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A solenidade de abertura do evento UFMG Conhecimento e Cultura, realizada na manhã desta segunda-feira, no campus Pampulha, foi marcada pela participação da ex-ministra Marina Silva. Em discurso sobre o desafio do desenvolvimento sustentável, ela propôs um desvio das preocupações sobre como fazer para o que queremos ser. Para a ex-ministra, a sociedade contemporânea vive uma grande crise – não só econômica, como social, ambiental, política e, principalmente, de valores. “A crise econômica é, talvez, um dos retratos mais marcantes de um problema de natureza ética que levou ao desmantelamento da economia mundial”, observou. Segundo ela, há dois bilhões de seres humanos vivendo abaixo da linha da pobreza – 16 milhões apenas no Brasil. São essas as pessoas mais prejudicadas pela sucessão de desastres naturais, pois a crise ambiental caminha lado a lado com a social. “Renunciarmos recursos de milhões de pessoas pelo lucro de poucos é nos afastarmos das condições que nos definem como seres humanos”, sentenciou. Novas perguntas Para Marina Silva, o real desenvolvimento sustentável – e não aquele que muitos usam para se promover – se dá como construção histórica. Por isso, defendeu a instauração de um processo de desadaptação criativa, baseado em novas perguntas e busca de soluções diferentes. “Durante quase todo o século XX respondemos que, para gerar energia, usava-se carvão, petróleo e gás”, argumentou. “Graças a uma visão antecipatória, alguns poucos responderam que era possível atingirmos os mesmos resultados com água, sol, vento e outras fontes secundárias", exemplificou. E completou: "A indagação do que queremos ser é o que nos leva a esse processo de busca por alternativas". Desafio ambiental Mudanças climáticas, desastres naturais e prevenção de riscos é o tema deste ano do UFMG Conhecimento e Cultura, que prossegue até sexta-feira, dia 21. Além dos mais de três mil trabalhos de graduação, extensão e iniciação científica que serão apresentados ao longo da semana por bolsistas, a comunidade terá à disposição 40 atividades, entre cursos, palestras, simpósios, workshops e mesas-redondas. A programação completa está disponível em: http://www2.ufmg.br/ufmgconhecimentoecultura/UFMG/Programacao-Geral
Marina propôs uma mudança de concepção que passa pelo questionamento do papel das pessoas no mundo. “Se não mudarmos nossa forma de produzir e consumir, inviabilizaremos as condições que promovem e sustentam a vida neste planeta”, previu. O desafio demanda ações do governo em termos de políticas públicas, dos institutos de pesquisa e desenvolvimento, das empresas e das pessoas, segundo o que ela denomina de aliança intergeracional. Ou seja, a satisfação das necessidades atuais não pode se dar em prejuízo daquelas que virão depois.
O coordenador geral do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, Carlos Frederico de Angelis, também participou da abertura do UFMG Conhecimento e Cultura como representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Doutor em geografia e ciências ambientais, de Angelis discorreu sobre o ciclo hidrológico, o regime de chuvas, os sistemas meteorológicos atuantes no Brasil e a zona de convergência do atlântico sul. Ele também discutiu as tragédias naturais e o estabelecimento de estratégias para mitigá-las.