Universidade Federal de Minas Gerais

Fotos de Luiza Bongir/UFMG
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Gilberto Libânio: China sofisticou sua pauta de exportação

Parceria com a China pode ter alto preço ambiental para o Brasil, analisa pesquisador da Face

sexta-feira, 22 de junho de 2012, às 5h53

O presente e o futuro da economia mundial são tratados por muitos, em artigos de jornal ou mensagens apócrifas que chegam por email, com tom de sensacionalismo, em grande parte em função do papel da China, acusada de roubar tecnologia e empregos do resto do mundo, desrespeitar o meio ambiente e direitos trabalhistas básicos. Para o professor Gilberto Libânio, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, essas especulações se justificam, em parte. Nesta entrevista ao Portal UFMG, o pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar) analisa, entre diversos aspectos, a trajetória da economia chinesa nos últimos anos, as dificuldades de se fazerem prognósticos e os efeitos diferentes sobre as regiões e estados brasileiros. “A China quer explorar minério no Brasil sem se preocupar com meio ambiente”, afirma Libânio, que é doutor em Economia pela Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos.

Como a China chegou a merecer todo esse destaque nas preocupações de economistas e leigos?
Não podemos descrever a dinâmica da economia mundial nos últimos dez anos sem considerar a China. E daqui pra frente, pelo menos até onde a gente enxerga, não será possível falar da economia mundial sem falar da China. O país entrou na OMC em 2001, e isso representou uma possibilidade de expansão no comércio internacional. A partir dos anos 2000, a China ampliou sua participação, que era marginal, para um nível que a coloca, ao lado dos Estados Unidos, entre os dois países com maior fluxo de comércio.

E ela fez isso dando peso fortíssimo à produção e exportação de produtos manufaturados. Foi política deliberada do governo chinês, estratégia de desenvolvimento. Mas houve uma alteração interessante, que observamos nas pequenas coisas. No ano 2000, quando se lia ‘made in China’, eram em geral produtos simples e de baixa qualidade, brinquedinhos de plástico, reloginhos que estragam em dois dias. E a China foi avançando naquilo que a gente chamaria de conteúdo tecnológico das exportações. Atualmente, um notebook da Apple de última geração tem escrito “concebido na Califórnia, manufaturado na China”. Eles saíram da posição de exportar apenas produtos de baixíssima tecnologia e muitas vezes de baixa qualidade. A entrada da China em termos de competitividade internacional foi por aí: mão de obra barata, produto de qualidade duvidosa, muita pirataria, muito pouco respeito aos direitos autorais, formas que não são as mais apropriadas de absorção de tecnologia. Mas ao longo da década eles foram sofisticando a pauta de exportação.

E as práticas foram se tornando mais lícitas?
Também. Aí entra a atração de empresas multinacionais. Características como a mão de obra barata começaram a atrair as multinacionais. A economia americana sofreu muito isso desde meados dos anos 90. Uma boa parte do que se chama de desindustralização no Brasil, os Estados Unidos já tiveram. Parte disso por conta da atração de multinacionais pela China. Exemplo forte é a indústria de vestuário, as grandes marcas foram para lá. Mas isso vale também para automobilística, siderurgia, outros setores. Uma característica do desenvolvimento chinês é que o governo exigia que cada empresa que chegasse ao país estabelecesse parceria com uma empresa chinesa. E a tecnologia que a multinacional detinha era passada para o parceiro local. Com isso, o país foi absorvendo tecnologia. Mas a China fazia muito também a engenharia reversa, em que você importa um produto, desmonta ele todo para entender como funciona e copia. Enfim, por diversos canais, ela foi avançando tecnologicamente, e hoje está no nível dos países avançados em termos de exportação de produtos de alta tecnologia.

Com fica a relação com o Brasil, considerando que a China importa muito os produtos primários?
Esse é o outro lado da moeda, e talvez o mais relevante para o Brasil, e para Minas Gerais mais ainda. A China é o maior importador mundial de produtos primários. A gente sempre ouviu que exportar produto primário é ruim porque não tem valor agregado, gera pouco emprego etc. E existe uma proposição clássica do desenvolvimento econômico que diz que a dinâmica de valor dos produtos primários é pior ao longo do tempo que a dos bens manufaturados, porque estes a cada dia têm uma inovação e seus preços são mantidos elevados. Mas o que aconteceu nos anos 2000 foi o contrário. Houve um barateamento geral de bens manufaturados, exatamente pela concorrência da China, que inundou o mundo de produtos a preço de banana, de um lado; e de outro lado o encarecimento de produtos primários, commodities agrícolas e minerais, por causa do excesso de demanda da economia chinesa. O Brasil se beneficia pela exportação de soja, café, minério de ferro – e nesse caso Minas Gerais e o Pará são os dois grandes exportadores no Brasil. Ao longo da década os preços mais que duplicaram.

