Universidade Federal de Minas Gerais

Parceria com chineses e projeto de fundo do BNDES sinalizam novo patamar da nanotecnologia na UFMG

terça-feira, 8 de novembro de 2011, às 7h10


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Um dos quatro pesquisadores brasileiros à frente do recém-instalado Centro Virtual de Nanotecnologia Brasil-China, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o professor da UFMG Marcos Pimenta (na foto, de Diogo Domingues) avalia que a parceria científica inaugurada pelo órgão poderá abrir oportunidade para o país aprender a criar, em escala industrial, dispositivos nanoestruturados. O espaço é resultado de acordo diplomático firmado entre os dois países em abril, com a visita de autoridades brasileiras à China. Além de brasileiros, um integrante chinês, da Academia de Ciência, participa do órgão.

Em entrevista ao Portal da UFMG, o físico, um dos líderes em pesquisas sobre nanomateriais e nanociência no Brasil, fala sobre o acordo e revela que outro projeto da Universidade na área, o Centro de Tecnologia em Nanotubos, acaba de ser aprovado em duas importantes etapas visando receber apoio de fundo do BNDES para desenvolver planta pré-industrial, destinada ao desenvolvimento de dois promissores materiais: o supercimento e o plástico "turbinados" com nanotubos de carbono. "É uma ótima notícia", comemora Pimenta.

Qual é a inserção da UFMG no acordo entre Brasil e China para nanotecnologia?
Desde que o Ministério da Ciência e da Tecnologia decidiu criar o Centro Virtual Brasil-China, ele chamou quatro grupos para compô-lo. Nossa função é definir o que será o Centro. Participam o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), de Campinas, e que será sede do órgão –, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Nanomateriais de Carbono (INCTCarbono) – sediado e coordenado por mim, na UFMG – e o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). O governo sinalizou que vai liberar verba de R$ 4,7 milhões por dois anos. Ela deverá ser usada sobretudo para estabelecer missões de intercâmbio de pesquisadores e estudantes brasileiros na China e de pesquisadores e estudantes chineses no Brasil. No primeiro momento, vamos fomentar o intercâmbio e destinar também um valor para compra de equipamentos. No futuro, provavelmente, o governo brasileiro terá de pensar em mudar de patamar, em termos de investimento. No momento, os recursos ainda são modestos para se pensar em montar um Centro que tenha estrutura física, com equipamentos capazes de dar suporte a avanços maiores na área.

De universidade então há apenas a UFMG?
De certa maneira, não há uma representação institucional da UFMG nessa comissão.

É o INCT?
É o INCT de Nanomateriais de Carbono, cuja coordenação está na UFMG. O único INCT que participa é o nosso.

Um dos interesses manifestados pela China, no acordo, recai na área de grafeno. Aqui o grupo que o senhor coordena é líder na pesquisa experimental no país. O que uma parceria desse tipo pode alavancar para a pesquisa sobre o material? A China é um centro importante de conhecimento em grafeno?

Talvez seja o caso de ampliar um pouco mais essa área de interesse: não é apenas grafeno, mas também os nanotubos de carbono. Porque o nanotubo de carbono é um grafeno enrolado na forma de um cilindro. Portanto, devemos falar em nanomateriais de carbono, que inclui o nanotubo e o grafeno. A China é um dos líderes nessa área, juntamente, na Ásia, com a Japão e a Coreia. Há também os Estados Unidos e alguns países na Europa. Mas, na China, a pesquisa, e principalmente a parte de aplicações tecnológicas desses materiais de carbono, têm crescido muito - mais em nanotubos do que em grafenos, por enquanto. O país hoje já possui empresas que produzem grandes quantidades de nanotubo de carbono – são centenas de toneladas por ano e também tem centros de pesquisa e desenvolvimento de aplicações com esses materiais. Agora eles estão entrando na área de grafeno. Creio que temos a ganhar em termos do desenvolvimento de algumas aplicações.

