O Festival de Inverno da UFMG busca, nesta edição, promover o diálogo entre saberes acadêmicos e populares, aproximando as atividades da população de Diamantina, que se inscreve nos grupos de trabalho não apenas para aprender, mas para trocar conhecimentos. Os professores envolvidos no processo já descobriram o valor da sabedoria trazida por cada participante para o funcionamento harmônico dos grupos. O Festival está sendo produzido por uma equipe de professores que têm se dedicado a conhecer a cidade hospedeira. Eles visitaram todas as escolas estaduais de Diamantina, e procuraram estabelecer, desde dezembro do ano passado, um diálogo aberto com os moradores da cidade, de forma a pensar juntos a melhor maneira de fazer o festival. A primeira instituição de ensino a receber a visita dos coordenadores foi a Escola Estadual Professora Gabriela Neves, situada no Bairro da Palha, na periferia de Diamantina. A simpatia que o local inspirava e a receptividade de seus moradores levaram-no a ser eleito como sede da Casa da Palavra. O Colégio abrigava estúdio de rádio e sistema de som para veicular o conteúdo produzido em seu pátio. Entretanto, o projeto não foi adiante, já que a comunidade da escola não dispunha de conhecimento para fazer com que a rádio funcionasse. Diante dessa situação, e com a necessidade de criar vínculos com os moradores e com o lugar, os organizadores decidiram, em conjunto com a Rádio Educativa UFMG, apoiar a iniciativa. Show de calouros “Conversava com as pessoas e elas diziam que o Festival era um evento do centro histórico, voltado apenas para as pessoas de lá e para a Universidade", afirmou Luciana de Oliveira, uma das coordenadoras da casa. “Algo estava errado, não deveria ser assim; no Festival não pode existir separação entre acadêmico e não acadêmico, rico e pobre, criança e adulto. O Festival deve ser feito para todos e por todos, é isso o que nós chamamos de bem comum” concluiu. Os moradores do Bairro da Palha já estão inseridos na dinâmica das atividades diárias. Elcilene Golçalves, 43 anos, cozinheira da Escola Estadual Professora Gabriela Neves, trabalha agora na cozinha da Casa da Palavra. Ela conta que costumava participar das oficinas do evento, e agora se preocupa em inscrever seu filho nos grupos de trabalho, “Adorava o Festival, e quero que meu filho vivencie isso também” disse, empolgada. Mutirão Dentro da ótica do bem comum, surgiu a ideia de um mutirão para transformar a quadra em uma praça pública multifuncional. A intervenção urbana, que acontece durante o período do Festival, é organizada pela Casa da Cidade, em um trabalho em comum dos moradores, lideranças locais, poder público e participantes.
Promoveram, para inauguração da rádio, uma edição do programa Elias Sunshine, um concurso de calouros apresentado pelo coordenador emissora, Elias Santos. A iniciativa foi um sucesso, envolveu a comunidade local e, em meio a brincadeiras e competições, estimulou o interesse dos alunos pelas produções midiáticas. A partir de então, o Bairro da Palha e o Festival de Inverno da UFMG estavam indissoluvelmente ligados.
Inúmeras são as histórias contadas sobre a relação entre os moradores e o Festival, que há anos muda a vida da cidade durante os dias de sua programação. O estudante Marcos Nascimento, 16 anos, nunca havia participado. “Sempre quis me inscrever, mas as oficinas costumavam chegar já com muitas vagas preenchidas” argumentou. Ele diz que se interessa por cinema e que nunca teve a oportunidade de travar contato com esse tipo de produção. Morador do Bairro da Palha, está inscrito no grupo de trabalho Produção Audiovisual, juventude e cidadania, e passará as férias frequentando os encontros.
Foi também durante a primeira ida ao Colégio que os professores conheceram a quadra do bairro. Cercada de entulho e com as traves posicionadas no lugar errado (nas linhas verticais), a quadra improvisada reúne crianças e jovens durante todo o dia para jogar futebol. Os coordenadores, que também entraram em campo nessa visita, começaram a pensar em como reformar o local.