A entrada da China na OMC obrigou a que ela se ajustasse às regras?
Algumas coisas ela fez, quanto a outras é dífícil saber porque a informação só vem de fonte oficial. Há desconfiança de que parte dos dados que servem para análise da economia chinesa são maquiados. Mas acho que, hoje em dia, os dados que a China mais esconde são políticos e relacionados a direitos humanos. Os dados econômicos são bons mesmos, a China cresce mesmo, tem uma taxa de investimento altíssima. E a trajetória das exportações e importações não é possível esconder, porque os dados são do comércio internacional, e há outras fontes. Esses números são coerentes com os dados fornecidos pela China.

Quais são os fatores do crescimento chinês?
As pessoas perguntam o que faz a China ser tão competitiva, por que é tão difícil concorrer contra os chineses em produtos manufaturados. O país passou por reformas econômicas nos anos 1970, e tem uma política muito clara, coerente, entra governo, sai governo, com pequenos ajustes. A política industrial é muito voltada para exportação de manufatura, isso significa que a indústria tem uma série de vantagens para exportação. O fato de terem mão de obra barata é porque ela é muito abundante. Metade da enorme população da China ainda é rural, e há controle migratório. Para sair do campo para a cidade, é preciso provar que tem emprego na cidade. Ora, à medida que a indústria vai se expandindo e precisando de mais mão de obra, o governo libera a migração. Ou seja, existe uma espécie de exército de reserva para continuar alimentando a necessidade de crescimento da indústria sem pressionar o salário para cima.

E essa massa não está toda ocupada na terra, até porque determinados setores da produção agrícola já estão mecanizados em larga escala.
Até está ocupada, mas no esquema de agricultura familiar, de baixa produtividade. E o governo tem mecanismos para ir dosando isso. É tudo muito controlado. Então, a mão de obra barata é consequência dessa dinâmica, só que mão de obra sozinha não explica. Há ações do governo em termos de política industrial. Há essa característica de forçar absorção de tecnologia através de vários canais, e eles produzem numa escala muito grande, porque o mercado deles é grande e ainda tem o mercado mundial inteiro. Além disso, há políticas macroeconômicas de isenção de impostos para determinados setores, imposto de exportação sobre commodities, uma política cambial agressiva, que inclusive é motivo de polêmica e de atrito com os outros países, com os EUA em particular.

Essa relação é complicada, não?
A relação comercial China-EUA é cronicamente desequilibrada, os EUA têm um déficit comercial com a China muito grande, há anos. E uma das coisas que ajudam a alimentar esse déficit é a política cambial chinesa. Ela mantém sua moeda desvalorizada, o que dá competitividade para exportação de seus produtos e encarece as importações. Em 2007, George W. Bush, então presidente americano, visitou a China. Em seu discurso, depois das amabilidades de praxe, resolveu dar duas caneladas. Uma sobre a questão dos direitos humanos: era importante que a China avançasse em direção aos direitos humanos e democracia, porque os países que o fazem são sociedades mais prósperas e mais felizes etc. O segundo recado: era preciso que a China revisse sua política de excessiva desvalorização artificial da moeda porque isso gera desequilíbrio entre parceiros. No dia ninguém respondeu nada, mas bastou o Bush ir embora e o primeiro-ministro chinês deu uma declaração curta e grossa: “concordo com o presidente Bush que somos países irmãos, parceiros, mas da mesma forma que não vou dar palpites nos assuntos dele, não aceitamos ingerências aqui”. Isso mostra que a China faz o que é preciso, inclusive do ponto de vista ambiental.


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A propósito, o embaixador chinês no Brasil deu entrevista há pouco tempo afirmando que o país quer mudar sua imagem na área da sustentabilidade.
Esse é um assunto recente, eles de fato não tinham preocupação ambiental nenhuma. Era a história de quebrar os ovos para fazer a omelete. Sabiam que teriam um custo ambiental, mas resolveram arcar com isso para crescer. Vale para poluição atmosférica, poluição dos rios, desmatamento etc. Esse discurso de sustentabilidade, começaram a exportar agora. Participei de um programa de televisão em que o entrevistado principal era um representante da câmara de comércio China-Brasil, subordinado ao governo chinês, e o discurso dele aqui foi de que o Brasil cria muitos entraves na questão do meio ambiente, e muitas vezes é mais duro na proteção dos “bichinhos” que na proteção das pessoas. Disse que preocupação com o ambiente deve servir para tirar as pessoas da pobreza. Esse era o discurso oficial, entre outras coisas porque a China começou a entrar no Brasil como comprador de empresas de mineração. E quer vir aqui explorar minério sem se preocupar com meio ambiente.

