Luiza Bongir/UFMG |
Sem deixar de abrir trilhas inexploradas em suas pesquisas científicas, países como o Brasil devem adotar a chamada inovação incremental, que se caracteriza por “pequenos saltos” em relação a tecnologias já existentes. É o que sugere a pesquisadora Juliana Corrêa Crepalde, que lança nesta sexta-feira, dia 15, em evento na UFMG, livro sobre desenvolvimento tecnológico. Ela explica que as inovações se dividem em incremental e radical. O melhoramento de uma formulação de medicamento, para diminuir seus efeitos colaterais, seria, por exemplo, resultado da primeira modalidade, enquanto a descoberta de nova classe farmacêutica se inscreveria no modelo de inovação radical. Juliana Crepalde propõe que o Brasil siga esse primeiro caminho, como estratégia para consolidar o aprendizado e, em estágio posterior, alcançar novo patamar tecnológico. “A inovação radical contém muito mais riscos. Se ela dá certo, proporciona mais retorno, mas a modalidade incremental oferece um controle maior desse desenvolvimento”, compara ela, ao destacar que tal estratégia é adotada por países como o Japão. A autora vê ainda o viés social da inovação incremental, ao destacar os benefícios para a população com o melhoramento dos medicamentos já em uso. “A opção pela inovação incremental, no entanto, não exclui a radical”, ressalva. Papel da universidade pública Na obra Parcerias tecnológicas e inovação incremental na indústria farmoquímica e farmacêutica nacional, fruto de dissertação de mestrado, a pesquisadora propõe parcerias tecnológicas entre instituições científicas – que detêm acúmulo de conhecimento –, governo e empresas do setor farmoquímico (de insumos e matérias-primas) e farmacêutico. “Acreditamos que essa aproximação vai alavancar o desenvolvimento da indústria química e farmacêutica no Brasil, além de trazer benefícios sociais”, afirma. Entre os ganhos advindos dessas parcerias, Juliana cita uma maior autonomia tecnológica para o país, além da criação empresas mais competitivas e da geração de impostos. Outro fator importante, segundo a pesquisadora, é o desenvolvimento de novas profissões, com a capacitação de pessoas para gerar a propriedade intelectual. “Não é trivial lidar com as etapas da proteção de medicamentos ou trabalhar com todas as frentes de gestão da inovação tecnológica”, diz Juliana, que coordena o setor de Parcerias, Avaliação e Transferência de Tecnologia da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG, que está completando 15 anos de atividades. Em sua opinião, o Brasil precisa organizar esses setores – nos âmbitos público e privado – para ampliar competências internas. “As parcerias tecnológicas vão levar ao amadurecimento do sistema nacional de inovação”, reitera. Arcabouço jurídico Graduada em Direito, Juliana analisa os arcabouços nacional e internacional da proteção intelectual, que considera aspecto fundamental para a inovação. “Sem proteção intelectual as empresas não desenvolvem novas tecnologias, pois é a patente que assegura o investimento”, explica. O que a motivou na pesquisa, diz, foi verificar que em termos de legislação o Brasil está “bem preparado, em consonância com o que se faz em outros centros de referência, como Estados Unidos e Europa”. Ele também verificou que o país “possui instituições como a UFMG, que soma vocação na área de biotecnologia e fármacos com papel fundamental e pioneiro na gestão da inovação”. Ao analisar o perfil das empresas nacionais da área farmacêutica, Juliana afirma que elas se desenvolveram muito na área de genéricos – medicamentos para os quais não mais existe a patente – mas precisam avançar e fazer inovação. Em sua opinião, o Brasil sempre teve vocação para desenvolvimento tecnológico, mas não consolidou ainda a cultura da proteção da propriedade. Outro aspecto importante da pesquisa, segundo a autora, é a integração dos aspectos jurídico e tecnológico. “Foi um desafio para mim, por ser uma área nova, em que o Direito precisa se aprofundar”, comenta. Autora: Ana Rita Araújo
Para Juliana Crepalde, ao participar do sistema de inovação, a universidade dá mostras da relevância social de sua atuação. "Isso é tão importante quanto focar sua atuação no tradicional tripé ensino-pesquisa-extensão".
No mestrado, defendido na UFMG em 2010, Juliana foi orientada pelos professores Roberto Luiz Silva, que atua na área de direito internacional público, e Rubén Dario Sinisterra, pesquisador das áreas de química farmacêutica e inovação tecnológica.