Pesquisa realizada em três hospitais de Belo Horizonte, a partir da análise de mais de 2,6 mil receitas, revela problema bem maior que a famosa letra ilegível dos profissionais da Medicina. O índice de erro na indicação do cloreto de potássio, substância que pode levar à parada cardíaca se mal-administrada, chega a 97%. Falta de informações sobre a concentração e via de administração do medicamento foram os principais erros constatados na pesquisa. Problemas que poderiam ser evitados com a adoção de medidas simples, adaptadas à realidade de cada hospital, sem necessidade de altos investimentos. Uma das sugestões é a padronizar as prescrições, a partir de um modelo com todas as informações necessárias para a dispensação e administraçãocorreta dos medicamentos indicados para os pacientes. A proposta é do farmacêutico Mário Borges Rosa, autor de tese de doutorado defendida na Faculdade de Medicina da UFMG. O estudo foi realizado em três fases. Na primeira, foram analisadas prescrições de medicamentos potencialmente perigosos, para decidir quais seriam as substâncias observadas no estudo. Os escolhidos foram a heparina não-fracionada, que tem função anticoagulante, e o cloreto de potássio injetável, utilizado na reposição de sais e eletrólitos, substâncias fundamentais para a realização de vários processos em nosso corpo. A heparina foi o medicamento com maior número absoluto de erros em prescrições, equivalente a cerca de 75% das 1987 prescrições analisadas. Já para o cloreto de potássio, o índice de erro chegou a 97% das 680 prescrições. Este medicamento é extremamente perigoso, podendo causar parada cardíaca caso não seja diluído da maneira correta. Intervenções O padrão de prescrição foi sugerido pela primeira vez na terceira fase, resultando em uma redução de aproximadamente 25% dos erros de prescrição. Na comparação entre as medidas utilizadas em cada fase, as que foram introduzidasapenas na última fase surtiram mais efeito. “As medidas educativas tiveram efeito apenas passageiro. Para que a mudança seja efetiva é necessário que ela seja acompanhada de outras ações”, recomenda Mário Borges Rosa. Padronização A redução dos erros após a adoção do padrão e o melhor desempenho de setores onde o trabalho é mais padronizado são argumentos que o autor utiliza como justificativa para um processo de informatizaçãoda prescrição. Para ele, seria uma forma de garantir que uma prescrição contenha todas as informações necessárias, com a legibilidade adequada. “Já existe legislação sobre prescrição, mas em geral ela não é usada da maneira mais correta”, afirma. Tese: Erros em prescrições com medicamentos potencialmente perigosos em três hospitais sentinela de Belo Horizonte (Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG)
As duas fases posteriores da pesquisa foram de intervenções no cotidiano dos médicos dos hospitais analisados. Na segunda fase, foram distribuídos folders aos profissionais, ao mesmo tempo que eram colocados cartazes e banners da campanha nos ambientes hospitalares. Já na terceira fase as ações foram mais direcionadas, com orientaçãopara os prescritores nos locais de trabalho.
Um dado interessanteobservado na pesquisa foi o menor número de erros em áreas mais críticas do hospital, como centros de terapia intensiva (CTIs) e setor de queimados, na comparação com setores onde são atendidos casos de menor gravidade. Segundo o farmacêutico, possivelmente isso se deve aos processos de trabalho mais padronizados nesses setores, exatamente por se tratarem de pacientes mais críticos. Outro detalhe é a similaridade dos quadros clínicos apresentados por esses pacientes, o que facilita o trabalho do médico.
De Mário Borges Rosa
Programa de Pós-graduação em Infectologia e Medicina Tropical
Orientador: Renato Camargos Couto
Defesa: 5 de agosto de 2011