E eles estão mudando internamente?
Por enquanto eu sei que existe o discurso. A prática lá dentro do país não sei ainda se mudou.

Mas eles não precisam efetivamente mudar no tratamento da questão ambiental?
Fiquei em Pequim por dez dias em 2007; não era época de chuvas, mas o céu era branco, de dia e de noite, por causa da poluição. Tinha a história de que iam parar a indústria na região metropolitana de Pequim para limpar o ar antes das Olimpíadas. Perguntas que a gente sempre se faz são: quais são os limites para o desenvolvimento da China? Por quanto tempo eles vão conseguir continuar crescendo nessa velocidade? Na história, temos outros exemplos de crescimento acelerado. O Japão saiu do pós-guerra arrasado e em 40 anos era a segunda economia do mundo. A Coreia teve trajetória bem-sucedida, e a Alemanha no século 19. O que é diferente na China, comparando com o Japão, é a escala. O Japão não se compara em população e em território. O caso da China é como o de um caminhão enorme em alta velocidade.

É difícil fazer prognósticos...
Uma questão é por quanto mais tempo a China vai continuar tomando mercado dos outros. Até para a China vender, os outros países precisarão ter economia pujante. Mas ainda tem muita gente para incorporar, para entrar no mercado, a África inteira, por exemplo.

E a China está investindo para criar mercado interno na África.
Há muito investimento chinês na África, na mesma lógica do investimento aqui. São países de recurso natural abundante, potenciais fornecedores para a China. A lógica da China com a África é aquela de Portugal com o Brasil colônia. Investe em enclaves muito específicos para fornecimento de produto primário agrícola e mineral. Isso é muito claro. E se há o limite de capacidade de exportação, há uma janela formada pelo mercado interno chinês. Como metade da população ainda é excluída, há muito espaço para crescer explorando a expansão do mercado interno. Mão de obra abundante eles têm, para a indústria continuar crescendo. Aí vem a questão ambiental. Eu costumo dizer que dentre todos os fatores que podem limitar o crescimento da China, talvez o que se manifeste primeiro seja o ambiental. É um palpite. E esse discurso de sustentabilidade que eles começam a adotar pode ser indício de que esse palpite não está errado.

Parece que o país alia a necessidade de mudar a imagem com uma necessidade concreta de mudar a postura.
E isso também serve para resolver determinados problemas na OMC, porque um dos problemas que justificam retaliação são questões ambientais. Em linhas gerais a OMC sempre promove rodadas de liberalização comercial, mas tem sempre válvulas de escape. Uma delas é a agressão ao ambiente, outra é a fitossanitária (como doenças num rebanho), trabalho infantil, trabalho escravo. Enfim, fatores não estritamente econômicos.

Direitos humanos já entraram nessa relação?
Não sei se entra direitos humanos, entram as formas de contratação que não são aceitáveis, e que são parte de direitos humanos, mas talvez ainda não entre a questão da democracia. Pode ser então que parte desse discurso da China seja para livrar a cara na OMC. É um assunto novo, precisamos continuar acompanhando...

Há tendência de se criarem novos centros urbanos na China com o crescimento nesse ritmo, já que seria complicado deixar crescerem demais os centros que já existem?
Mas eles estão crescendo. É impressionante a quantidade de cidades muito grandes. São dezenas delas. Mas eles têm duas possibilidades: uma é criar cidades novas, a outra é estimular o crescimento em centros urbanos que ainda não chegaram ao tamanho de Pequim, Shangai. É característica do desenvolvimento industrial a aglomeração em centros urbanos. Mas essa aglomeração, a partir de um certo tamanho, pode realmente gerar problemas, ser contraproducente.

