O poeta não se sentia um editor, dizia que somente imprimiu livros de amigos e justificou a compra da impressora por razões terapêuticas: “Eu andava com problemas de saúde e o médico me aconselhou a fazer ginástica. Em vez de fazer ginástica sueca, eu resolvi comprar uma prensa manual. Trabalhar nela era quase a mesma coisa que fazer exercícios”. O nome O Livro Inconsútil foi sugerido por Manuel Bandeira, para render homenagem aos livretos de cadernos não costurados. Obras de arte que, segundo ele, se relacionam com a própria poética de João Cabral na forma de compor, na tipografia moderna e na qualidade do papel. O poeta e editor teve como mestre Enric Tormo, impressor das litografias de Miró, para quem dedicou o poema Paisagem tipográfica. Manuel Bandeira, Joaquim Cardozo, Lêdo Ivo e Vinícius de Moraes foram alguns dos poetas brasileiros editados pelo O Livro Inconsútil. O artista catalão mas foi Joan Brossa quem teve a inédita experiência: “Foi a primeira coisa minha que vi em letra impressa. Cabral era um impressor bastante talentoso”. As obras impressas sob o selo O Livro Inconsútil são Psicologia da composição, de João Cabral de melo Neto (1947); Mafuá do malungo, de Manuel Bandeira (1948); Cores, perfumes e sons, de Charles Baudelaire (1948); Pequena antologia pernambucana, de Joaquim Cardozo (1948); Acontecimento do soneto, de Lêdo Ivo (1948); Corazon en la tierra, de Alfonso Pinto (1948); Alma em l aluna, de Juan Ruiz Calonja (1948); O cão sem plumas, de João Cabral de Melo Neto (1950); Sonets de Caruixa, de Joan Brossa (s.d.); El poeta comemorativo, de Juan Eduardo Cirlot (s.d.); Pátria minha, de Vinicius de Moraes (s.d.); Antología de poetas brasileños, de Alfonso Pinto (s.d.); O marinheiro e a noiva, de Joel Silveira (1953); e Revista Trimestral – O cavalo de todas as cores (1950). João Cabral: Impressor exibe quatro livros representativos de sua produção: Acontecimento do soneto; Cores, perfumes e sons; Cão sem plumas e O marinheiro e a noiva. A mostra poderá ser visitada até 20 de abril, de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. O Centro Cultural UFMG fica na Praça da Estação, na avenida Santos Dumont, 174, esquina com rua da Bahia. Mais informações pelo telefone 3409-8285. (Assessoria de comunicação do Centro Cultural UFMG)
Em sequência à série de exposições g{livro}abinete, o Museu Vivo Memória Gráfica, parceria do Centro Cultural UFMG com a Escola de Belas-Artes, inaugura hoje (terça, 13), às 19h, a exposição João Cabral: Impressor, sob a curadoria de Flávio Vignoli, professor de Design da Fumec.
João Cabral iniciou sua arte como impressor em 1947, ao ser transferido para o Consulado Geral de Barcelona como vice-cônsul, quando comprou uma impressora manual Minerva para imprimir livros de poetas brasileiros e espanhóis sob o selo O Livro Inconsútil. Durante o final dos anos 40 e início de dos anos 50 ele produziu 14 livretos que não chegaram a entrar no circuito comercial.