Por exemplo...
Eles são muito fortes na área de materiais compósitos: misturam nanomateriais de carbono, nanotubo ou grafeno com outros materiais como plásticos e fibras para fazer materiais mais resistentes e peças de plástico que dissipam cargas elétricas estáticas - isso pode ser usado para carcaça de componentes eletrônicos. Nesse aspecto a China encontra-se muito avançada. Eles desenvolveram também um alto-falante baseado em nanotubos de carbono, cuja concepção é diferente dos convencionais. Outro interesse dos chineses é usar os nanomateriais em displays planos, em telas. Um dos possíveis usos do grafeno seria na produção de material ao mesmo tempo transparente e condutor de eletricidade, para os displays.
No Brasil somos fortes em termos de ciência básica, de recursos humanos e começamos a desenvolver algumas aplicações. Acho que os chineses estão mais avançados na área de aplicações em escala para produção pré-industrial. Talvez o grande benefício do Centro binacional, para o Brasil, seja aprender a transformar uma descoberta, um desenvolvimento de laboratório, para algo em larga escala, que pode ser usado na indústria, por exemplo. Chamamos isso de scale-up (escalonamento) e podemos desenvolvê-la com a experiência dos chineses.

Outro item que eles apontaram no primeiro documento do acordo é a nanoestandartização. Isso se relaciona com a metrologia aplicada a esses nanomateriais?
Exatamente, é a metrologia para nanomateriais. Cada vez mais os nanomateriais vão estar presentes em produtos. E é importante ter domínio sobre a caracterização desses materiais -se tem a dimensão específica, a propriedade desejável. Então precisamos desenvolver ferramentas para caracterizar e para obter informações metrológicas sobre os nanomateriais.

Essa é a primeira parceria do país para avanços tecnológicos e científicos em nanotecnologia?
Acho que, no plano do governo federal e como iniciativa encampada pelo MCT e Itamaraty, é o primeiro grande acordo. É claro que existem acordos entre grupos brasileiros de pesquisa em nanotecnologia e de diversos países europeus, dos Estados Unidos, Japão e Coreia, e mesmo na América Latina.

Isso indica reconhecimento do valor estratégico para o setor?
Das duas partes, acho que sim. Do lado do Brasil, nós sempre nos voltamos principalmente para os Estados Unidos e a Europa. Mas o país está começando a perceber que pode estabelecer um canal direto com os países da Ásia, e especialmente a China, que apresenta crescimento expressivo. Também os chineses demonstraram claramente que o Brasil é um país de interesse prioritário para eles, em termos de colaboração. Percebem que aqui há grande potencial em termos de recursos humanos, de massa crítica em ciência e tecnologia e em de mercado. Logo, é uma relação de interesse mútuo.

Em reunião realizada em agosto, no Brasil, foram estabelecidas definições sobre etapas de trabalho para o Centro Virtual. A primeira seria de instalação do órgão, que funcionaria entre 2011 até 2015, com sede física no Brasil. Houve discussão mais avançada sobre o que vão estabelecer no futuro?
A discussão foi sobre essa etapa do Centro Virtual. Existem intenções de que esse projeto cresça e realmente possa levar à criação de um centro físico. O que vai existir, por enquanto, será um escritório, sediado em Campinas, no Laboratório de Luz Síncroton. Mas as pesquisas serão "espalhadas" em outros centros nacionais - no Rio de Janeiro, em Campinas e Belo Horizonte. Nessa primeira etapa, tentaremos estabelecer conexões, colaborações, descobrir projetos específicos, colocar pessoas em contato.

Mas como será esse processo de identificar pesquisas e interesses mais específicos? Será entre instituições?
Isso. A primeira missão foi de natureza política e a ideia agora é fazer missões de natureza técnica, promovendo encontros e colocando brasileiros e chineses, que trabalham na mesma área, em contato. O objetivo é que daí surjam colaborações em termos de projetos específicos e que vão ser financiados com a verba que já foi aprovada.

Um jornal de São Paulo noticiou que, durante na mesma reunião ocorrida em Campinas, em agosto, foi expresso o interesse do Brasil em acordos sobretudo em nanotecnologia aplicada a projetos de sustentabilidade. Já houve então uma discussão mais específica?

Foi criada uma comissão brasileira e nessa reunião membros da comissão expressaram opiniões pessoais. Mas não existe ainda uma posição oficial brasileira com relação a isso, porque não houve uma reunião específica da comissão. Mas, de qualquer forma, acho que a nanotecnologia anda lado a lado com a questão da sustentabilidade, que está aí para tentar resolver algumas questões urgentes da humanidade. E talvez a mais urgente será fazer com que a Terra seja "vivível" nas próximas décadas e nos próximos séculos. Não há como fugir da sustentabilidade.

Quais são os nomes brasileiros que estão na comissão?
O professor Fernando Galembeck, do LNNano, que é o coordendor do Centro; José Roque da Silva, diretor do LNLS, eu e o professor Rubem Sommer, do CBPF.