Voltando à relação com o Brasil, como está agora a questão das commodities versus produtos manufaturados?
A expansão chinesa gera duas consequências, uma positiva e uma negativa. A negativa é para quem tem que concorrer contra eles. Por exemplo, a invasão de produtos chineses no mercado brasileiro. Há setores da indústria brasileira que estão com a corda no pescoço por não conseguir concorrer com a China. A indústria têxtil, por exemplo, se sobrou alguma coisa não se compara ao que ela já foi. E várias outras. O impacto positivo da expansão chinesa é que se pode vender para a China. Aí entra todo mundo que produz bem primário. Porque a China também importa bens de alta tecnologia, mas bens primários ela só importa. Para quem produz bens primários a China não representa problema nenhum, pelo contrário. Ela complementa. A China entrou comprando grandes quantidades de minério, café, soja, algodão, níquel, zinco, o preço dessas coisas entrou em trajetória de alta. O preço dos alimentos inclusive. As exportações brasileiras nos anos 2000 bateram recordes, um atrás do outro, mesmo com câmbio desfavorável. Essa situação foi alimentada em grande medida pelo crescimento da participação chinesa nas exportações brasileiras, baseada 90% em bens primários.

Seus estudos têm a ver com essas diferenças dentro do Brasil, não?
Nós temos estudado aqui, e a economia regional é um dos pontos fortes da Economia na UFMG, como as coisas são diferentes entre estados e entre regiões. Os produtos de exportação de São Paulo, que é o maior parque industrial brasileiro, têm muito mais sobreposição com os produtos de exportação da China. Isso tem duas consequências: a dificuldade das empresas brasileiras de exportar, porque começam a perder mercado lá fora para os chineses, e a dificuldade de sustentar seu próprio mercado aqui dentro. Então, quem mais sofre com a China são os estados mais industrializados, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná. Mais o Amazonas, por causa da Zona Franca, e alguns setores em Minas e na Bahia. Minas exporta 40% de sua pauta em ferro, e quase tudo é para a China. No Rio de Janeiro, a exportação industrial é pífia, 80% é petróleo, Pará é minério, Mato Grosso é soja.

Essa lógica parece cruel, porque para se “associar” à China, o Brasil precisa exportar sempre mais soja e minério. Aumenta a pressão sobre a floresta...
Esse é o nó. A expansão chinesa sobre a economia mundial é fato, não dá pra fingir que não existe. Tem como o Brasil se beneficiar disso, mas em geral isso implica em uma estratégia de desenvolvimento que pode não ser a mais adequada. Se olharmos a trajetória dos países desenvolvidos, eles fizeram a transição de uma economia primário-exportadora para uma economia industrial. São os casos de Estados Unidos, Alemanha e Japão. Será que o Brasil vai seguir um estilo de desenvolvimento inverso? Há quem goste de dizer que isso é possível e dá o exemplo da Austrália, país grande e fortíssimo em produtos agrícolas e minerais. Ou do Chile, que exporta cobre, peixe, frutas. O problema de comparar o Brasil com a Austrália é que a população da Austrália é de menos de 30 milhões, e o Brasil tem 200 milhões de habitantes. Significa que, enquanto na Austrália é preciso gerar emprego para 15 milhões, no Brasil é para muito mais. E não se gera emprego para 100 milhões exportando soja e minério, porque são atividades altamente intensivas em capital. Basta um homem operando a colheitadeira de soja para exportar muito. E para exportar cada vez mais tem que mecanizar mais.

O Brasil estava começando a pensar em fazer essa transição...
Até os anos 80, foi um período de industrialização no Brasil. Nos anos 90 houve uma regressão, do ponto de vista da presença da indústria no PIB. Chegou a 40% do PIB nos anos 80, foi caindo e hoje está em cerca de 27%. Os anos 90 foram cruéis para a indústria. A gente abriu muito a economia, e aumentou muito a concorrência do produto estrangeiro, e isso foi proposital. A abertura comercial foi rápida, e vários setores foram pegos de calça curta, mas essa abertura aconteceu junto com um câmbio que era desfavorável (as importações ficavam muito baratas), uma carga tributária alta, taxa de juros alta, mão de obra pouco qualificada, infraestrutura de energia e logística ruim e cara. Depois, o governo do Fernando Henrique foi na época em que o liberalismo estava na moda, defendia-se abertura da economia porque isso tornaria as empresas brasileiras eficientes. Hoje em dia a postura do governo não é a mesma. Com todas essas medidas de proteção da indústria o governo sinaliza claramente que ele não quer seguir nessa estratégia primário-exportadora, que seria natural se for levada em consideração nossa parceria com a China. Do ponto de vista de nossa relação com a China, o que estimula é intensificar relação baseada na exportação de produtos primários, com o custo ambiental que isso implica.

