Escrito em colaboração com Lilian Pereira Campos, professora da Universidade Federal de Itajubá, e Euler Santos, mestre em inovação tecnológica e sócio de Rochel na Verti Ecotecnologias, o livro conta a trajetória do personagem João, pesquisador que tem nas mãos sete cartas de um mentor japonês com as recomendações para tornar-se um empreendedor. Destinado a estudantes de graduação, pós e professores-pesquisadores das áreas de ciências naturais, engenharias, farmácia, veterinária, administração e economia, As cartas de Tsuji discorre sobre temas como propriedade intelectual, estudos de mercado, perfil empreendedor, plano de negócio, captação de recursos e importância de network. “Queremos estimular a comunidade acadêmica a investir na transferência para o mercado do conhecimento produzido na universidade”, resume Rochel Lago, que foi coordenador da Inova-UFMG entre 2006 e 2007, e tem no currículo participação no registro de mais de 20 patentes. Cada uma das sete cartas lacradas mostrará a João uma parte do caminho de sua saga de empreendedor. Tsuji Sensei, o responsável pelas informações, foi um engenheiro eletrônico japonês que passou a infância em um mosteiro zen budista – a filosofia aparece na história em diferentes momentos – e mais tarde seguiu para o Vale do Silício para desenvolver semicondutores e o computador pessoal, vivendo o auge da disputa intelectual e comercial que opôs Estados Unidos e Japão. Ele e João se encontram quando Tsuji é convidado a abrir uma empresa no Brasil. João, por sua vez, é filho da união entre um português dono de padaria – empreendedor sem conhecimento científico que questiona o filho sobre a utilidade das pesquisas – e uma filha de imigrantes alemães, mais refinada. No processo de transformação dos resultados dos seus estudos, ele tem a companhia de uma aluna de pós-graduação, Cristina, e outro de graduação, Carlos. A caracterização desses personagens exemplifica a preocupação de Rochel Lago com a construção da ficção. “Carlos enfrenta dilemas religiosos, problemas financeiros e familiares, e está desmotivado. Cristina está abandonando a acomodação de um longo namoro e resolve experimentar a liberdade em diversos aspectos. Sua aptidão para os negócios soma-se à prática do montanhismo, e ela terá grande importância na abertura da empresa”, conta o autor. “Ambos têm características que encontro, de forma geral, em meus alunos.” ‘Quem vai ler?’ A história do pesquisador-empreendedor-romancista começou há seis anos no Canadá, onde Rochel Lago fazia pós-doutorado em Empreendedorismo Tecnológico. Convidado a escrever um artigo de 30 páginas sobre o tema, ele optou, a princípio, pelo formato tradicional, “quadrado”, mas logo se perguntou: “Quem vai ler esse texto?” Suspeitou que não interessaria a ninguém, e mudou o rumo da prosa. Criou uma pequena história com o passo a passo da criação de uma empresa de base tecnológica. Ainda naquela época, ampliou o material e chegou ao que estima em 40% do livro recém-lançado. “Voltei para o Brasil, assumi a Inova e não mexi mais no assunto. Só no ano passado retomei a história”, conta Rochel. Como não conseguia conciliar a invenção do romance com a pesquisa para a composição dos quadros informativos, ele teve a ideia de convidar Lilian Campos e Euler Santos. O livro não é linear “nem no tempo, nem no espaço”. Essa é uma das estratégias do autor para prender o leitor. Estreante como autor de ficção, Rochel Lago diz que só sentiu certo conforto nessa incursão inicial porque domina inteiramente o assunto. “Os personagens foram construídos com cuidado, assim como diversas situações, mas a história também tomou rumos inesperados”, ele revela, admitindo que o livro tem muito de autobiográfico. Mais que reconhecimento como ficcionista, ele pretende contribuir para mudar a cultura da universidade no Brasil. “Professores e alunos têm papel fundamental na transferência de conhecimento para a sociedade, mas ainda não há consciência disso”, alerta. Segundo o professor Louis Jacques Filion, da Hautes Études Commerciales, de Montreal, no Canadá, a obra mostra o empreendedor tecnológico de uma perspectiva pouco conhecida – a humana. “Essa forma de apresentar os questionamentos (...) e a evolução de uma pessoa que se engaja em atividades de inovação (...) ajudam a entender certos aspectos sobre a formação da alma empreendedora”, escreve Filion na apresentação de As cartas de Tsuji.
Augusto Lacerda
Que tal aprender sobre as imbricações entre pesquisa, inovação e empreendedorismo por meio de uma leitura que mistura ficção, autobiografia e quadros elaborados com fins didáticos? A proposta é do professor Rochel Montero Lago, do Departamento de Química do ICEx, que acaba de lançar As cartas de Tsuji (Editora UFMG).