Após Brasil e China, terem retomado relações comerciais, na década de 1970, o país asiático assumiu rapidamente a liderança na exportação de bens manufaturados, enquanto o Brasil tem como item mais importante nesta pauta o minério de ferro. Nos acordos na área científica, preocupa essa inserção mais demarcada da China? Um acordo com o país seria de fato uma parceria ou espécie de sugadouro de recursos humanos?

Do ponto de vista de recursos humanos, não. Até pelo contrário. Acho que o interesse maior deles é estabelecer conexões para que as empresas chinesas de base tencológica consigam se instalar no Brasil. Empresas daqui também podem usar esse acordo para entrar no mercado chinês. De modo geral estrangeiros têm temor dessa agressividade da China. Mas o Brasil pode ter uma política independente com relação a isso. É fato o que você disso: atualmente estamos vendendo commodities, matéria-prima, para comprar material acabado. Então, já estamos em desvantagem. Mas o que estamos tentando fazer é exatamente criar, agregar valor aos produtos que vendemos e promover o desenvolvimento tecnológico, para que deixemos de ser um país exportador de matérias-primas e possa vender produtos de grande valor tecnológico.

O que é parceria de tecnologia num mundo competitivo?
Meu background é em ciência básica. E em ciência básica, em geral, a troca de informações ocorre de um modo muito mais fácil. Porque, fundamentalmente, o nosso objetivo é produzir conhecimento. E isso você compartilha de forma mais tranquila. Agora, quando começa a envolver tecnologia, produtos e patentes, realmente a negociação pode ser um pouco mais difícil.

Mas esse conhecimento básico pode ser uma chave crítica para aplicações...
De modo geral, sim. Tenho colaborações com chineses, na área de grafeno. Uma estudante da Universidade de Pequim chegou agora em setembro e vai passar três meses aqui. Então é uma colaboração como outras feitas com americanos, japoneses, europeus. É um processo comum, não vejo nenhuma diferença. Mas, mesmo quando se passa a ter um produto no qual está envolvida a propriedade intelectual, eu não sei se eles são mais agressivos do que os europeus ou os americanos. Mas, de qualquer forma, propriedade intelectual é uma questão que, basicamente, tem de ser decidida por advogados, não?

Há novidades sobre o CTNanotubos?
A boa novidade é que o projeto que apresentamos para o BNDES, com a interveniência da Petrobras e da Inter Cement, empresa de cimento do grupo Camargo Corrêa, foi aprovado pela comissão técnica e pela comissão de crédito do BNDES e estamos agora resolvendo alguns detalhes, principalmente de ordem jurídica, para que obtenhamos os recursos necessários para a construção do Centro, a aquisição dos equipamentos e o pagamento de pessoal por cinco anos. Os recursos que solicitamos são da ordem de R$ 35 milhões e há possibilidade de recebermos esse apoio no início de 2012. Estamos ainda na expectativa de que o governo de Minas também venha a nos apoiar em 2012.

A proposta para o projeto ainda contempla instalação no BH-Tec?
O nosso plano é instalar o Centro no BH-Tec.

O fato de serem essas duas empresas as apoiadoras significa que terão projetos priorizados como o supercimento e os plásticos com compósitos?
Sim. A diferença entre o INCT em Nanomateriais e o CTNanotubos é que o primeiro é um projeto em que experimentamos de modo aberto várias aplicações e realizamos estudos fundamentais e aplicados. Alguns possuem aplicação em curto prazo, e outros, de longo prazo. No CTNanotubos escolhemos projetos cuja aplicação já está sendo demandada para o grupo e que vamos conseguir produzir no curto prazo. Eles serão levados para o Centro, que fará a ponte entre a indústria e a pesquisa fundamental e aplicada. Assim, produtos como o supercimento poderão ser desenvolvidos, otimizados e aumentaremos sua escala até a industrial. A tecnologia que vai resultar daí pode ser licenciada com o grupo interveniente ou ser a base de uma nova empresa.

Qual o papel da empresa interveniente nesse processo?
Basicamente, é a empresa que, uma vez desenvolvido um produto a partir de seu suporte, pode fabricar e comercializá-lo.

Ela entra com recurso financeiro também?
Sim. Por exemplo, a InterCement entra com recurso, nós desenvolvemos a tecnologia e depois ela pode vir a instalar, numa unidade de produção em larga escala, o cimento nanoestruturado.

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