E aí voltamos a falar de Minas Gerais...
Uma das nossas preocupações, aqui no Cedeplar, no que se refere à China, é com a regionalização dos efeitos. Como o Brasil é muito grande e heterogêneo, os impactos da China são heterogêneos. Obedecem às diferenças de nossa estrutura produtiva do ponto de vista regional. Tem regiões mais industrializadas com mais dificuldades com a presença chinesa, cobrando do governo, como é o caso da Fiesp. Elas gritam primeiro contra a invasão chinesa porque são de fato as que diretamente vão ser prejudicadas. Por outro lado, estados como Minas, Mato Grosso e Pará estão se beneficiando, em um primeiro momento, do crescimento da China. É claro que isso tem um preço. A questão da mineração em Minas tem problemas. De novo, há mais de uma posição: tem aqueles que defendem isso em nome do desenvolvimento e aqueles mais preservacionistas. É inegável que gera emprego, produção, arrecadação de impostos. Mas intensificar esse tipo de modelo gera problemas ambientais, e podemos estar dispostos a sofrê-los ou não.

E qual a importância de entender de forma mais profunda essas diferenças regionais?
Isso permite desenhar políticas específicas para cada região. A preocupação deve ser com proteger determinado setor, em determinada região. Os efeitos, para o bem e para o mal, vão ocorrer nas regiões específicas. Se a produção de aparelhos de televisão está com problemas por causa da concorrência chinesa, significa, por exemplo, que mil trabalhadores vão ficar sem emprego na Zona Franca de Manaus e duas ou três indústrias vão fechar. Se temos um retrato mais preciso desses efeitos é possível desenhar políticas de incentivo ou de proteção, que vão contrabalançar efeitos negativos. A abordagem de políticas de incentivo poderá ser mais calibrada. Os dados de exportação estão bem detalhados, para cada estado, cada setor, assim como os dados do PIB, por estado e município. Um dos aspectos que acabei de pesquisar é que depois da crise de 2008 a gente teve uma recessão, com queda grande das exportações em quase todos os estados, mas dá para perceber que aqueles que exportam mais matéria-prima foram os que recuperaram mais rápido as exportações depois da crise. Isto porque a China não teve recessão séria, não parou como os Estados Unidos.

Como vê, então, esse catastrofismo em que algumas pessoas investem sobre os efeitos da presença China?
A presença da China na economia, independentemente de isso ser verbalizado de maneira mais ou menos sensacionalista, é um fato novo, de 15 anos para cá, um episódio que não tem antecedente histórico, não com essa escala, e tem impacto que pode ser muito ruim para muita gente. Além disso, pelo menos por enquanto não está no horizonte um esgotamento dessa trajetória. Não acho que esteja prestes a murchar o crescimento da China, como aconteceu com o Japão, que há 20 anos está estagnado. É comum essa estabilização, mas no caso da China não parece que está por estabilizar. Mesmo porque, se as exportações chinesas começarem a fraquejar, eles ainda têm o mercado interno com muito espaço para crescer. Parte desse sensacionalismo é verdade, parte não é. Quanto à mão de obra barata, eles têm uma legislação trabalhista superprecária, os trabalhadores atuam em condições mais inadequadas que nos países de primeiro mundo e mesmo no Brasil, o que barateia custos, eles realmente têm uma legislação ambiental muito frouxa, o que também reduz custos, mas eles de fato têm muita produtividade, porque produzem em larguíssima escala e absorvem muita tecnologia, e têm políticas industriais agressivas para beneficiar esse tipo de produção e de exportação.

De fato existe a questão da falta de ética, de ferir direitos trabalhistas e ambientais, mas isso não é a história inteira. Tem uma parte lícita, e eles fazem com força e com foco muito bem direcionado, o governo tem um peso muito grande, centraliza e impõe. A China está tirando muita gente da pobreza, a renda per capita está subindo muito. Está havendo uma piora da distribuição de renda, mas isso é comum, aconteceu no Brasil. Com relação às consequências para a economia mundial, é difícil prever porque o crescimento da China gera barreiras políticas, vai depender muito também de quanto a China está disposta a ficar trombando de frente para continuar conquistando mais mercado e quanto ela terá que ceder. Mas os efeitos para o bem e para o mal estão colocados, muito claros ao longo dos últimos 10 anos. A questão é saber se nos próximos 10, 20, 30 anos a dinâmica vai ser a mesma e o que vai mudar nessa configuração.

(Itamar Rigueira Jr.)

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