação em Geografia do IGC
Orientador: Geraldo Magela Costa
Data de defesa: 30 de agosto

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