Universidade Federal de Minas Gerais

Pesquisas arqueológicas no Norte de Minas indicam que plantas foram domesticadas há cerca de seis mil anos

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011, às 9h05

A domesticação de plantas – que envolve procedimentos como escolha de grãos e deslocamento de culturas, além do tratamento dos alimentos para o consumo – provavelmente foi praticada há cerca de 6 mil anos por grupos no Norte de Minas Gerais. A constatação é de equipe de arqueólogos da UFMG e pesquisador da Embrapa Brasília que desenvolvem pesquisas com material coletado em sítio na cidade de Buritizeiros, que fica na margem do Rio São Francisco.

Segundo a professora Maria Jacqueline Rodet, do Departamento de Sociologia e Antropologia da Fafich, os trabalhos de análise realizados em sedimentos coletados sobre mós (pedras usadas no processamento de alimentos) que acompanhavam sepultamentos pré-históricos indicam a presença de grãos de amido. A análise desses sedimentos está sendo realizada na Embrapa de Brasília e também no Laboratório de Ciência de Conservação (Lacicor) da Escola de Belas-Artes (EBA) da UFMG.

Maria Jacqueline Rodet e o arqueólogo André Prous, também professor da UFMG, investigam o sítio de Buritizeiro desde 2005. Eles encontraram um cemitério com 43 sepultamentos, e ainda não foi possível definir quantos indivíduos estão enterrados ali. Mas já se sabe que são ossadas de homens, mulheres e crianças. “Achávamos que só adultos estariam enterrados, mas encontramos crianças também”, informa a pesquisadora, acrescentando que os ossos estão sendo estudados em laboratório da USP. Ela informa ainda que o material é muito bem datado, e não restam dúvidas de que aqueles indivíduos viveram no local há entre 5 e 6 mil anos.

A própria descoberta das ossadas em ótimo estado de conservação foi surpreendente, uma vez que se trata de um sítio a céu aberto e na margem do rio. O solo ácido não deveria, em princípio, conservar ossos, que têm PH básico. O “milagre” da conservação tem uma explicação, segundo a arqueóloga. “O mais provável é que a apatita {elemento químico básico} que se desprendeu dos ossos tenha transformado o solo, que perdeu a acidez”, explica a arqueóloga.

Pescadores

Nas proximidades do sítio arqueológico de Buritizeiro, a existência de uma cachoeira que reúne águas calmas e batidas ajuda a explicar a presença de comunidades pré-históricas. O surubim precisa do remanso para descansar e da água batida para a reprodução. “Até hoje comunidades ribeirinhas aproveitam a piracema para instalar armadilhas. Aquele é um lugar de muita pesca. É possível que um grupo que tenha vivido nas proximidades de um grande rio como o São Francisco possa ter desenvolvido tecnologias para a navegação, como canoas. Os pré-históricos de Buritizeiro utilizaram muitos seixos de quartzito, os quais ainda não encontramos nas proximidades. Teriam eles navegado até lugares mais distantes para buscar as rochas que necessitavam?”, indaga-se Maria Jacqueline Rodet.

No que se refere às pedras maiores que acompanhavam os sepultamentos, a pesquisadora afirma que eram usadas como mós e bigornas, para quebrar outras pedras e vegetais. E, como têm características diferentes, é possível que tenham tido funções também distintas. Esse material está sendo analisado com a participação do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da EBA.

“Eles iam a outras partes do rio para buscar seixos (pedras de arenito e quartzito) de morfologias específicas, e lascavam de inúmeras maneiras, com diferentes graus de complexidade”, afirma Maria Jacqueline Rodet. Ela destaca ainda outras duas descobertas: um fragmento de ponta de projétil teve contato com o fogo antes e depois do lascamento, o que pode significar que havia a intenção de transformar a matéria-prima por meio do calor para melhorar sua aptidão ao lascamento; e, além da utilização de percutores de pedra, as populações daquela região utilizavam também a chamada percussão macia, ou seja, lascavam as pedras com madeira.

Os pesquisadores da UFMG encontraram também pontas em ossos (de formas variadas) de animais como veado, anta e porco-do-mato, o que indica que, além de pescar, aquela população se dedicava à caça, apesar da fartura de peixes.

Valor simbólico

A descoberta do cemitério em Buritizeiro revelou outro aspecto considerado fundamental pelos arqueólogos. As peças feitas de ossos e de pedras estavam nas mãos dos mortos e ao lado ou sobre os corpos (neste último caso, provavelmente foram enterradas em cestos de fibras que se decompuseram).


“É fácil imaginar o valor simbólico desses instrumentos, que representavam para aqueles homens e mulheres a possibilidade de pôr em prática conhecimentos e habilidades desenvolvidos ao longo de milhares de anos, como os de lidar com vegetais que precisam do homem para se reproduzir”, comenta a pesquisadora.

As pesquisas no sítio de Buritizeiro têm financiamento do CNPq, da Fapemig e da Missão Franco-Brasileira, com participação da Fafich, da EBA e do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG.

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