Universidade Federal de Minas Gerais

Filipe Chaves
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Jacyntho Brandão: clássicos ajudam a entender fatores que interferem na constituição do nosso mundo

Clássicos são sempre contemporâneos porque continuam fazendo sentido, afirma Jacyntho Lins Brandão

quarta-feira, 30 de novembro de 2011, às 7h01

Uma olhada rápida na programação de hoje do Seminário do Fórum de Estudos Contemporâneos, que acontece no campus Pampulha, pode causar um certo estranhamento: o que faz na lista de eventos uma conferência intitulada Os clássicos e nós? A resposta é rápida: “Um texto pode ser chamado de clássico se é sempre contemporâneo”, explica o professor Jacyntho Lins Brandão, da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG, o protagonista do evento em questão, que terá início às 16h15, com mediação do professor Mauricio Campomori, da Escola de Arquitetura (leia mais sobre o seminário).

Em conversa com a reportagem do Portal UFMG, Jacyntho Brandão, que é doutor em letras clássicas pela USP e professor de grego na Fale, destrinchou essa ideia e comentou outros aspectos que pretende abordar na exposição desta tarde.

Homero: por excelência
Segundo Jacyntho, a obra clássica é a que se abre ao máximo para recepção. “(Roland) Barthes disse que clássico é todo texto legível, ou seja, que fará sempre sentido. Um clássico deve suportar ao máximo a intervenção do leitor. Um texto muito marcado numa época causa problema para o recebedor em outro contexto”, diz o professor, que diz ser Homero o “clássico por excelência”, referência de obra que pode ser vendida em edições de bolso nas bancas de jornais.

Definição complicada
É muito mais complicado atualmente que em outras épocas definir o que é um clássico, segundo o conferencista. Com a facilidade de acesso aos meios de comunicação, certas instâncias de legitimação perderam a hegemonia. “A crítica literária publicada em jornal, que era importante na definição dos cânones, já não tem quase importância”, afirma Jacyntho. Da mesma forma, a escola perdeu influência. “A educação ia seguindo uma certa linha relacionada ao cânone. Isso agora não está tão estabelecido.”

Origem
Jacyntho Lins Brandão conta que a palavra foi utilizada pela primeira vez em livro erudito romano por Aulo Gelio, no século 2 d.C. Em meio a discussões variadas, ele pedia que uma referência fosse autorizada por seu uso por um escritor clássico, não proletário. Ele fazia menção à classis, que era o topo da pirâmide social no Império Romano. “Ele transportou o conceito social para os autores. A palavra está também na origem de classe com o sentido de sala de aula. Não por acaso, uma vez que a elite é que podia frequentar escolas, estudar literatura, filosofia etc.”, explica o professor da Fale.

Informação por meios diversos
À medida que se universaliza a educação, explica Jacyntho, aumenta em tese o acesso à cultura (cultura de massa, bem entendido, movida a interesses econômicos, mas essa seria uma outra discussão), e mais pessoas têm acesso à informação. “Todos sabem, por exemplo, algo sobre Hércules, embora seja uma ideia muito superficial”, ele ressalta. Ainda em torno do tema do acesso à cultura, Jacyntho aproveita para salientar que ainda maiores que a disparidade econômica no Brasil são as diferenças de acesso aos bens culturais. Isso pode ser observado, ele diz, pelo desenho das cidades, cujas periferias têm acesso apenas à cultura de massa – programas de TV e cinemas de shoppings –, até em função das dificuldades de deslocamento.

A Bíblia
De acordo com Jacyntho Brandão, a Bíblia pode ser considerada um clássico, com pelo menos uma diferença em relação à Ilíada de Homero, por exemplo. A questão religiosa impõe um filtro para a leitura. “Não conseguimos ler a Bíblia como literatura”, ele diz. Se não fosse a “nossa” religião, leríamos de forma diferente, com mais liberdade, como leríamos um texto religioso grego, por exemplo.

‘Essas coisas são construídas’
O tema dos clássicos inspira a reflexão sobre nossas referências culturais. Segundo Jacyntho, nossa definição do que é clássico está ligada à chamada cultura ocidental, que começa na Grécia. “Se dividimos o mundo em Ocidente e Oriente, a linha divisória passa exatamente sobre a Grécia. É preciso entendermos como essas coisas são construídas. E ter consciência de que o acesso ao mundo não é direto, mas se dá através da cultura”, salienta o pesquisador.

Ele dá o exemplo dos relatos feitos pelos exploradores da América do Sul, no século 16, que davam conta da existência de amazonas nas margens do rio que seria batizado com essa inspiração. “O imaginário pode ser mais forte do que o que a gente vê na nossa frente”, ele ressalta.

Familiar e estranho
A importância de se conhecerem os clássicos passa por encontrar lá o que é ao mesmo tempo estranho e familiar, desenvolver tolerância à alteridade (já que “nossos antecedentes são nossos outros”) e aprender a cobrar menos dos antigos o que não era do mundo deles. “Esse conhecimento leva a perder a inocência, e saber quais fatores interferem, para o bem e para o mal, na constituição do mundo em que a gente vive”, argumenta Jacyntho Brandão.

Experiências compartilhadas
O professor da Fale faz referência a exposição sobre Roma Antiga atualmente em Belo Horizonte. Além de peças monumentais, os museus contêm objetos do cotidiano que nos mostram que compartilhamos muitas experiências com culturas de outras épocas e lugares. “É fundamental percebermos que a partir dessas experiências comuns foram criados livros e obras de arte que definimos como clássicos, e daí surgiram as religiões”, ele exemplifica.

A Bíblia (2)
Jacyntho Lins Brandão volta a citar a Bíblia como exemplo de construção cultural. Apesar de ser uma reunião de vários livros, não se pode admitir a ideia de contradição. “É interessante como esse pressuposto gerou enorme quantidade de reflexões que pretenderam conciliar coisas contraditórias”, ele comenta. Uma história que segue essa linha de raciocínio: a passagem do “atire a primeira pedra” ainda é atribuída ao Evangelho de João, embora estudos tenham constatado a impossibilidade dessa origem. “Mas isso não interessa tanto, ninguém vai mexer com uma história que ajudou a gerar preceitos éticos e religiosos hoje tão consolidados”, explica Jacyntho.

História do entendimento
O conferencista desta tarde destaca também que os clássicos são modelos para a produção posterior. Ele menciona que Fernando Pessoa escreveu que “deve haver, no mais pequeno poema de um poeta, algo por onde se note que existiu Homero”. Por outro lado, Jacyntho ressalta, não se deve pensar em termos essencialistas. “Uma obra clássica se modifica a cada nova obra que aparece, com a relação que o novo estabelece com ela”, diz Jacyntho. “Portanto, interessa menos o que Homero queria dizer para Homero do que a história de como ele foi entendido nas várias épocas.”

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